quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Nossas mães africanas


Eis aqui a escrava do Senhor, cumpra-se em mim segundo a sua palavra.
Esta é a forma com a qual Maria, a mãe de Jesus, responde ao mensageiro celeste que lhe vem anunciar a concepção da criança.
Estranho se posicionar como escrava quem foi escolhida para ser a excelsa mãe de Jesus. Basta uma pequena reflexão, no entanto, para verificarmos como a expressão está adequada.
Recordamos de tantas escravas, ao longo da História, que se transformaram em auxiliares indispensáveis dos seus senhores.
Escravas cujos nomes acabaram associados aos seus próprios senhores.
No Brasil, lembramos das escravas africanas que serviram ao homem branco. Muitas delas não somente carregaram o sinhozinho nos braços mas o alimentaram com o próprio seio.
Tornaram-se suas segundas mães, acompanhando-os mesmo depois de crescidos, na formação do novo lar, a atender-lhes os filhos, como uma avó.
Avó de cor. Avó de amor.
Amas de leite que, por vezes, tinham seu próprio rebento afastado dos braços, a fim de que sobrasse mais alimento dos seus seios para o filho branco.
E, por não terem o seu bebê nos braços, por terem a saudade a lhes magoar a alma, por sentirem falta do seu filhinho, drasticamente afastado de seu carinho, dedicavam-se ao filho da alheia carne.
O filho do sinhô, o filho da sinhá.
Quem poderá esquecer como essas mães alimentaram, não somente o corpo, mas a imaginação e a mente das crianças sob sua guarda?
Quantas histórias das suas longínquas terras, das tradições de sua gente povoaram as noites daqueles meninos e meninas atentos, ao redor do fogo, no terreiro...
Ou no aconchego da casa grande, ao pé do fogão.
Quantos mingaus, cozidos, temperos foram acrescentados ao cardápio diário.
Aprendendo a língua de quem as tinha sob seus serviços, introduziram palavras diferentes no vocabulário dos pequenos.
E para os acalmar, nas noites de medo, elas cantavam as melodias com que foram elas próprias acalentadas em sua infância.
E, enquanto a saudade as consumia intimamente, também lembravam em versos das riquezas de sua terra natal, de melodias, de danças, de cantorias.
Recordavam dos dias de alegria, quando a liberdade lhes sorria e o futuro era sonhado, nas tardes quentes e nas noites mornas.
Escravas mães. Mães escravas.
Benditas sejam por todos os cuidados dispensados ao homem branco, por sua capacidade de amar o filho alheio.
Benditas sejam por sua grandeza, por sua dedicação, pela contribuição à cultura do povo que as escravizou.
Que nunca esqueçamos o quanto devemos a essas criaturas pois se a escravidão as mantinha presas a tarefas determinadas, foi de forma voluntária que entregaram em holocausto ao amor o próprio coração.

Redação do Momento Espírita.
Em 30.11.2011.

Autoperdão e ação responsável



Suponhamos que a cada reencarnação recebemos do Criador um canteiro com uma terra muito fértil, para plantar flores, durante toda nossa vida.

Nascemos com as sementes das flores mas, ao invés de plantá-las, arranjamos sementes de espinhos e as semeamos, enchendo nosso canteiro de espinheiros.

vamos plantando os nossos espinhos, até o dia em que olhamos para trás e percebemos um grande espinheiro.

Então, podemos ter três atitudes diferentes:

Se cultivamos o culpismo, devido ao remorso de não ter plantado as flores que deveríamos, simplesmente nos condenamos a deitar e rolar no espinheiro para nos punirmos, tentando aliviar a consciência de culpa.

Se somos pessoas que cultivamos o desculpismo, começamos a dizer que foi o vento que trouxe as sementes de espinhos,que não temos nada a ver com isso, etc.

Finalmente, se buscamos a ação responsável, ao perceber o espinheiro, assumimos tê-lo plantado e arrependemo-nos do fato.

Depois, percebemos que as sementes das flores continuam em nossas mãos e que podemos começar a plantá-las, agora que estamos mais conscientes.

Ao mesmo tempo sabemos que devemos retirar, um a um, todos os espinhos plantados e plantar uma flor no seu lugar.

*   *   *
Reflitamos sobre as três atitudes:

De que adianta cravar os espinhos plantados na própria carne? Por que aumentar o sofrimento?

Por acaso os espinhos diminuem quando agimos assim? A verdade é que não. De nada adianta. Este é o mecanismo dos que nos afundamos na culpa e deixamos que ela comande nossas vidas.

