Grandes Vultos do Espiritismo


1-Dr.Guilherme Taylor March
2-Eurípede Barsanulfo

***
2-EURÍPEDES BARSANULFO
Grandes Vultos do Espiritismo
Nascido em 1º. de maio de 1880, na pequena cidade de Sacramento, Estado de Minas Gerais, e desencarnado na mesmo cidade, aos 38 anos de idade, em 1o. de novembro de 1918.
Logo cedo manifestou- se nele profunda inteligência e senso de responsabilidade, acervo conquistado naturalmente nas experiências de vidas pretéritas.
Era ainda bem moço, porém muito estudioso e com tendências para o ensino, por isso foi incumbido pelo seu mestre- escola de ensinar aos próprios companheiros de aula. Respeitável representante político de sua comunidade, tornou- se secretário da Irmandade de São Vicente de Paula, tendo participado ativamente da fundação do jornal "Gazeta de Sacramento" e do "Liceu Sacramentano". Logo viu- se guindado à posição natural de líder, por sua segura orientação quanto aos verdadeiros valores da vida.
Através de informações prestadas por um dos seus tios, tomou conhecimento da existência dos fenômenos espíritas e das obras da Codificação Kardequiana. Diante dos fatos voltou totalmente suas atividades para a nova Doutrina, pesquisando por todos os meios e maneiras, até desfazer totalmente suas dúvidas.
Despertado e convicto, converteu- se sem delongas e sem esmorecimentos, identificando-se plenamente com os novos ideais, numa atitude sincera e própria de sua personalidade, procurou o vigário da Igreja matriz onde prestava sua colaboração, colocando à disposição do mesmo o cargo de secretário da Irmandade.
Repercutiu estrondosamente tal acontecimento entre os habitantes da cidade e entre membros de sua própria família. Em poucos dias começou a sofrer as conseqüências de sua atitude incompreendida.
Persistiu lecionando e entre as matérias incluiu o ensino do Espiritismo, provocando reação em muitas pessoas da cidade, sendo procurado pelos pais dos alunos, que chegaram a oferecer- lhe dinheiro para que voltasse atrás quanto à nova matéria e, ante sua recusa, os alunos foram retirados um a um.
Sob pressões de toda ordem e impiedosas perseguições, Eurípedes sofreu forte traumatismo, retirando- se para tratamento e recuperação em uma cidade vizinha, época em que nele desabrocharam várias faculdades mediúnicas, em especial a de cura, despertando- o para a vida missionária. Um dos primeiros casos de cura ocorreu justamente com sua própria mãe que, restabelecida, se tornou valiosa assessora em seus trabalhos.
A produção de vários fenômenos fez com que fossem atraídas para Sacramento centenas de pessoas de outras paragens, abrigando- se nos hotéis e pensões, e até mesmo em casas de famílias, pois a todos Barsanulfo atendia e ninguém saía sem algum proveito, no mínimo o lenitivo da fé e a esperança renovada e, quando merecido, o benefício da cura, através de bondosos Benfeitores Espirituais.
Auxiliava a todos, sem distinção de classe, credo ou cor e, onde se fizesse necessária a sua presença, lá estava ele, houvesse ou não condições materiais.
Jamais esmorecia e, humildemente, seguia seu caminho cheio de percalços, porém animado do mais vivo idealismo. Logo sentiu a necessidade de divulgar o Espiritismo, aumentando o número dos seus seguidores. Para isso fundou o "Grupo Espírita Esperança e Caridade", no ano de 1905, tarefa na qual foi apoiado pelos seus irmãos e alguns amigos, passando a desenvolver trabalhos interessantes, tanto no campo doutrinário, como nas atividades de assistência social.
Certa ocasião caiu em transe em meio dos alunos, no decorrer de uma aula. Voltando a si, descreveu a reunião havida em Versailles, França, logo após a I Guerra Mundial, dando os nomes dos participantes e a hora exata da reunião quando foi assinado o célebre tratado.
