domingo, 30 de novembro de 2014

A vontade de Deus

A chuva caiu forte. Todo o povoado comentava que era vontade de Deus.
E, como de outras vezes já ocorrera, o enorme tronco de uma figueira se atravessou na estrada, despencando do morro, e deixou totalmente isolada aquela comunidade.
Pedras se deslocaram, rolando morro abaixo. A enxurrada varria as ruas, com violência.
Enquanto cada um lamentava e entrava em sua casa para racionar a comida para os próximos dias, o menino da casa de flores amarelas saiu em disparada para o meio do mato.
Não lhe importava a chuva que continuava caindo, embora menos intensa. Habitualmente, era ali, debaixo da copa das árvores, que ele dialogava com seu anjo, da mesma forma que o fazia, à noite, em suas orações, antes de dormir.
Meio sem jeito, Pedro perguntou o motivo daquela chuva, daquele tronco, tudo de novo, como de outras vezes passadas. Seus pais estavam cansados daquilo, seus amigos também.
Mas o anjo confirmou: Foi Deus mesmo quem mandou a chuva.
Aquilo incomodou o garoto. Ele saiu dali e foi em direção ao tronco. Atirou-se na lama e se pôs a empurrar a enorme figueira tombada.
Os mais velhos esbravejavam, cada um em sua porta. E diziam da inutilidade daquilo. O anjo ficou à frente do seu pupilo e o incentivou: Você consegue. Não pare. Continue.
Com os braços tremendo e as mãos arranhadas, alguns minutos depois, Pedro olhou para o lado. Todas as crianças da vila haviam se juntado a ele e empurravam.
Enquanto faziam força, riam dos seus escorregões, da lama em seus corpos, da cara suja. E brincavam, deixando que a chuva lhes lavasse as manchas da roupa. Empenhavam-se como irmãos.
Com o insucesso de retirar os filhos do tronco deitado, as mães e as avós resolveram participar da fantasia dos meninos. Logo, os homens se mobilizaram.
Largaram seus copos de café, que esquentavam seus corpos, e se colocaram à disposição do que consideravam uma causa perdida, uns em respeito às suas esposas, outros pelos seus filhos.
Depois de muito esforço, conseguiram deslocar a figueira para o lado. O caminho estava livre.
A seguir, providenciaram a retirada das grandes pedras do meio das ruas.
Aqueles momentos conectaram para sempre aquela gente. As faltas foram perdoadas, as desculpas foram aceitas.
Eram todos companheiros, empenhados num único propósito.
A discórdia deu lugar à união, o desespero à esperança, a tristeza à alegria, as trevas à luz e a dúvida à fé.
Finalmente, a comunidade havia entendido a vontade de Deus. Ele mandara a chuva, que desencadeara o episódio da derrubada da figueira e o deslocamento das grandes pedras.
Contudo, a união de todos, o esforço conjugado, resolvera a dificuldade.
Pedro descansava na lama, agora, enquanto sentia o afago de seus pais.
E todos haviam aprendido que o êxito é uma bênção de forças conjugadas da natureza, enquanto a força é ato, que significa compromisso no bem ou no mal, é a palavra que edifica ou destrói.
A oportunidade é a nossa porta de luz, no sagrado momento que passa.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo A vontade de Deus e A figueira do caminho, da Revista Cultura Espírita, de janeiro.2014, do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, Rio de Janeiro; nos verbetes Êxito, Força e Oportunidade, do livro Dicionário da alma, por Espíritos diversos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. Do site: http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=4088&stat=0

