domingo, 31 de agosto de 2014

Renovação

 Suspirava pela nomeação para o cargo público que lhe daria quarenta mil cruzeiros por mês. Conquistara o diploma de bacharel. Numa noite, acalentando o desejo de instituir várias obras de beneficência em favor da Humanidade sofredora, Raimundo Perez orava, extático.
 Queria subir. Desvencilhar-se do corpo físico.
 Entraria em contato com a Esfera Superior e formularia a súplica que acalentava no íntimo.
 Aspirava ao título de benemérito no campo da doutrina que professava.
 Mas precisava de dinheiro. Muito dinheiro.
 Quem sabe? Somente os Espíritos superiores poderiam dissolver as dificuldades que se lhe antepunham ao grande intento, e pensava:
— “Nomeado com os vencimentos de quarenta mil cruzeiros mensais, poderia encontrar o necessário começo... Em seguida, ganharia influência, atrairia poderosos, escalaria a montanha do ouro e granjearia importância política para cumprir a missão...”
Embalado em deliciosas miragens, Perez dormiu e viu-se efetivamente desligado da máquina corpórea.
 Reconheceu-se subindo, subindo... até que se viu em amplo salão, à frente de nobre instrutor que o recebeu entre bondoso e severo.
 A breves momentos inteirou-se de toda a situação.
 Alcançara grande instituto do Plano Superior, que supervisionava várias tarefas espíritas na esfera dos homens.
 Contudo, não era ali o único visitante.
 Em torno, enorme multidão. Muitas vozes, muita gente.
 Alguém, mais categorizado que ele mesmo para pedir, ergueu-se diante do benfeitor e, com sublime sinceridade, rogou informes sobre a razão de tantos fracassos entre os companheiros do Espiritismo, na Terra.
 Era um missionário da verdadeira fraternidade, buscando piedosamente recursos de amparo moral para os próprios irmãos na fé.
 Ninguém ousou adiantar-se-lhe aos rogos.
 A petição era comovente demais para que outros requerimentos lhe tomassem a dianteira.
 Foi então que o generoso mentor tomou a palavra e falou com franqueza:
— “Com base em inúmeros dados estatísticos colhidos junto aos nossos companheiros na Terra,podemos esclarecer que grande número dos profitentes do Espiritismo, na carne, tem fracassado devido às seguintes atitudes:
— Querem dinheiro e dominação...
— Querem autoridade e influência...
— Querem saúde física perfeita...
— Querem a compreensão alheia integral...
— Querem as mais altas concessões da mediunidade, sem esforço para obtê-las...
 Tudo isto porque se esquecem de que, na Terra, devemos estar cientes do ensino de Jesus, que afirmou categórico, quando esteve na carne: — “Meu reino não é deste mundo.”
O benfeitor teceu ainda algumas considerações sobre o tema e, ao acabar de falar, Raimundo sentiu-se desamparado em si mesmo.
 Guardava a sensação de quem via o solo a fugir-lhe dos próprios pés.
 E sentindo-se cair... do alto, de muito alto... E acordou.
 Identificara-se, mas visceralmente transformado.
 Conservava a impressão de prosseguir envergonhado de si mesmo.
 Acompanhou a mãezinha ao mercado, ajudando-a, prestativo. Não mais falava na sua nomeação com o entusiasmo anterior, e a palavra dinheiro passou a ter, para ele, importância bem secundária.
 À vista de tudo isto, D. Conceição, a genitora, chamou os dois filhos mais velhos a longa conversação e assentaram juntos que um psiquiatra devia ser consultado.
 Anotando a súbita renovação de Raimundo, todos os familiares julgaram que o pobre rapaz ficara perturbado da razão...
Espírito Hilário Silva - Do livro: Almas em Desfile, Médiuns: Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.

Médiuns e Mediunidades

 No falso pressuposto de que haja médiuns e mediunidades mais importantes entre si, recordemos o velho apólogo que Menênio Agripa contou ao povo amotinado de Roma, a fim de sossegar-lhe o espírito em discórdia.
“Se o cérebro, por reter a ideação fulgurante, desprezasse o estômago ocupado na tarefa obscura da digestão, a cabeça não conseguiria pensar; se os olhos, por refletirem a luz, declarassem guerra aos intestinos por serem eles vasos seletores de resíduos, decerto que, a breve tempo, a retina seria espelho morto nas trevas, e se o tronco, por sentir-se guindado a pequena altura, condenasse os pés por viverem ao contato do solo, rolaria o corpo sem equilíbrio.”
E, de nossa parte, ousaríamos acrescentar à antiga fábula que tudo, no campo da sequência da natureza, é solidariedade e cooperação.
 Se os braços desaparecerem, os pés se fazem mais ágeis; em sobrevindo a surdez, acusa o olhar penetração mais intensa; se a visão surge apagada, o tacto mais amplamente se desenvolve; se o baço é extirpado, a medula óssea trabalha com mais afinco, de modo a satisfazer as necessidades do sangue.
Qual acontece no mundo orgânico, a Doutrina Espírita é um grande corpo de revelações e de bênçãos, no qual cada médium possui tarefa específica.
 Esse esclarece...
Aquele consola...
 Outro pensa feridas...
 Aquele outro anula perturbações...
 Esse incorpora sofredores angustiados...
 Aquele transmite elucidações de instrutores devotados à grande beneficência...
 Outro recebe a palavra construtiva...
 Aquele outro se incumbe da mensagem santificante...
 Como é fácil observar, o passe curativo é irmão da prece confortadora, a desobsessão é o reverso da iluminação espiritual e o verbo fulgente da praça pública é outra face do livro que o silêncio abençoa.
 Em nossa esfera de serviço, portanto, já que prescindimos do profissionalismo religioso, não existem médiuns-pastores, médiuns-gerentes, médiuns-líderes ou médiuns-diretores, porquanto a cada qual de nós cabe uma parte do grande apostolado de redenção que nos foi atribuído pela Espiritualidade Maior.
 E se todos nós, em conjunto, temos um mentor a procurar e a ouvir de maneira especialíssima, no plano da consciência e no santuário do coração, esse Mentor é Nosso Senhor Jesus-Cristo – o Sol do Amor Eterno – a cuja luz, no grande dia de nossos mais altos ajustamentos, deveremos revelar em nós mesmos a divina essência da Sua lição divina:
– ”A cada qual por suas obras” .
Espírito Cairbar Schutel - Do livro: O Espírito da Verdade, Médiuns: Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Conversas Familiares