Em 1o. de abril de 1907, fundou o Colégio Allan Kardec, que se tornou verdadeiro marco no campo do ensino. Esse instituto de ensino passou a ser conhecido em todo o Brasil, tendo funcionado ininterruptamente desde a sua inauguração, com a média de 100 a 200 alunos, até o dia 18 de outubro, quando foi obrigado a cerrar suas portas por algum tempo, devido à grande epidemia de gripe espanhola que assolou nosso país.
Seu trabalho ficou tão conhecido que, ao abrirem- se as inscrições para matrículas, as mesmas se encerravam no mesmo dia, tal a procura de alunos, obrigando um colégio da mesma região, dirigido por freiras da Ordem de S. Francisco, a encerrar suas atividades por falta de freqüentadores.
Liderado a pulso forte, com diretriz segura, robustecia- se o movimento espírita na região e esse fato incomodava sobremaneira o clero católico, passando este, inicialmente de forma velada e logo após, declaradamente, a desenvolver uma campanha difamatória envolvendo o digno missionário e a doutrina de libertação, que foi galhardamente defendida por Eurípedes, através das colunas do jornal "Alavanca", discorrendo principalmente sobre o tema: "Deus não é Jesus e Jesus não é Deus", com argumentação abalizada e incontestável, determinando fragorosa derrota dos seus opositores que, diante de um gigante que não conhecia esmorecimento na luta, mandaram vir de Campinas, Estado de S. Paulo, o reverendo Feliciano Yague, famoso por suas pregações e conhecimentos, convencidos de que com suas argumentações e convicções infringiriam o golpe derradeiro no Espiritismo.
Foi assim que o referido padre desafiou Eurípedes para uma polêmica em praça pública, aceita e combinada em termos que foi respeitada pelo conhecido apóstolo do bem.
No dia marcado o padre iniciou suas observações, insultando o Espiritismo e os espíritas, "doutrina do demônio e seus adeptos, loucos passíveis das penas eternas", numa demonstração de falso zelo religioso, dando assim testemunho público do ódio, mostrando sua alma repleta de intolerância e de sectarismo.
A multidão que se mantinha respeitosa e confiante na réplica do defensor do Espiritismo, antevia a derrota dos ofensores, pela própria fragilidade dos seus argumentos vazios e inconsistentes.
O missionário sublime, aguardou serenamente sua oportunidade, iniciando sua parte com uma prece sincera, humilde e bela, implorando paz e tranqüilidade para uns e luz para outros, tornando o ambiente propício para inspiração e assistência do plano maior e em seguida iniciou a defesa dos princípios nos quais se alicerçavam seus ensinamentos.
Com delicadeza, com lógica, dando vazão à sua inteligência, descortinou os desvirtuamentos doutrinários apregoados pelo Reverendo, reduzindo-o à insignificância dos seus parcos conhecimentos, corroborado pela manifestação alegre e ruidosa da multidão que desde o princípio confiou naquele que facilmente demonstrava a lógica dos ensinos apregoados pelo Espiritismo.
Ao terminar a famosa polêmica e reconhecendo o estado de alma do Reverendo, Eurípedes aproximou-se dele e abraçou- o fraterna e sinceramente, como sinceros eram seus pensamentos e suas atitudes.
Barsanulfo seguiu com dedicação as máximas de Jesus Cristo até o último instante de sua vida terrena, por ocasião da pavorosa epidemia de gripe que assolou o mundo em 1918, ceifando vidas, espalhando lágrimas e aflição, redobrando o trabalho do grande missionário, que a previra muito antes de invadir o continente americano, sempre falando na gravidade da situação que ela acarretaria.
Manifestada em nosso continente, veio encontrá-lo à cabeceira de seus enfermos, auxiliando centenas de famílias pobres. Havia chegado ao término de sua missão terrena. Esgotado pelo esforço despendido, desencarnou no dia 1o. de novembro de 1918, às 18 horas, rodeado de parentes, amigos e discípulos.