Entre as forças comuns

Indiscutivelmente a mediunidade, no aspecto em que a conhecemos na Terra, é a  resultante de extrema sensibilidade magnética, embora, no fundo, estejamos informados de que os dons mediúnicos, em graus diversos, são recursos inerentes a todos.
Cada ser é portador de certas atividades e, por isso mesmo, é instrumento da vida.
A luz nasce da chama sem ser a chama.
O perfume vem da flor sem ser a flor.
A claridade do núcleo luminoso une-se a radiações do ambientes e o aroma da rosa mistura-se a emanações do meio, dando origem a variadas criações.
Assim também o pensamento invisível do homem associa-se no invisível pensamento das entidades espirituais que o assistem, estabelecendo múltiplas combinações, em benefício do trabalho de todos, na evolução geral.
Importa reconhecer, porém, que existem mentes reencarnadas, em condições especialíssimas, que oferecem qualidades excepcionais para os serviços de intercâmbio entre os vivos da carne e os vivos do Além. Nessas circunstâncias, identificamos os medianeiros adequados aos fenômenos de manifestação do espírito liberto, nos círculos de matéria mais densa.
Contudo, nem sempre os donos dessas energias são mensageiros da sublimação interior.
Na extensa comunidade de almas da Terra avultam, em maioria, as consciências ainda enfermiças, por moralmente endividadas com a Lei Divina; conseqüentemente, a maior pare das organizações medianímicas, no Planeta, não podem escapar a essa regra.
Mais de dois terços dos médiuns do mundo jazem, ainda, nas zonas de desequilíbrio espiritual, sintonizados com as inteligências invisíveis que lhes são afins. Reclamam, em razão disso, estudo e boa vontade no serviço do bem, a fim de retomarem a subida harmônica aos cimos da luz, assim como os cooperadores de qualquer instituição respeitável da Terra necessitam exercício constante no trabalho esposado para crescerem na competência e no crédito moral.
Ninguém se esqueça de que estamos assimilando incessantemente as energias mentais daqueles com quem nos colocamos em relação.
E, além disso, estamos sempre em contacto com o que podemos nomear como sendo “geradores específicos de pensamentos”. Através deles, outras inteligências atuam sobre a nossa.
Um livro, um laço afetivo, uma reunião ou uma palestra são geradores dessa classe. Aquilo que lemos, as pessoas que estimamos, as assembléias que contam conosco e aqueles que ouvimos influenciam decisivamente sobre nós.
Devemos ajudar a todos, mas precisamos selecionar os ingredientes de nossa alimentação mais íntima.
Certo, não podemos menosprezar o nosso irmão que se arrojou aos despenhadeiros do crime, constituído simples dever nosso o auxílio objetivo em favor do reajuste e soerguimento dele, todavia, não podemos absorver-lhe as amarguras e os remorsos, que se dirigem a natural extinção.
Visitaremos o enfermo, encorajando-o e levantando-lhe o bom ânimo, contudo, não será aconselhável adquirir-lhe as sensações desequilibrantes, que precisam desaparecer, tanto quanto os detritos de casa que nos cabe eliminar.
A obra da caridade tudo transforma em favor do bem.
A atitude é oração. E, pela atitude, mostramos a qualidade dos nossos desejos.
Os pensamentos honestos e nobres, sadios e generosos, belos e úteis, fraternos e amigos, são a garantia do auxílio positivo aos outros e a nós mesmos.
Quanto mais nos adiantamos na ciência do espírito, mais entendemos que a vida nos responde, de conformidade com as nossas indagações.
O princípio dos “semelhantes com os semelhantes” é indefectível em todos os planos do Universo.
Caminhamos no encontro de nós mesmos e, por isso, surpreendemos invariavelmente conosco aqueles que sentem com o nosso coração e pensam com a nossa cabeça.
Os médiuns, em qualquer região da vida, filtros que são de rogativas e respostas, precisam, pois, acordar para a realidade de que viveremos sempre em companhia daqueles que buscamos, de vez que, por toda parte, respiramos ajustados ao nosso campo de atração.
pelo Espírito Emmanuel, Do Livro: Roteiro, Médium: Francisco Cândido Xavier.