Você já pensou, em algum momento, gravar as conversas familiares? Tem idéia a respeito do que se fala, no lar, às refeições, por exemplo? E do efeito desses diálogos sobre as mentes infantis?
 Pois um professor de Sociologia da Universidade da Pensilvânia realizou a experiência.
 O Dr. Bossard conseguiu fartos exemplos da conversa de famílias, à hora do jantar. E, embora não tivesse imaginado, descobriu alguns estilos, definidos pelos hábitos de conversação constante.
 Um dos mais evidentes foi o estilo crítico. Isto é, durante a refeição, não se falava nada de bom a respeito de alguém.
 O assunto constante eram os amigos, parentes, vizinhos, os aspectos de suas vidas, naturalmente sempre apresentados de forma negativa.
 Reclamava-se das filas no supermercado, do mau atendimento em lojas, da grosseria do chefe, enfim, das coisas ruins que existem no mundo.
  Essa atmosfera familiar negativa redundava, conforme as observações realizadas, em crianças insociáveis e malquistas. Portanto, com problemas acontecendo na escola, na vizinhança.
  Em outro grupo, as hostilidades da família se voltavam para dentro, contra si mesma.
  Dr. Bossard classificou o grupo como os brigões, porque, sem exceção, as refeições se constituíam em torneios de insultos e brigas.
  Tudo era motivo para acusações mútuas.
  Nesse caso, as crianças absorviam o estilo que lhes criava problemas. Mesmo que isso, por vezes, viesse a se revelar depois de já crescidas e casadas, nos novos lares constituídos.
  Um grupo de famílias revelou um estilo exibicionista. Num primeiro momento, o observador poderia se deixar encantar pelo brilho de espírito e o bom humor demonstrado por todos.
  Contudo, aprofundando-se na pesquisa, essas famílias revelaram que todos se portavam como se fossem atores.
  E cada qual desejava sobrepujar o outro, aparecer mais. Isso redundava em crianças que, onde estivessem, desejavam ser o foco das atenções.
  Quando assim não acontecia, elas se sentiam desprezadas e repelidas, limitando a sua simpatia e respeito pelos outros.
  Mas, afinal, será que nenhuma das famílias tinha bons hábitos de conversação?
  Claro que sim. Essas foram adjetivadas como portadoras de atitude correta de processo interpretativo.
  Nesse caso, as pessoas, os acontecimentos, os fatos são comentados pela família de forma tranqüila, com dignidade e, até, com senso de humor.
  As crianças são animadas a participar da conversa e são ouvidas com respeito. A nota dominante, nesse grupo familiar, é a compreensão.

* * *
  Se, ouvindo ou lendo esta mensagem, você se deu conta de que sua família pertence a um dos grupos de conversação incorreta, não se perturbe.
  O estilo das conversas pode ser modificado. E pode começar hoje.
  O primeiro passo é descobrir o estilo dominante e, num esforço conjunto da família, modificar a conversação.
  Afinal, um grande Mestre disse um dia que o que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai dela.
  Pensemos nisso. Melhorar o estilo da conversa em família não é garantia absoluta de crianças ajustadas.
  Mas é um meio seguro de lhes proporcionar melhores oportunidades de uma vida equilibrada, pois o exemplo é forte ingrediente na formação do caráter.

MOMENTO DE REFLEXÃO

Jesus e os dias de hoje

Aqueles dias, nos quais esteve Jesus cantando as glórias de Deus, pelas terras da Palestina, eram dias de grandes dificuldades morais.

As aflições, dramas pessoais, dificuldades de relacionamento, de entendimento entre povos e culturas faziam-se constantes.

A incompreensão, o preconceito, a preocupação com a aparência externa e com o aspecto social era a tônica, nos relacionamentos, principalmente nas classes mais abastadas.

Não muito diferente dos dias de hoje. Em termos morais e valores íntimos, ainda somos muito parecidos com aqueles que encontraram Jesus, durante Seu périplo de amor.

Os dramas vivenciados há mais de dois mil anos, na intimidade daquele povo, se assemelham muito aos desafios emocionais que hoje enfrentamos.

Por isso, os conselhos de Jesus são ainda tão atuais.

Ele falava para um povo que vivia em um mundo sem recursos tecnológicos, utilizava de analogias e comparações que pudessem ser compreendidas, pelas gentes simples.

Não obstante, Seus conceitos e orientações são ainda atuais.

Jesus não Se preocupava com as coisas do mundo. Ensinava as coisas da alma.

Sem preocupar-Se com os valores temporais, era, por excelência, o Sábio dos valores da alma, que os conhecia em profundidade.

Assim, Seus conceitos atravessaram os séculos chegando até nós com atualidade arrebatadora.

Nestes dias onde o estresse emocional e a ansiedade são doenças crônicas, Jesus nos aconselha a deixar a cada dia suas próprias preocupações e necessidades, sem nos afligirmos com o futuro desconhecido.

Ensina-nos a ter confiança e fé em Deus. Serve-Se do exemplo das aves dos céus, que não semeiam, nem ceifam e dos lírios do campo, que não tecem, nem fiam, mas têm uma beleza incomparável, para falar da Providência Divina.

Alerta-nos a não termos atitude inercial, esperando um salvacionismo ilusório, dizendo-nos que é necessário buscar para achar e bater para que as portas se abram.

Nestes dias onde, muitas vezes, nos colocamos como omissos e descomprometidos com nossa vida em sociedade, Jesus nos fala que somos o sal da Terra. E o sal deve atender à sua finalidade de preservação e de sabor.

Quando se mostra tão frequente o descrédito com o ser humano, Jesus nos alerta que somos a luz do mundo e que devemos fazê-la brilhar em nós, através das boas obras que somos capazes de executar.

Nestes dias onde o ter costuma sobrepujar o ser, onde a cobiça e o comprar são as grandes sensações, é Jesus que nos alerta para não nos preocuparmos com tesouros que a traça e a corrosão consomem.

E mais: que onde estiver nosso tesouro, aí estará nosso coração.

Os conceitos de Jesus talvez jamais tenham sido tão importantes como nos dias desafiadores que registra a Humanidade.

Nestes dias, onde os valores e as instituições são questionadas e abalam-se, perante a sociedade e os homens, Jesus prossegue como Modelo e Guia.

É Ele a referência indispensável para bem atravessarmos os mares encapelados da atualidade, para que Sua luz seja o farol que nos haverá de conduzir ao porto seguro que nos aguarda, após a tempestade.

Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Suicidar-se, Nunca!

Meu caro leitor, se você é daquelas pessoas que está enfrentando difícil fase de sua existência, com escassez de recursos financeiros, enfermidades ou complexos desafios pessoais (na vida familiar ou não) e está se sentindo muito abatido, gostaria de convidá-lo a uma grave reflexão.
Todos temos visto a ocorrência triste e dramática daqueles que se lançam ao suicídio, das mais variadas formas. A ideia infeliz surge, é alimentada pelo agravamento dos problemas do cotidiano e concretiza-se no ato infeliz do autoextermínio.
Diante de possíveis angústias e estados depressivos, não há outro remédio senão a calma, a paciência e a confiança na vida, que sempre nos reserva o melhor ou o que temos necessidade de enfrentar para aprender. Ações precipitadas, suicídios e atos insanos são praticados devido ao desespero que atinge muitas pessoas que não conseguem enxergar os benefícios que as cercam de todos os lados.
 Mas é interessante ressaltar que estes estados de alma, de desalento, de angústias, de atribulações de toda ordem, não são casos isolados. Eles integram a vida humana. Milhões de pessoas, em todo mundo, lutam com esses enigmas como alunos que quebram a cabeça tentando resolver exercícios de física ou matemática. Mas até uma criança sabe que o problema que parece insolúvel não se resolverá rasgando o caderno e fugindo da sala de aula.
 Sim, a comparação é notável. Destruir o próprio corpo, a própria vida, como aparente solução é uma decisão absurda. Vejamos os problemas como autênticos desafios de aprendizado, nunca como castigos ou questões insuperáveis. Tudo tem uma solução, ainda que difícil ou demorada.
 O fato, porém, é que precisamos sempre resistir aos embates do cotidiano com muita coragem e determinação. Viver é algo extraordinário. Tudo, mas tudo mesmo, passa. Para que entregar-se ao desespero? Há razões de sobra para sorrir, rir e viver...!
O suicídio é um dos maiores equívocos humanos, para não dizer o maior. A pessoa sente-se pressionada por uma quantidade variável de desafios, que julga serem problemas sem solução, e precipita-se na ilusão da morte. Sim, ilusão, porque ninguém consegue auto exterminar-se. E o suicídio agrava as dificuldades porque aí a pessoa sente o corpo inanimado, cuja decomposição experimenta com os horrores próprios, pressionada agora pelo arrependimento, pelo remorso, sem possibilidade de retorno imediato para refazer a própria vida. Em meio a dores morais intensas, com as sensações físicas próprias, sentindo ainda a angústia dos seres queridos que com ele conviviam, o suicida torna-se um indigente do além.
 Como? Sim, apenas consequências do ato extremo, nunca castigo. Isto tudo por uma razão muito simples: não somos o corpo, estamos no corpo. Somos espíritos reencarnados, imortais. E a vida nunca cessa, ela continua objetivando o aprimoramento moral e intelectual de todos os filhos de Deus. Suicidar-se é ilusão. Os desafios existenciais surgem exatamente para promover o progresso, convidando à conquista de virtudes e o desenvolvimento da inteligência. A oportunidade de viver e aprender é muito rica para ser desprezada. E quando alguém a descarta, surgem consequências naturais: o sofrimento físico, pela autoagressão e o sofrimento moral do arrependimento e da perda de oportunidades. Muitos talvez, poderão perguntar-se: Mas de onde vêm essas informações?
 A Revelação Espírita trouxe essas informações. São os próprios espíritos que trouxeram as descrições do estado que se encontram depois da morte. Entre eles, também os suicidas descrevem os sofrimentos físicos e morais que experimentam. Sim porque sendo patrimônio concedido por Deus, a vida interrompida por vontade própria é transgressão à sua Lei de Amor. Como uma criança pequena que teima em não ouvir os pais e coloca os dedos na tomada elétrica.
 Para os suicídios há atenuantes e agravantes, mas sempre com consequências dolorosas e que vão requerer longo tempo de recuperação. Deus, que é Pai bondoso e misericordioso, jamais abandona seus filhos e concede-lhes sempre novas oportunidades.
 Aí surge a reencarnação como caminho reparador, em existências difíceis que apresentam os sintomas e aparências do ato extremo do suicídio. Há que se pensar nos familiares, cônjuges, pais e filhos, na dor que experimentam diante do suicídio do ser querido. Há que se pensar no arrependimento inevitável que virá. Há que se ponderar no desprezo endereçado à vida. Há, mais ainda, que se buscar na confiança em Deus, na coragem, na prece sincera, nos amigos (especialmente o maior deles, Jesus), a força que se precisa para vencer quaisquer ideias que sugiram o autoextermínio.
 Meu amigo, minha amiga, pense no tesouro que é tua vida, de tua família! Jamais te deixes enganar pela ilusão do suicídio. Viva! Viva intensamente! Com alegria! Que não te perturbe nem a dificuldade, nem a enfermidade, nem a carência material. Confie, meu caro, e prossiga!
Orson Peter Carrara
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/orson/suicidar-se-nunca.html