Substituir os atos de desamor praticados à vida com mais desamor ainda para conosco mesmos não resolve e não cura.

Por outro lado, pensando naqueles que ainda conseguimos achar desculpa para todo e qualquer desatino, por mais absurdo que ele pareça, veremos:

Os que fingimos que o espinheiro não tem nada a ver conosco, apenas estamos postergando o despertar da consciência.

Agindo assim, muitas vezes continuamos plantando mais e mais espinhos, fazendo com que o estrago fique cada vez maior.

O hábito de sempre encontrar desculpas e justificativas para todas nossas ações tem caráter doentio e precisa de atenção imediata de nossa parte.

O ego, em fuga desastrosa, procura justificar os erros mediante aparentes motivos justos. Tal costume degenera todo senso moral e pode nos levar a desequilíbrios psicológicos seríssimos.

Apenas a última opção, a da ação responsável, é caminho seguro.

É uma atitude proativa, pois ao assumir a responsabilidade pelos espinhos plantados, arrependemo-nos e buscamos substituí-los pelas flores.

Nesse ato cobrimos a multidão de pecados, conforme o ensino da Epístola de Pedro, referindo-se ao poder de cura do amor.

Assim crescemos, aprendemos e ressarcimos à Lei maior.

***
Sempre que cometermos erros, procuremos nos autoperdoar, atendendo à proposta da ação responsável, que troca o peso da culpa pela carga educativa da responsabilidade.

Redação do Momento Espírita com base no cap. 3 da obra Psicoterapia à luz do Evangelho de Jesus, de Alírio de Cerqueira Filho, ed. Ebm. – 29.11.2011

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A mais preciosa herança





Todos os pais, aqueles que são responsáveis, aqueles que assumiram, realmente, o suporte de uma família, eles pensam em deixar para os filhos uma herança, um pecúlio. Para isso eles trabalham incessantemente, com o objetivo de ver em segurança a sua prole. Mas, existe uma herança muito mais preciosa de que bens materiais: a herança do exemplo, a herança moral, a herança da dignidade. Mesmo que os filhos, por circunstâncias naturais da vida, se apartem daquele caminho que lhes foi ensinado e exemplificado, a semente ali está e vicejará. Principalmente quando existe o suporte dos valores da religião, do respeito a Deus e às criaturas, que, na verdade, é a sustentação maior para todos que vivem nas suas experiências carnais.

Quase sempre os pais se preocupam com o colégio do filho, com a freqüência do filho às aulas, como o seu rendimento escolar e deixam em segundo plano aquilo que é importante para eles, que seria, também, a educação religiosa, seja que religião for. A religião é sempre um freio, uma responsabilidade, um compromisso assumido com Deus.

É preciso, desde cedo, começar a implantar nos corações dos filhos uma crença. Para que eles possam crer neles e nos seus semelhantes, é preciso que tenham uma crença superior. Se chegar a juventude, a maturidade e esses filhos se afastarem dessa senda cristã, podem ter certeza de que será por algum tempo, não de forma definitiva. Porque a semente vai vicejar, vai cair no solo dessa alma e vai dar frutos. Pode demorar, mas, na verdade, a responsabilidade de todos nós é semear.

Cada um é dono do seu espaço de colheita pessoal, esse terreno da alma. Todos jogam sobre nós sementes boas e más, ela vicejam de acordo com a preparação do nosso solo da alma. Nós temos que extirpar aquilo que é ruim, pernicioso, para, realmente, deixar o que é bom e produtivo. Isso, as vezes, leva tempo, mesmo porque, vocês que estão no plano terreno, estão envoltos em forças magnéticas muito pesadas, vivendo em ambientes, os mais diferentes, os mais heterogêneos.

Então, vocês realmente sofrem as influências de inteligências intrusas, sofrem perseguições de entidades de vidas pretéritas, sofrem o momentâneo desequilíbrio de seres que foram até afeiçoados a vocês, mas que, passando para o plano espiritual, passaram por aquela situação vibracional, que é inerente a todos os espíritos que desencarnam. Essa momentânea perturbação, não existe nenhum espírito que não passe por ela, uns com mais intensidade, outros com menos, dependendo de como viveram, de como era o gênio, o comportamento, a vida dessa pessoa.