sábado, 29 de novembro de 2014

Buscando Autoconhecimento

Allan Kardec codificador do Espiritismo perguntou aos espíritos:
"Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal"?
Os Benfeitores da Humanidade responderam:
"Um sábio da antiguidade vo-lo disse: conhece-te a ti mesmo".
A Doutrina Espírita nos mostra o caminho que devemos percorrer para conseguirmos esse intento: o autoconhecimento.
A caminhada, portanto, é em sentido contrário ao que temos buscado até agora. É para dentro de nós mesmos, e não no exterior.
Alguns de nós não nos conhecemos, não fazemos ideia de quem somos, de qual será o nosso comportamento diante de determinada situação. Enfim, somos um ilustre desconhecido de nós mesmos.
Pelo desconhecimento dos nossos sentimentos, às vezes tomamos atitudes equivocadas que nos causam desagrado tão logo nos damos conta do ocorrido.
Uma senhora afirmava sempre que se um dia fosse assaltada ficaria imobilizada, petrificada, mas certamente não teria forças para qualquer atitude.
A sua amiga, por sua vez, dizia que reagiria, que se fosse preciso lutaria, mas não deixaria barato não.
Um dia ambas estavam conversando na calçada.
Um garoto passou e levou a bolsa daquela que disse que reagiria. Ela ficou paralisada.
A outra, que afirmara que ficaria imobilizada, saiu correndo atrás do menino, dando-lhe com a sua bolsa nas costas e gritando para que a devolvesse.
O menino, que não esperava tal reação, jogou a bolsa no chão e se foi, pois achou melhor salvar a própria vida.
Isso prova que ambas desconheciam suas tendências, pois diante do inesperado tiveram reações contrárias às que afirmavam que teriam.
Muitos de nós também nos desconhecemos, não costumamos fazer uma análise profunda da nossa intimidade.
Assim, facilmente nos surpreendemos conosco mesmos diante de situações inusitadas.
Para sabermos quanto de orgulho e egoísmo, piores chagas da sociedade, ainda carregamos em nós, basta que nos observemos com sinceridade, nos pequenos atos do quotidiano, que perceberemos com clareza.
Observando a nossa reação diante da indiferença de um amigo. Do pouco caso que fazem de um trabalho que executamos, do penteado ou da roupa que vestimos, ou quando alguém nos chama à atenção.
Cada pessoa é um universo que precisa ser descoberto, para que possa fazer brilhar a luz que jaz latente em seu íntimo.
Todos somos lucigênitos, filhos da luz, pois o Criador que é a Luz Suprema, assim nos fez a todos.
Se perscrutarmos com atenção nossa intimidade, perceberemos que já temos muitas conquistas, mas que ainda nos falta dar alguns passos para que brilhe de fato a nossa luz. É só uma questão de tempo e de disposição.
Santo Agostinho, um dos pais da Igreja, colaborou na codificação da Doutrina Espírita.
A resposta a que nos referimos no início, foi dada por ele.
Recomenda que cada um de nós faça como ele fizera quando viveu na terra. A cada noite ele fazia uma análise de como fora o seu dia.
Se questionava se fizera alguma coisa contra Deus, contra seu próximo e contra ele próprio. E sempre buscava corrigir o que precisava ser corrigido, buscando ser a cada dia, melhor que no dia anterior.
É uma caminhada longa a do autodescobrimento, no entanto, necessária ao nosso aperfeiçoamento.

Redação do Momento Espírita

Por que desdenhas?

"Examinai tudo. Retende o bem." - Paulo. (I TESSALONICENSES, 5:21.)
O cristão não deve perder o bom ânimo por mais inquietantes se apresentem as perplexidades do caminho. Não somente no que diz respeito à dor, mas também no que se reporta a costumes, acontecimentos, mudanças, perturbações...
Há companheiros excessivamente preocupados com a extensão dos erros alheios, sem se precatarem contra as próprias faltas. Assinalam casas suspeitas, fogem ao movimento social, malsinam fatos ou reprovam pessoas, antes de qualquer exame sério das situações. E nesse complexo emocional que os distancia da realidade, dilatam desentendimentos com pretensas atitudes de salvadores improvisados, que apenas acentuam a esterilidade do fanatismo.
Longe de prestarem benefícios reais, constituem material neutralizante do movimento renovador.
O Evangelho do Cristo, contudo, não instituiu cubículos de isolamento; procura estabelecer, aliás, fontes de Vida Abundante, em toda parte.
Examinar com imparcialidade é buscar esclarecimento.
Por que a condenação apressada ou a crítica destrutiva? Quando Paulo dirigiu a célebre recomendação aos tessalonicenses não se reportava apenas a livros e ciências da Terra. Referia-se a tudo, incluindo os próprios impulsos da opinião popular, com alusão aos fenômenos máximos e mínimos do caminho vulgar.
Em todas as ocorrências dos povos e das personalidades, em todos os fatos e realizações humanas, o aprendiz fiel da Boa Nova deve analisar tudo e reter o bem.
Por que te afastares do trabalho e da luta em comum? Por que desencorajar os que cooperam na lide purificadora com o teu impensado desdém? Se te sentes unido ao Cristo, lembra-te de que o Senhor a ninguém abandona, nem mesmo os seres aparentemente venenosos do chão.
XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de Luz. Pelo Espírito Emmanuel. 14.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1996. Capítulo 154.