domingo, 24 de agosto de 2014

Narcisos Contemporâneos

Na mitologia grega, Narciso era um jovem bonito e vaidoso.
Um dia, Narciso curvou-se para beber água em uma fonte e, vendo sua própria face refletida na água, enamorou-se dela.
A lenda nos conta que ele foi definhando, dia após dia, sem se alimentar, sem descansar, encantado pelo reflexo de sua própria imagem na superfície da água, até morrer.
Foi Sigmund Freud que acrescentou o termo narcisismo ao vocabulário da psicologia para designar amor à própria imagem.
O termo contemplava também a etapa do desenvolvimento na qual a criança faz do próprio eu o objeto principal de seu amor.
Segundo o Manual Americano de Diagnóstico de Distúrbios Mentais, narcisistas são indivíduos arrogantes e convencidos, que têm fantasias magníficas sobre si mesmos.
Eles superestimam seu sucesso, precisam ser constantemente admirados e sempre esperam tratamento preferencial.
Os narcisistas estão convencidos de que merecem mais do que recebem. Preocupam-se em ter boa aparência e manter-se jovens.
Não são sensíveis às necessidades e aos problemas dos outros.
Com pouca tolerância para crítica, frequentemente reagem com fúria a ofensas reais ou imaginárias.
Em suma, os narcisistas focalizam a si mesmos, fascinados com sua personalidade e seu corpo. Com um individualismo atroz que carece de valores morais e sociais e se desinteressa por qualquer questão transcendental.
Percebe-se que o distúrbio em questão é bastante sério, e comum de se encontrar nos dias de hoje.
Vivemos dias em que cultuamos o narcisismo, seja na esfera individual, coletiva e das grandes mídias.
Muitos valores do mundo contemporâneo não passam de consequências de um narcisismo disfarçado de bem-estar, de saúde, de prazer.
Dessa forma, faz-se urgente uma revisão em todos os valores que temos, em todas as coisas a que damos importância e em que aplicamos nossas energias.
nas adolescentes anoréxicas; no exibicionismo de corpos esculturais na televisão; nas cirurgias plásticas excessivas; nos expectadores que compram quaisquer novas ideias impostas pelas mídias, percebemos o narcisismo reinante.
Talvez seja necessário relembrar as consequências do comportamento de Narciso.
Iludidos pela imagem do corpo, pela superficialidade dos valores do mundo, não só o corpo, mas sobretudo a alma acaba definhando, perdendo-se num mar de ilusões passageiras.
Ainda há tempo de perceber que a imagem do espelho não representa quem somos. Não é nossa essência, e sim apenas uma vestimenta temporária.
O verdadeiro eu é a alma imortal, a alma que aprende, que luta, que se desenvolve.
A verdadeira beleza está no Espírito que se liberta das amarras do materialismo preponderante.
O ser realmente belo será aquele que se entregue, não à imagem refletida numa superfície refletora, mas se doe profundamente, por amor, aos outros.
por Redação do Momento Espírita, com base em artigo de Mário Pereyra, disponível no site

Ascensão Espiritual

Indiscutivelmente, a culpa resulta do grau de responsabilidade, da consciência do homem que pratica qualquer ação.
Em razão disso, a penalidade ou corretivo deve ser proporcional à capacidade, à resistência do infrator.
Quando a criatura sofre sem conhecimento das causas que a levam à aflição, raramente logra forças para superar-se e suportar com resignação as suas dores.
Eis porque, ante a conjuntura ou situação dolorosa que atinge os homens, somente se pode entender, ante a divina justiça, que se a causa dos padecimentos não se encontra na existência atual, está, sem dúvida, em precedentes reencarnações.
Repetem-se as vidas corporais para o Espírito, quantas vezes se fazem necessárias para o seu burilamento, a sua plenitude.
Cada etapa repara os erros da fase anterior, ao mesmo tempo contribuindo para a aquisição de valores e experiências que necessitam ser armazenadas e que contribuem, poderosamente, para a evolução do homem.
Sem este processo, no qual se manifestam a excelsa justiça e o soberano amor, a vida inteligente perderia o sentido e a criatura humana se transformaria em joguete de caprichosas e incontroladas mãos que lhe conduziriam o destino.
Se não compreendes o porquê das tuas dores atuais, ausculta a consciência e ela te inspirará a entender as causas anteriores, ajudando-te a suportá-las e vencê-las bem.
O sofrimento não tem exclusiva finalidade corretiva, senão educadora, abrindo percepções e facultando valores que não seriam conhecidos sem o seu contributo.
Não menosprezes, por essa razão, a fragilidade orgânica, a celeridade com que transcorre cada ciclo das reencarnações.
Aproveita, quanto possas, as ensanchas que se te apresentem, reunindo experiências positivas, recuperando lições perdidas, realizando trabalhos valiosos.
A pessoa odienta que te molesta; a dificuldade persistente que te perturba; a enfermidade pertinaz que te não abandona; o problema que não dilui; a dor que te estiola; a solidão que te martiriza; a angústia, de origem desconhecida, que te dilacera; a pobreza que te preocupa; a limitação desta ou daquela natureza que te aflige; a inquietação que te espezinha, têm suas raízes em comportamentos infelizes de que te olvidaste, sem os solucionar, e que ora chegam, oferecendo-te ensejo de reparação e de paz íntima.
A conquista da tranqüilidade impõe como condição precípua a ausência de culpa, por falta de delito praticado ou como decorrência de erro regularizado.
Ninguém que consiga felicidade real, sem as condições de mérito advindo das ações nobres realizadas.
Os que se apresentam ditosos, tranqüilos e não merecem, assim se apresentam, aquinhoados por dádivas de acréscimo que todos recebem e nem sempre utilizam como devem, incidindo, então, na compulsória de adquirirem pela dor, o que não realizaram pelo amor.
"- O meu fardo é leve - disse Jesus - e suave é o meu jugo."
Com Jesus, todas as injunções de prova e dor transformam-se em bênçãos, graças às mercês de que se fazem portadoras.
Sob o Seu compassivo olhar e nas Suas mãos misericordiosas, o homem que se Lhe doa, supera-se e penetra-se de paz, mediante o amor e a resignação, de que dá mostras no empreendimento da própria ascensão espiritual.
FRANCO, Divaldo Pereira. Otimismo. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. LEAL.