Sacramento em peso, em verdadeira romaria, acompanhou- lhe o corpo material até a sepultura, sentindo que ele ressurgia para uma vida mais elevada e mais sublime.
***
1-DR. GUILHERME TAYLOR MARCH
Grandes Vultos do Espiritismo
Nascido no planalto da Serra dos Órgãos, atualmente cidade de Teresópolis, no Estado do Rio de Janeiro, no dia 21 de agosto de 1838, e desencarnado na cidade de Niterói no mesmo Estado, no dia 21 de junho de 1922.
Era filho de George March, cidadão nascido e criado em Portugal, mas inglês por direito diplomático, e de Da. Ignácia March, de nacionalidade brasileira.
George March havia adquirido, antes de 1821, uma gleba de mais de 170 milhões de metros quadrados de terra, que destinou à agricultura e à criação de cavalos de raça. Essa enorme Fazenda que primitivamente se chamava Fazenda dos Órgãos, passou a ser denominada Fazenda do March. A atual cidade de Teresópolis, no Estado do Rio de Janeiro, foi construída dentro de seus limites.
Com a desencarnação de seu pai, Guilherme Taylor March, que nessa época tinha apenas 12 anos de idade, foi confiado a um tutor nomeado pela Justiça, o qual despendeu enormes quantias para que o jovem alcançasse aprimorada cultura, matriculando- o em vários colégios e posteriormente na Faculdade de Medicina da Corte, onde recebeu seu diploma de médico no dia 30 de novembro de 1859.
O seu tutor foi demasiadamente pródigo no trato de seus bens, não administrou suas propriedades e depósitos bancários com a devida precaução, fazendo com que Guilherme March ficasse arruinado de bens materiais.
Tendo sido acometido de varíola e, vivendo numa habitação coletiva, teria que ser removido para um hospital, entretanto, uma senhora espírita tratou- o com remédios homeopáticos, fazendo com que ele se restabelecesse, sem sequer ficar marcado pelas cicatrizes deformantes que as pústulas produzem. Esse fato fez com que Guilherme March se tornasse apologista da ciência de Hahnemann, passando a praticar essa terapêutica até a data da sua desencarnação.
Observando os exemplos vivos propiciados pela sua hospedeira e por um velho espírita chamado Nascimento, que curava muita gente através da homeopatia e da sua mediunidade, mudou de modo de pensar. Viu que o verdadeiro Deus era diferente daquele que lhe mostraram no Colégio. Os exemplos vividos por ambos fizeram com que se interessasse pelo estudo das obras básicas de Allan Kardec, pois era muito culto, estudioso e poliglota.
Sua conversão foi comprovada pelo seu filho Edmundo March, em carta datada de 22 de setembro de 1940, onde dizia: "Não fazendo alarde de sua crença, não a negava em absoluto. Educado como geralmente todos os do seu tempo, na religião católica, procurou, depois de emancipado, conhecer a Doutrina de Kardec e, tendo encontrado nela a melhor forma de Cristianismo, adotou- a".
O Dr. March manteve relações cordiais com muitos vultos conhecidos do Espiritismo daquela época, dentre eles os Drs. Faria Júnior, Filgueiras Lima, o médium Nascimento e muitos outros.
Desprendendo- se de todo interesse material, passou a integrar- se inteiramente, de dia e de noite, sem fadigas nem revoltas, à tarefa sublime de suavizar os sofrimentos do próximo, tendo por isso merecido o cognome de "Pai dos Pobres". Fez isso por mais de cinqüenta anos, descuidando- se de si e da própria saúde, numa afirmação patente de renúncia e de dedicação, tornando- se, por isso mesmo, um homem que realmente viveu os ensinamentos evangélicos, levando a paz e a saúde a milhares e milhares de sofredores de todos os matizes. Chegava mesmo a rasgar as próprias vestes a fim de enxugar lágrimas alheias.