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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

O preço de uma Vida

No momento em que nosso país discute a descriminalização do aborto e que tantas vozes se erguem na defesa da eliminação da vida,  uma pausa para reflexão se faz devida.
Quanto vale uma vida? Será que, por não ser ainda alguém que contribui para a sociedade, por não ter voz suficientemente alta para se defender, o embrião ou o feto merece a morte?
O que pretendemos com tal posicionamento?
Recordamos que na China, a partir de 1981, entrou em vigor a lei de um único filho.
Desde então, tem crescido o número de crianças, sobretudo meninas, abandonadas ao nascer.
A jornalista Xinran, hoje radicada em Londres, conta uma de suas experiências dolorosas, do ano de 1990.
Era uma manhã de inverno. Ao passar por um banheiro público, uma multidão ruidosa estava rodeando uma sacola de roupas, entregue ao vento da estrada.
A jornalista se aproximou e recolheu a trouxinha: era uma menina de apenas alguns dias.
Estava azul de tão gelada e o pequeno nariz tremia.
Ninguém ajudou Xinran. Ninguém moveu um  dedo para salvar a criança.
Ela a levou ao hospital, pagou pelos primeiros socorros mas ninguém ali estava com pressa de salvar aquela recém-nascida.
Somente quando Xinran apanhou seu gravador e começou a relatar o que via, um médico parou e levou o bebê para a emergência.
Uma enfermeira disse: Perdoe-nos a frieza. Há bebês  abandonados demais. Ajudamos mais de dez, mas depois ninguém queria se responsabilizar pelo futuro deles.
A vida se tornou ali tão banal, a sorte das meninas recém-nascidas é tão incerta que se prefere deixá-las morrer.
Será que é algo assim que desejamos para nosso país? Que a vida em formação se torne de importância nenhuma, de forma a que possa ser eliminada, em pleno florescer?
Pensemos nisso.
Hoje decide-se pela morte de milhares de brasileiros que nunca chegarão a ver a luz do sol.
Logo mais, poderemos ter leis que dirão quem pode ou não continuar vivo.
Um idoso que somente onera a sua família merecerá continuar a viver?
Um portador de anomalia grave ou deficiência mental?
Quem está desempregado, quem não contribui eficazmente para a sociedade!?
Para onde caminharemos?
Manifestemo-nos. Digamos aos nossos representantes que somos cristãos e prezamos a vida, que nos é dada por Deus, não competindo ao homem destruí-la, por livre deliberação.
Felizmente, para a pequenina chinesa, a voz  da jornalista soou forte. Ela transmitiu a história em seu programa de rádio.
As linhas telefônicas foram tomadas por chamadas de ouvintes. Alguns muito zangados pela sua atitude de salvar uma vida. Outras, solidárias.
Três meses depois, a menininha foi entregue a sua nova família: uma professora e um  advogado. E ganhou um nome: Better, que, em inglês, significa A melhor.
*
Recordemos que um dia, nós mesmos, frágeis, pequenos, aconchegamo-nos em um útero, rogando a um coração de mulher por vida e por amor.
E se hoje estamos escrevendo, lendo ou ouvindo este texto é porque nos foi permitido nascer.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita. Texto com base no cap. Os estrangeiros que adotam..., do livro O que os chineses não comem, de Xinran, ed. Companhia das Letras. Em 26.08.2008..