* * * Estude Kardec * * *

Advento do Espírito de Verdade

Venho, como outrora aos transviados filhos de Israel, trazer-vos a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como o fez antigamente a minha palavra, tem de lembrar aos incrédulos que acima deles reina a imutável verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinem as plantas e se levantem as ondas. Revelei a doutrina divinal. Como um ceifeiro, reuni em feixes o bem esparso no seio da Humanidade e disse: "Vinde a mim, todos vós que sofreis."
Mas, ingratos, os homens afastaram-se do caminho reto e largo que conduz ao reino de meu Pai e enveredaram pelas ásperas sendas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a raça humana; quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto não existe a morte, vos socorrais mutuamente, e que se faça ouvir não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a dos que já não vivem na Terra, a clamar: Orai e crede! pois que a morte é a ressurreição, sendo a vida a prova buscada e durante a qual as virtudes que houverdes cultivado crescerão e se desenvolverão como o cedro.
Homens fracos, que compreendeis as trevas das vossas inteligências, não afasteis o facho que a clemência divina vos coloca nas mãos para vos clarear o caminho e reconduzirvos, filhos perdidos, ao regaço de vosso Pai.
Sinto-me por demais tomado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa fraqueza imensa, para deixar de estender mão socorredora aos infelizes transviados que, vendo o céu, caem nos abismos do erro. Crede, amai, meditai sobre as coisas que vos são reveladas; não mistureis o joio com a boa semente, as utopias com as verdades.
Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos clamam: "Irmãos! nada perece. Jesus-Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade." - O Espírito de Verdade. (Paris, 1860.)
Venho instruir e consolar os pobres deserdados. Venho dizer-lhes que elevem a sua resignação ao nível de suas provas, que chorem, porquanto a dor foi sagrada no Jardim das Oliveiras; mas, que esperem, pois que também a eles os anjos consoladores lhes virão enxugar as lágrimas.
Obreiros, traçai o vosso sulco; recomeçai no dia seguinte o afanoso labor da véspera; o trabalho das vossas mãos vos fornece aos corpos o pão terrestre; vossas almas, porém, não estão esquecidas; e eu, o jardineiro divino, as cultivo no silêncio dos vossos pensamentos. Quando soar a hora do repouso, e a trama da vida se vos escapar das mãos e vossos olhos se fecharem para a luz, sentireis que surge em vós e germina a minha preciosa semente.
Nada fica perdido no reino de nosso Pai e os vossos suores e misérias formam o tesouro que vos tornará ricos nas esferas superiores, onde a luz substitui as trevas e onde o mais desnudo dentre todos vós será talvez o mais resplandecente. - O Espírito de Verdade. (Paris, 1861.)
Em verdade vos digo: os que carregam seus fardos e assistem os seus irmãos são bem amados meus. Instruí-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das revoltas e vos mostra o sublime objetivo da provação humana. Assim como o vento varre a poeira, que também o sopro dos Espíritos dissipe os vossos despeitos contra os ricos do mundo, que são, não raro, muito miseráveis, porquanto se acham sujeitos a provas mais perigosas do que as vossas. Estou convosco e meu apóstolo vos instrui. Bebei na fonte viva do amor e preparai-vos, cativos da vida, a lançar-vos um dia, livres e alegres, no seio d’Aquele que vos criou fracos para vos tornar perfectíveis e que quer modeleis vós mesmos a vossa maleável argila, a fim de serdes os artífices da vossa imortalidade. - O Espírito de Verdade. (Paris, 1861.)
Sou o grande médico das almas e venho trazer-vos o remédio que vos há de curar. Os fracos, os sofredores e os enfermos são os meus filhos prediletos. Venho salvá-los. Vinde, pois, a mim, vós que sofreis e vos achais oprimidos, e sereis aliviados e consolados. Não busqueis alhures a força e a consolação, pois que o mundo é impotente para dá-las. Deus dirige um supremo apelo aos vossos corações, por meio do Espiritismo. Escutai-o. Extirpados sejam de vossas almas doloridas a impiedade, a mentira, o erro, a incredulidade. São monstros que sugam o vosso mais puro sangue e que vos abrem chagas quase sempre mortais. Que, no futuro, humildes e submissos ao Criador, pratiqueis a sua lei divina. Amai e orai; sede dóceis aos Espíritos do Senhor; invocai-o do fundo de vossos corações. Ele, então, vos enviará o seu Filho bem-amado, para vos instruir e dizer estas boas palavras: Eis-me aqui; venho até vós, porque me chamastes. - O Espírito de Verdade. (Bordéus, 1861.)
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB. Capítulo 6. Livro eletrônico gratuito em  http://www.febnet.org.br

 * * * Estude Kardec * * *

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O Passe Magnético e suas Limitações

Quatro são as causas principais que limitam a ação fluídica curadora, o que explica por que nem sempre o passe magnético logra obter num determinado caso o que noutra circunstância foi conseguido.
Em 1866, ao tratar das curas realizadas pelo Sr. Henri Jacob, Allan Kardec explicou que existe uma diferença radical entre os médiuns curadores e os receitistas. Enquanto estes tão-somente receitam remédios, os primeiros curam os enfermos por meio da ação fluídica, em mais ou menos tempo, sem o emprego de qualquer remédio. O poder curativo está todo no fluido depurado a que servem de condutores. A aptidão para curar, diz Kardec, é inerente ao médium, mas o exercício da faculdade só se dá com o concurso dos Espíritos, de onde se segue que, se os Espíritos não querem, o médium é como um instrumento sem músico e nada obtém. Ele pode, pois, perder instantaneamente a sua faculdade, o que exclui a possibilidade de transformá-la em profissão.(Revista Espírita de 1866, págs. 347 e 348.)
O Codificador relaciona, na sequência do estudo, os casos em que a ação fluídica é impotente para promover a cura. A ação fluídica, diz ele, pode dar sensibilidade a um órgão, fazer dissolver e desaparecer um obstáculo ao movimento e à percepção, cicatrizar uma ferida, porque nesses casos o fluido torna-se um verdadeiro agente terapêutico, mas é evidente que não pode remediar a ausência ou a destruição de um órgão, o que seria um verdadeiro milagre. Assim, a vista poderá ser restaurada a um cego por amaurose, oftalmia, belida ou catarata, mas não a quem tivesse os olhos estalados.
Existem, pois, doenças fundamentalmente incuráveis e seria ilusão crer que a mediunidade curadora vá livrar a Humanidade de todas as suas enfermidades.(Idem, págs. 348 e 349.)
De forma resumida, podemos dizer então, com base nos ensinamentos espíritas, que quatro são as causas principais que limitam a ação fluídica curadora:
·        falta de fé ou de receptividade do paciente
·        comportamento do enfermo
·        a natureza do problema ou da enfermidade
·        a lei de causa e efeito.
A falta de fé ou de receptividade do paciente
 Diz Martins Peralva, em seu extraordinário Estudando a Mediunidade, cap. XXVII, que existem criaturas que oferecem extraordinária receptividade aos fluidos magnéticos. São aquelas que possuem “fé robusta e sincera, recolhimento e respeito ante o trabalho que, a seu e a favor de outrem, se realiza”.
Na pessoa de fé, no momento em que recebe o passe, sua mente e seu coração funcionam à maneira de poderoso    ímã,  “atraindo    e   aglutinando   as   forças curativas”. “Já com o descrente, o irônico e o duro de coração – esclarece Peralva - o fenômeno é naturalmente oposto.”
 A explicação desse fato é dada pelo instrutor Áulus na seguinte passagem constante do livro Nos Domínios da Mediunidade, cap. 17, de autoria de André Luiz:

“Alinhando apontamentos, começamos a reparar que alguns enfermos não alcançavam a mais leve melhoria.
As irradiações magnéticas não lhes penetravam o veículo orgânico.
Registrando o fenômeno, a pergunta de Hilário não se fez esperar.
- Por quê?
- Falta-lhes o estado de confiança – esclareceu o orientador.
- Será, então, indispensável a fé para que registrem o socorro de que necessitam?
- Ah! sim. Em fotografia precisamos da chapa impressionável para deter a imagem, tanto quanto em eletricidade carecemos do fio sensível para a transmissão da luz. No terreno das vantagens espirituais, é imprescindível que o candidato apresente uma certa tensão favorável. Essa tensão decorre da fé.”
Eis aí o motivo pelo qual a falta de fé do paciente constitui um dos fatores limitativos da ação fluídica curadora, fato conhecido ao tempo de Jesus, como narra o Evangelho de Marcos (cap. 6:3-6), segundo o qual Jesus curou pouquíssimos enfermos em Nazaré por causa da incredulidade de seu povo. E foi o próprio Jesus quem, admirado com a descrença de sua gente, cunhou ali uma frase que se tornaria famosa e conhecida até em nossos dias: “Ninguém é profeta em sua terra”.
O comportamento do enfermo
Muitas vezes, quando não impede a eficácia da ação fluídica curadora, o comportamento do paciente acaba concorrendo para a reincidência do mal, como tem sido mostrado inúmeras vezes nas obras espíritas. Refere Allan Kardec, na Revista Espírita de 1865, págs. 205 e 206, o caso de um jovem cego que havia sido recolhido por um espírita dedicado que se propôs curá-lo por meio do magnetismo, pois os Espíritos haviam dito que sua cura era possível. O tratamento não surtiu, contudo, nenhum resultado, porque o jovem, em vez de se mostrar reconhecido pela bondade do amigo, só manifestou ingratidão e mau procedimento, dando provas do pior caráter.
São Luís, dirigente espiritual da Sociedade Espírita de Paris, explicou que, de fato, a enfermidade do rapaz era curável. Uma magnetização espiritual praticada com zelo, devotamento e perseverança certamente teria êxito, e sua visão teria sensível melhora, se os maus fluidos de que estava cercado não opusessem um obstáculo à penetração dos bons fluidos. “No estado em que se encontra – acrescentou São Luís –, a ação magnética será impotente enquanto, por sua vontade e sua melhora, não se desembaraçar desses fluidos perniciosos.” Um retorno sério daquele moço sobre si mesmo era a única coisa que poderia tornar eficazes os cuidados de seu magnetizador; do contrário, perder-se-ia o pouco de luz que lhe restava e novas provações o acometeriam.
Três exemplos de como o comportamento do enfermo pode ser causa de distúrbios orgânicos, e até mesmo inviabilizar a cura, podemos colher no livro Missionários da Luz, págs. 326 a 333, de André Luiz:
1) Uma mulher adentrou o Centro Espírita portando uma nuvem negra na região do coração, mais especificamente na área da válvula mitral. A mente, como sabemos, pode intoxicar-se com as emissões mentais daqueles com quem convive. A mulher tivera naquele dia sérios atritos com o esposo. Com o passe, a porção de matéria negra deslocou-se e veio aos tecidos da superfície, espraiando-se sob a mão irradiante, ao longo da epiderme. Se os atritos domésticos persistissem, o efeito mórbido poderia refletir-se sobre o corpo somático, produzindo uma lesão de consequências imprevisíveis.

2) Na mesma Casa Espírita, o grupo de médiuns passistas assistiu um certo homem tão irritadiço e invigilante que seus rins pareciam envolvidos em crepe negro, tal a densidade de matéria mental fulminante que os cercava.

3) Um cavalheiro idoso, tratado em seguida, apresentava o fígado e o baço em enorme desequilíbrio; contudo, apesar de seu estado, o passe só lhe daria naquele noite alívio, não a cura. Eis a explicação do mentor espiritual: "Após dez vezes de socorro completo, é preciso deixá-lo entregue a si mesmo, até que adote nova resolução". Aquele homem era portador de um temperamento menos simpático e extremamente caprichoso. Estimava as rixas frequentes, as discussões apaixonadas, o império de seus pontos de vista. Encolerizava-se com facilidade e despertava a cólera e a mágoa dos que lhe desfrutavam a companhia. Deveria, pois, ficar por algum tempo entregue a si mesmo. Quem sabe a dor e o sofrimento não lograriam o sucesso que as curas anteriores não conseguiram?
A natureza do problema ou da enfermidade
Como vimos inicialmente, Kardec diz, na Revista Espírita de 1866, pág. 349, que existem doenças fundamentalmente incuráveis e seria ilusão crer que a mediunidade curadora vá livrar a Humanidade de todas as suas enfermidades. Ter em conta a natureza do problema ou da enfermidade do paciente constitui, portanto, medida necessária a quem se proponha tratar das pessoas por meio da ação fluídica curadora.
Além do caso referido no preâmbulo – ausência ou a destruição de um órgão – é preciso ter em mente que a ação fluídica é incapaz, por si só, de resolver os distúrbios ocasionados pela consciência culpada e os processos obsessivos mais graves, como a subjugação.
O caso Mário Silva, relatado por André Luiz em seu livro Entre a Terra e o Céu, cap. 34, págs. 224 a 226, é bem ilustrativo disso.
Mário, impressionado com a morte do menino Júlio (que fora seu companheiro de peripécias anteriores por ocasião da Guerra do Paraguai), conservava aflitivo com­plexo de culpa e tinha seu pensamento ligado ao falecido, à maneira de imagem fixada na chapa fotográfica. Tendo passado o dia acamado, sob extrema perturbação, sentia-se vencido, envergonhado. André Luiz perguntou a Clarêncio se não seria possível socorrê-lo com passes magnéticos, ao que o Ministro respondeu, seguro de si: "O auxílio dessa natureza ampara-lhe as forças, mas não resolve o problema. Silva deve ser atingido na mente, a fim de melhorar-se. Requisita ideias renovadoras e, no mo­mento, Antonina é a única pessoa capaz de reerguê-lo com mais segu­rança". E acrescentou: "Tudo na vida tem a sua razão de ser. Noutra época, Silva, na personalidade de Esteves, aliou-se a Antonina, então na experiência de Lola Ibarruri, para se afogarem no prazer pecami­noso, com esquecimento das melhores obrigações da vida. Atualmente, estarão reunidos na recuperação justa. Os que se associam na levian­dade, à frente da Lei, acabam esposando enormes compromissos para o reajustamento necessário. Ninguém confunde os princípios que regem a existência".
A mesma limitação da ação fluídica, verificada em situações como a de Mário Silva, registra-se nos casos de subjugação, como o relatado na Revista Espírita de 1865, págs. 4 a 18, pelo Sr. Dombre, a respeito das crises convulsivas experimentadas por Valentine Laurent, de 13 anos.
As crises, além de se repetirem várias vezes por dia, eram de tal violência que cinco homens tinham dificuldade de manter a jovem na cama. Tratava-se de um caso obsessivo dos mais graves, produzido pelo Espírito de Germaine. Valentine era sensível ao tratamento recebido do Sr. Dombre por meio da imposição de mãos, mas, tão logo ele se afastava, voltavam as crises. Depois do tratamento por meio de passes magnéticos e de hábeis instruções transmitidas a Germaine – o Espírito que perturbava Valentine –, o processo obsessivo chegou ao fim e tudo se explicou.
À margem do caso, Kardec indaga: “Para que teria servido o magnetismo se a causa tivesse subsistido?” Era preciso primeiro destruir a causa, antes de atacar os efeitos, ou, pelo menos, agir sobre ambos simultaneamente, ensina o Codificador, mostrando que o magnetismo, por si só, é incapaz de curar as obsessões graves, entendimento que ele reiteraria na edição definitiva d’ O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 28, item 81.