O simples fato de desencarnarmos não nos torna pessoas angelicais e, muito menos, nós dá maior mérito pelo simples fato de termos deixado a vida carnal. Nós continuamos sendo o que somos, amando ou desamando, equilibrados ou desequilibrados, com uma gama de sentimentos, às vezes, agravados pela convivência com entidades que estão desencarnadas e que, às vezes, durante o decorrer de toda uma existência foram nossos associados em ações menos felizes ou em ações felizes. As companhias que teremos no plano espiritual serão Por isso, é importante se viver bem. Porque aquilo que vocês fizeram na Terra vocês encontrarão no plano espiritual, como uma conseqüência natural dos seus atos. Quem vive bem na Terra, dentro dos padrões morais, tem o respeito da comunidade em que vive. Quem vive desrespeitando a lei e vivendo em desatinos, terá a reprovação coletiva da comunidade em que vive. Assim também é no plano espiritual. Assim como você vive, assim será a sua vida no plano do além.

 Autor: Bezerra de Menezes
Psicografia de Shyrlene Soares Campos

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A palavra que faltava


Havia uma mulher que amava as palavras. Desde a meninice, elas exerciam sobre ela um grande fascínio.

Talvez por isso ela tenha aprendido a ler muito cedo. Desejava decifrar aqueles sinais que preenchiam as páginas do jornal.

Gostava de apreciar a sonoridade das palavras. Umas suaves, outras mais agressivas. E de aprender o significado de cada uma delas.
Encantava-se em saber que as palavras têm o poder de representar o pensamento humano e estabelecer a comunicação entre as pessoas.

Descobriu que existem palavras doces e perfumadas, como flor, carinho, amizade, maçã. Outras, tristes e angustiantes como lágrima, distância, saudade. Algumas dolorosas como crime, fome, abandono, guerra.

Algumas alegres e descontraídas, como primavera, natureza, criança.
Verificou que existem palavras que soam como uma sentença de morte, como câncer. Dá para imaginar o impacto que esse vocábulo é capaz de causar nos ouvidos de quem a ouve?

Um dia, no entanto, ela ouviu dos lábios do médico que acabara de examinar com muito cuidado uns raios-x, esta palavra e a achou muito feia.

Num momento, a paisagem se modificou, pareceu-lhe não haver mais luz, embora ainda fosse dia. O sangue lhe sumiu das faces, dando lugar a um suor gélido.

O coração tentou fugir a galope. Ela se lembrou de que, tempos atrás, fora convocada para uma batalha pela vida. Agora, outra vez lhe competia empreender a luta pela vida.

Fruto da ignorância, o medo, sempre oportunista, se instalou e a insegurança a dominou. O especialista foi lhe afirmando que havia muitas chances de melhora, graças às mais recentes conquistas da medicina.

Mas ela nem conseguia mais prestar atenção. A voz do médico parecia distante. O cérebro dela desenhava paisagens sombrias, comprometendo o equilíbrio.

De volta ao lar, um tanto mais calma, talvez inspirada por benfeitores invisíveis, ela se lembrou de orar. Preparou sua alma para entrar em contato com Jesus e lhe rogar as forças necessárias.

Enquanto orava, pareceu ver o azul do firmamento, num cair de tarde, começando a salpicar de estrelas. Dele se destacou uma luz radiante, abrangendo todo o espaço ao seu redor.

Alguém, de olhar sereno e sorriso cativante lhe estendeu os braços. 
Caminhou em sua direção e um delicado perfume a envolveu.

Ela se sentiu aconchegar de encontro ao peito daquela criatura tão serena, como se fosse uma criança amedrontada.

Uma nova energia invadiu todo o seu ser e, então, como um canto divino ela ouviu dentro d’alma a voz melodiosa do mensageiro:

Filha, por que choras? Entre todas as palavras que admiras, esqueceste a mais importante, a mais poderosa.

Ela se atreveu a perguntar: e que palavra eu esqueci, Senhor?

Ele se afastou um pouco, tomou o rosto dela entre suas mãos e olhando-a com doce ternura, respondeu: a palavra é fé!
                                             
***

Fé é a mola propulsora que permite superar óbices e vencer obstáculos.

Fé é força motriz da alma que, assim alimentada, vence os percalços e avança, vitoriosa.

Por esta razão é que o Mestre de Nazaré ensinou, um dia: se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a esta montanha: move-te daqui para lá e ela se moverá.

E a montanha que todos precisamos mover para avançar na estrada da vida, chama-se dificuldade.

Pense nisso.
Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no texto Xô, palavra feia!, de autoria de Rute Villas Boas.