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domingo, 23 de novembro de 2014

Semeadores da Esperança

Possivelmente não terás pensado ainda no verbo formoso e grave a que todos somos chamados: criar para o progresso.
O Criador, ao dotar-nos de razão, a nós, criaturas, conferiu-nos o poder de imaginar, promover, originar, produzir.
Referimo-nos freqüentemente à lei de causa e efeito. Sabemos que ela funciona em termos de exatidão. Utilizamo-la, quase sempre, tão-só para justificar sofrimentos, esquecendo-lhe a possibilidade de estabelecer alegrias.
Causamos isso ou aquilo, geramos acontecimentos determinados. Experimentamos essa força que nos é peculiar, na formação de circunstâncias favoráveis aos homens.
Antes do comboio a vapor, a eletricidade já existia. Os transportes arrastavam-se pela tração, mas foi preciso que alguém desejasse criar na Terra a locomotiva, que se converteu a pouco e pouco no trem elétrico, a fim de que a Civilização aprimorasse os sistemas de condução que prosseguem para mais altas expressões evolutivas.
O firmamento era vasculhado pelos olhos humanos há milênios, mas foi necessário que um astrônomo inventasse lentes, para que os povos recolhessem as preciosas informações do Universo, que já havia antes deles.
O princípio é idêntico para a vida moral.
Precisamos hoje e em toda a parte dos criadores de harmonia doméstica e social, dos desenhistas de pensamentos certos, dos escultores de boas obras.
O tempo nos ensinará a entender a necessidade básica de se criarem condições para o entendimento mútuo, como já se estabeleceram normas para o trânsito fácil do automóvel.
Inventa em tua existência soluções de conforto, suscita motivos de paz, traça diretrizes de melhoria, faze o que ainda não foi aproveitado na realização da riqueza íntima de todos.
Provavelmente estamos na atualidade em estágio obscuro de lições, sob a atuação imperiosa de ações passadas. Mas não nos será correto esquecer que somos Inteligências com raciocínio claro e que, se antigamente nos foi possível colocar em ação as causas que neste momento e neste local nos infelicitam, retemos conosco a sublime faculdade de idear, planejar e construir.
Ajamos na construtividade de Jesus, sejamos semeadores de esperança.
pelo Espírito André Luiz, Do Livro: Estude e Viva, Médium: Francisco Cândido Xavier.

Ser e Parecer

A essência, o ser em si mesmo, constitui a individualidade, que avança mediante o processo reencarnatorio, adquirindo experiências e desenvolvendo as aptidões que lhes jazem inatas, heranças que são da sua origem divina.
A expressão temporária, adquirida em cada existência corporal, com as suas imposições e necessidades, torna-se a personalidade de que se reveste o Espírito, a fim de atingir a destinação que o aguarda.
*
A primeira tem o sabor da eternidade, enquanto a outra é transitória.
No âmago do ser encontra-se a vida pulsante, imorredoura, embora, na superfície, a aparência, o revestimento, quase sempre difere da estrutura que envolve.
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A individualidade resulta da soma das conquistas, através do êxito como do insucesso, logrados ao largo das lutas que lhe são impostas.
A personalidade varia conforme a ocasião e as circunstâncias, os interesses e as ambições.
Esta passa, enquanto aquela permanece.
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Máscara, forma de aparecer, a personalidade se adquire sem transformação substancial, profunda, ocultando, na maioria das vezes, o que se é, o que se pensa, o que se aspira.
Legítima, a individualidade se aprimora, qual diamante que fulge ao atrito abençoado do cinzel.
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A personalidade extravasa, formaliza, apresenta.
A individualidade     aprimora, realiza, afirma.
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À medida que o ser evolui, mergulha no mundo íntimo, introspectivamente, desenvolvendo os valores que dormem em embrião e se agigantam.
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O exterior desgasta-se e desaparece.
O interior esplende e agiganta-se.
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A semente que morre semente, não viveu, não realizou a missão que lhe estava reservada: multiplicar e produzir vida.
A gema, sem lapidação, jamais fulgura.
Faze a tua indagação à vida, em torno da tua destinação.
Quem és hoje e o que pretendes alcançar?
Cansado da aparência, realiza-te intimamente e desata as aptidões superiores que aguardam oportunidade e cresce para as finalidades elevadas da Vida.
Tenta ser, por fora, conforme evoluis por dentro, sendo a pessoa gentil, mas nobre, fulgurante e abnegada, afável, todavia leal.
Tua aparência, seja também tua realidade, esforçando-te, cada vez mais, para conseguir a harmonia entre a individualidade e a personalidade, refletindo os ideais de beleza e amor que te vitalizam.
FRANCO, Divaldo Pereira. Momentos de Coragem. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. LEAL.