A lei de causa e efeito
A lei de causa e efeito não é, como muitos pensam, uma inovação, uma invenção do Espiritismo. Jesus a ela se reportou em várias oportunidades. Numa delas, ensinou o Mestre que a cada um será dado conforme as suas obras. Em outra passagem, como registra o Evangelho de Mateus (cap. 26:52), o Senhor, ao pedir que Pedro guardasse sua espada, afirmou que todos os que lançarem mão da espada à espada morrerão.
Ensina Allan Kardec, na Revista Espírita de 1868, pág. 85, que a maioria das moléstias, como todas as misérias humanas, são expiações do presente ou do passado, ou provas para o futuro. No primeiro caso, decorrem de dívidas contraídas, cujas consequências devem ser suportadas até que tenham sido resgatadas. Não pode, obviamente, ser curado aquele que deve passar por uma prova que não chegou ainda ao seu final.
A mesma tese, que por sinal não constitui nenhuma novidade para os estudiosos do Espiritismo, havia sido defendida no ano anterior, na Revue de 1867, págs. 190 a 193, pelo Espírito de Quinemant, que tece, numa importante comunicação, considerações valiosas em torno do magnetismo e do Espiritismo.
Depois de lembrar que a doença material é um efeito e, enquanto persistir a causa, produzirá esta novos efeitos mórbidos, o que inviabiliza a cura, o comunicante descreve a íntima relação que existe entre o Espiritismo, a mediunidade e o magnetismo, que, desenvolvido pelo Espiritismo, “é a chave da abóbada da saúde moral e material da humanidade futura”.
Eis aí um dos motivos mais frequentes de limitação da ação magnética curadora, que deve ser levado sempre em consideração pelas pessoas que buscam ajuda nas Casas Espíritas. Em tudo é preciso paciência, e é esta que faz com que a pessoa enferma prossiga até o fim, fazendo a parte que lhe toca, sem desânimo, certa de que, quando soar o momento, seu objetivo será alcançado.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Resumo da Doutrina Espírita