Alcançando grande projeção na cidade, muitos sacerdotes católicos tentaram atraí-lo, mesmo nos últimos momentos de sua vida, procurando fazê-lo em confissão, sendo preciso que seu filho lhes dissesse, sem rebuços, que não mais permitiria aquele assédio impertinente, porque seu pai desde muito adotara o Espiritismo e não aceitava dogmas e sacramentos religiosos.
O Dr. March casou-se no Rio de Janeiro, em 1860, com Da. Francisca de Paula Correia March. Pouco depois transferiu sua residência para Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, onde começou a clinicar intensamente. Possuía enorme clientela. A todos os pacientes que o procuravam ele passava a considerar um membro da sua família e, portanto, com direito à sua assistência material. Os pobres da cidade faziam verdadeiras romarias à sua casa, modesta residência onde morava e onde vivia do modo mais humilde possível.
O nosso biografado ocupou um único emprego, o de clínico do consultório homeopático criado na Santa Casa de Misericórdia de Niterói, inicialmente sem remuneração e posteriormente recebendo o salário de cinqüenta mil-réis mensais.
Dada a sua dedicação extrema à pobreza, apesar de possuir uma das clínicas mais vastas da capital fluminense a sua renda era por demais reduzida. Sua situação econômica tornou- se muito crítica devido à enfermidade que o atacara na mocidade e que começava a tolher- lhe os movimentos locomotores.
Nessa altura dos acontecimentos, a massa anônima, percebendo a situação precária em que vivia o grande missionário do bem, adquiriu e lhe fez doação de uma casa para que ele pudesse nela residir. Uma comissão de senhoras da melhor sociedade fluminense fez nova subscrição para adquirir os móveis.
Tomando posse daquele imóvel, o Dr. March abriu-lhe as portas de par em par, e nunca mais as fechou, para que por ela entrassem livremente todos os infortunados e por isso exclamava: "Esta casa não é minha, mas de todos os que não tem teto".
Durante cerca de 33 anos residiu o Dr. March na casa que lhe havia sido doada pelo povo e para onde entrou já enfermo. Posteriormente esse imóvel foi reformado a expensas do governo municipal.
No dia 21 de junho de 1922, com a avançada idade de 84 anos, dos quais 63 dedicados ao exercício de atividades profissionais, desencarnou o velho apóstolo do bem. O sepultamento dos seus restos mortais foi uma apoteose. O povo em massa acorreu e carregou-lhe o féretro nos braços, até o cemitério, onde foi sepultado com flores e lágrimas. A Prefeitura Municipa1 de Niterói custeou- lhe os funerais e mandou que fosse hasteado, por 48 horas, o pavilhão municipal.
O seu nome foi dado a um logradouro público da cidade. A Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro, denominou "Instituto Dr. March" a um grande e modelar educandário por ela fundado, onde estão abrigadas mais de 100 meninas.
Esta é, portanto, a súmula muito apagada de sua grande vida. De um homem que, imobilizado em seu leito de dor durante 20 anos, mesmo assim socorria a todos aqueles que o procuravam. Trabalhou para minorar os sofrimentos alheios, sem encontrar quem pudesse suavizar os seus próprios sofrimentos.
Na sua vida profissional havia assumido consigo mesmo o compromisso solene de cuidar dos aflitos e dos doentes, e assim a todos atendeu, não apenas receitando, mas doando os próprios medicamentos, no que era ajudado pela sua própria família que chegava muitas vezes a se privar de muitas coisas.
Imobilizado sobre o leito, este virtuoso homem, cuja bondade o santificou em vida, nunca esboçou um murmúrio contra a justiça do Criador, jamais teve uma imprecação contra as provações que o acometiam.
(Subsídios fomecidos por Alfredo D'Alcântara)


Nenhum comentário:

Postar um comentário