* * * Estude Kardec * * *

Senhor!

Senhor!
A cada assalto, sequestro ou desastre aumenta-nos o medo de sair à rua, trabalhar, viajar, iniciar um empreendimento, viver.
No entanto, não há o que temer. Tu nos proteges, de várias maneiras. Até anjos puseste para nos instruir e defender.
Eles atuam, inspiram-nos, veem os perigos antes de nós, defendendo-nos mais do que os ferrolhos, cadeados e alarmes. São um presente dos céus, um acréscimo da Tua misericórdia; mas, dependem da nossa fé.
Tudo Te pertence, Senhor. A nossa vida, os bens, as posições. Por isso, já estamos seguros.
Confiamos em Ti, nos nossos anjos da guarda, e ficamos em paz.
Obrigado, Senhor, muito obrigado.
Autor:  Lourival Lopes

Livro: Preces da Vida – Editora Otimismo – 6ª Edição – Páginas: 234 à 235 – Brasília – Distrito Federal / 1996

sábado, 22 de novembro de 2014

Um coração afável

A complexidade da vida moderna parece conspirar contra a tua paz interior e, maquinalmente conduzido pela multifária engrenagem, sentes verdadeira conjuração dos fatores que conseguem, por fim, sulcar a tua face com os sinais da intranquilidade, da revolta, do azedume.
Não obstante o conforto que deriva das facilidades ao acesso de grande parte dos homens, experimentas sérias conjunturas afligentes que te molestam, solapando os alicerces da tua estrutura emocional.
Todavia, se te permitires ligeira análise das possibilidades que fluem ao teu alcance, modificarás as disposições negativas e te renovarás.
Enseja-te um coração afável.
Experimenta aplicar esses valores desconsiderados que são a palavra gentil, o gesto simpático, o sorriso delicado, a paciência generosa, e fortunas de verdadeira alegria espalharão moedas de bem-estar através de ti, envolvendo-te, também num halo de felicidade interior.
Francisco de Assis, embora enfermo e asceta, caminhando por sendas de cruas dificuldades, conseguia cantar as belezas da "irmã natureza", dos "irmãos animais", dos "irmãos pássaros"...
Helen Keller, conquanto limitada pela surdez, pela cegueira e pela mudez, pede exaltar a beleza das paisagens, a claridade das manhãs, a fragrância das flores, fazendo da existência um hino de louvor à vida...
Gandhi, apesar de dispor de vastos recursos para o triunfo mundano, abraçou a causa da "não violência" e deu-se integralmente aos aflitos e necessitados em constantes recitativos de amor à vida e abnegação pela vida.
Corações afáveis!
Quantas oportunidades desperdiças de semear júbilos fora e dentro de ti mesmo, porque insignificante problema toldou a luz do teu amanhecer, ou irritação por coisa de monta insignificante produziu um mal-estar na execução do teu programa? Lutaste para conservar a mágoa, disputando a tarefa de parecer e ser infeliz, esquecendo as fartas concessões que o teu coração, tornado afável, poderia conseguir!
Simplifica o teu roteiro de ação, dilata a visão do bem no panorama das tuas horas, e com o preço mínimo de um sorriso considera a coleta de júbilos que dele se deriva e que poderás colher.
Jesus, dilatando o seu coração afável, contou as mais belas hipérboles e hipérbatos, parábolas e poemas que o homem jamais escutou. Um grão de mostarda, uma moeda insignificante, algumas varas, uma pérola luminosa, peixes e redes, talentos e sementes receberam da sua afabilidade um toque especial de beleza que comoveram, a princípio, uma mulher atormentada por obsessão pertinaz, um príncipe petulante e douto, um cobrador de impostos rejeitado, jovens homens da terra e velhos marujos decididos, sensibilizando, depois, incontáveis corações para com eles inaugurar um reino diferente de amor, que até hoje é a mais fascinante História da Humanidade.
Começa, desse modo, desde agora, a experiência de manter um coração afável, disseminando bênçãos.
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"Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus". Mateus: capítulo 5º, versículo 8.
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"A pureza do coração é inseparável da simplicidade e da humildade. Exclui toda ideia de egoísmo e de orgulho" Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo 8º - Item 3.
FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 34.