Deus é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.
Criou o Universo, que abrange todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais.
Os seres materiais constituem o mundo visível ou corpóreo, e os seres imateriais, o mundo invisível ou espírita, isto é, dos Espíritos.
O mundo espírita é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo.
O mundo corporal é secundário; poderia deixar de existir, ou não ter jamais existido, sem que por isso se alterasse a essência do mundo espírita.
Os Espíritos revestem temporariamente um invólucro material perecível, cuja destruição pela morte lhes restitui a liberdade.
Entre as diferentes espécies de seres corpóreo, Deus escolheu a espécie humana para a encarnação dos Espíritos que chegaram a certo grau de desenvolvimento, dando-lhe superioridade moral e intelectual sobre as outras.
A alma é um Espírito encarnado, sendo o corpo apenas o seu envoltório.
Há no homem três coisas: 1°, o corpo ou ser material análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital; 2°, a alma ou ser imaterial, Espírito encarnado no corpo; 3°, o laço que prende a alma ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o Espírito.
Tem assim o homem duas naturezas: pelo corpo, participa da natureza dos animais, cujos instintos lhe são comuns; pela alma, participa da natureza dos Espíritos.
O laço ou Perispírito, que prende ao corpo o Espírito, é uma espécie de envoltório semimaterial. A morte é a destruição do invólucro mais grosseiro. O Espírito conserva o segundo, que lhe constitui um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal, porém que pode tornar-se acidentalmente visível e mesmo tangível, como sucede no fenômeno das aparições.
O Espírito não é, pois, um ser abstrato, indefinido, só possível de conceber-se pelo pensamento. É um ser real, circunscrito, que, em certos casos, se torna apreciável pela vista, pelo ouvido e pelo tato.
Os Espíritos pertencem a diferentes classes e não são iguais, nem em poder, nem em inteligência, nem em saber, nem em moralidade. Os da primeira ordem são os Espíritos superiores, que se distinguem dos outros pela sua perfeição, seus conhecimentos, sua proximidade de Deus, pela pureza de seus sentimentos e por seu amor do bem: são os anjos ou puros Espíritos. Os das outras classes se acham cada vez mais distanciados dessa perfeição, mostrando-se os das categorias inferiores, na sua maioria eivados das nossas paixões: o ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho, etc. Comprazem-se no mal. Há também, entre os inferiores, os que não são nem muito bons nem muito mais, antes perturbadores e enredadores, do que perversos. A malícia e as inconseqüências parecem ser o que neles predomina. São os Espíritos estúrdios ou levianos.
Os Espíritos não ocupam perpetuamente a mesma categoria. Todos se melhoram passando pelos diferentes graus da hierarquia espírita. Esta melhora se efetua por meio da encarnação, que é imposta a uns como expiação, a outros como missão. A vida material é uma prova que lhes cumpre sofrer repetidamente, até que hajam atingido a absoluta perfeição moral.
Deixando o corpo, a alma volve ao mundo dos Espíritos, donde saíra, para passar por nova existência material, após um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual permanece em estado de Espírito errante.
Tendo o Espírito que passar por muitas encarnações, segue-se que todos nós temos tido muitas existências e que teremos ainda outras, mais ou menos aperfeiçoadas, quer na Terra, quer em outros mundos.
A encarnação dos Espíritos se dá sempre na espécie humana; seria erro acreditar-se que a alma ou Espírito possa encarnar no corpo de um animal.
As diferentes existências corpóreas do Espírito são sempre progressivas e nunca regressivas; mas, a rapidez do seu progresso depende dos esforços que faça para chegar à perfeição.
As qualidades da alma são as do Espírito que está encarnado em nós; assim, o homem de bem é a encarnação de um bom Espírito, o homem perverso a de um Espírito impuro.
A alma possuía sua individualidade antes de encarnar; conserva-a depois de se haver separado do corpo.
Na sua volta ao mundo dos Espíritos, encontra ela todos aqueles que conhecera na Terra, e todas as suas existências anteriores se lhe desenham na memória, com a lembrança de todo bem e de todo mal que fez.
O Espírito encarnado se acha sob a influência da matéria; o homem que vence esta influência, pela elevação e depuração de sua alma, se aproxima dos bons Espíritos, em cuja companhia um dia estará. Aquele que se deixa dominar pelas más paixões, e põe todas as suas alegrias na satisfação dos apetites grosseiros, se aproxima dos Espíritos impuros, dando preponderância à sua natureza animal.
Os Espíritos encarnados habitam os diferentes globos do Universo.
Os não encarnados ou errantes não ocupam uma região determinada e circunscrita; estão por toda parte no espaço e ao nosso lado, vendo-nos e acotovelando-nos de contínuo.
É toda uma população invisível, a mover-se em torno de nós.
Os Espíritos exercem incessante ação sobre o mundo moral e mesmo sobre o mundo físico. Atuam sobre a matéria e sobre o pensamento e constituem uma das potências da Natureza, causa eficiente de uma multidão de fenômenos até então inexplicados ou mal explicados e que não encontram explicação racional senão no Espiritismo.
As relações dos Espíritos com os homens são constantes. Os bons Espíritos nos atraem para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação. Os maus nos impelem para o mal: é-lhes um gozo ver-nos e assemelhar-nos a eles.
As comunicações dos Espíritos com os homens são ocultas ou ostensivas. As ocultas se verificam pela influência boa ou má que exercem sobre nós, à nossa revelia.
Cabe ao nosso juízo discernir as boas das más inspirações. As comunicações ostensivas se dão por meio da escrita, da palavra ou de outras manifestações materiais, quase sempre pelos médiuns que lhes servem de instrumentos.
Os Espíritos se manifestam espontaneamente ou mediante evocação.
Podem evocar-se todos os Espíritos: os que animaram homens obscuros, como os das personagens mais ilustres, seja qual for a época em que tenham vivido; os de nossos parentes, amigos, ou inimigos, e obter-se deles, por comunicações escritas ou verbais, conselhos, informações sobre a situação em que se encontram no Além, sobre o que pensam a nosso respeito, assim como as revelações que lhes sejam permitidas fazer-nos. Os Espíritos são atraídos na razão da simpatia que lhes inspire a natureza moral do meio que os evoca. Os Espíritos superiores se comprazem nas reuniões sérias, onde predominam o amor do bem e o desejo sincero, por parte dos que as compõem, de se instruírem e melhorarem. A presença deles afasta os Espíritos inferiores que, inversamente, encontram livre acesso e podem obrar com toda a liberdade entre pessoas frívolas ou impelidas unicamente pela curiosidade e onde quer que existam maus instintos. Longe de se obterem bons conselhos, ou informações úteis, deles só se devem esperar futilidades, mentiras, gracejos de mau gosto, ou mistificações, pois que muitas vezes tomam nomes venerados, a fim de melhor induzirem ao erro.
Distinguir os bons dos maus Espíritos é extremamente fácil. Os Espíritos superiores usam constantemente de linguagem digna, nobre, repassada da mais alta moralidade, escoimada de qualquer paixão inferior; a mais pura sabedoria lhes transparece dos conselhos, que objetivam sempre o nosso melhoramento e o bem da Humanidade. A dos Espíritos inferiores, ao contrário, é inconseqüente, amiúde trivial e até grosseira. Se, por vezes, dizem alguma coisa boa e verdadeira, muito mais vezes dizem falsidades e absurdos, por malícia ou ignorância. Zombam da credulidade dos homens e se divertem à custa dos que os interrogam, lisonjeando-lhes a vaidade, alimentando-lhes os desejos com falazes esperanças. Em resumo, as comunicações sérias, na mais ampla acepção do termo, só são dadas nos centros sérios, onde intima comunhão de pensamentos, tendo em vista o bem.
A moral dos Espíritos superiores se resume, como a do Cristo, nesta máxima evangélica: Fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem, isto é, fazer o bem e não o mal. Neste princípio encontra o homem uma regra universal de proceder, mesmo para as suas menores ações.
Ensinam-nos que o egoísmo, o orgulho, a sensualidade são paixões que nos aproximam da natureza animal, prendendo-nos à matéria; que o homem que, já neste mundo, se desliga da matéria, desprezando as futilidades mundanas e amando o próximo, se avizinha da natureza espiritual; que cada um deve tornar-se útil, de acordo com as faculdades e os meios que Deus lhe pôs nas mãos para experimentá-lo; que o Forte e o Poderoso devem amparo e proteção ao Fraco, porquanto transgride a Lei de Deus aquele que abusa da força e do poder para oprimir o seu semelhante. Ensinam, finalmente, que, no mundo dos Espíritos, nada podendo estar oculto, o hipócrita será desmascarado e patenteadas todas as suas torpezas, que a presença inevitável, e de todos os instantes, daqueles para com quem houvermos procedido mal constitui um dos castigos que nos estão reservados; que ao estado de inferioridade e superioridade dos Espíritos correspondem penas e gozos desconhecidos na Terra.
Mas, ensinam também não haver faltas irremissíveis, que a expiação não possa apagar. Meio de consegui-lo encontra o homem nas diferentes existências que lhe permitem avançar, conformemente aos seus desejos e esforços, na senda do progresso, para a perfeição, que é o seu destino final.
Este o resumo da Doutrina Espírita, como resulta dos ensinamentos dados pelos Espíritos superiores.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 76.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1995. Livro eletrônico gratuito em  http://www.febnet.org.br.

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