* * * Estude Kardec * * *

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Obstáculos e Resultados

A compassividade de Deus, através de suas leis justas e perfeitas, conhece por antecipação todas as nossas necessidades e da mesma forma os nossos méritos muito melhor do que nós mesmos.
As benesses de Deus são entregues de igual modo para todos. A sua bondade e misericórdia usam de um só e justo critério de distribuição para todos.
Acontece, porém, que a Lei do Merecimento, que regula essa distribuição, determina que cada um receba de conformidade com a sua capacidade, pois ela se regulamenta pelas ações individualizadas.
Assim sendo, compreendemos que cada um de nós está possuindo aquilo que precisa ter e passando exatamente por aquilo que deve passar. Isso porque Deus não erra, não castiga e não persegue. "A cada um segundo suas obras", ensinou Jesus.
É natural desejarmos e lutarmos por soluções através de benefícios de ordem espiritual que venham alterar o quadro de nossas necessidades e sofrimentos. Entretanto, se nos dedicarmos ao estudo sério do Espiritismo, que ajuda o nosso entendimento a respeito da justiça divina, compreenderemos que não há como conseguir isso através de ações milagrosas e nem com urgência. A lei divina que é imutável não vai alterar seu curso só porque estamos com pressa.
Será natural então aceitarmos a ideia de que teremos que construir o nosso próprio crédito espiritual, alterando assim o nosso merecimento.
O Espiritismo, na qualidade da Terceira Revelação dada ao homem, nos ajuda nesta parte, primeiro a descobrir qual o problema que está causando as dificuldades por que passamos e depois orienta-nos como agir, do que carecemos e o que nos é possível fazer no encontro da solução adequada.
O homem comum, aquele que ainda não despertou o interesse por questões a respeito da vida espiritual, encontra muitas dificuldades para esse despertamento consciencial. Felizes são os que venham a se interessar pelos estudos espíritas, pois passam a compreender que primeiro é necessário identificar nossa realidade íntima, o que somos, e, a seguir, aceitar as alterações a serem processadas em nossa vida, pondo as mãos no arado para as mudanças que precisam ser feitas.
É importante ficarmos alertas para com as companhias espirituais que nos cercam por afinidade, pois, segundo André Luiz, existe o "Hálito Mental", o reflexo do que pensamos e sentimos, através do qual somos identificados pelo mundo espiritual. Nosso esforço em melhorar implica na troca desses companheiros espirituais. Essa é a Lei de Deus, lei do merecimento.
Para essa tarefa, comecemos por trabalhar o nosso egoísmo, pois de todas as imperfeições humanas é a mais difícil de ser extirpada, porque se liga à influência da matéria, da qual o homem é ainda escravo, por estar muito perto de sua origem, e ter dificuldade dela se libertar.
A boa vontade é instrumento indispensável para que comecemos a mudar o falso modo de encarar as coisas e interpretar a vida, usando o bom senso na própria avaliação. Em verdade somos responsáveis pelo nosso comportamento, por sermos pessoas adultas e agora conscientes de onde viemos, o que estamos fazendo e para onde iremos depois que a morte nos levar daqui.  Assim devemos controlar nossas ideias, rejeitando os pensamentos inferiores e perturbadores, estimulando as tendências boas e repelindo as más.
Tomemos conta de nós. Deus nos concedeu o livre-arbítrio para essa finalidade. Aprendamos a controlar em todos os instantes e em todas as circunstâncias o nosso poder e veremos que ele é maior do que pensamos.
Quase sempre encaramos as pessoas de modo desconfiado, indiferente, principalmente aquelas que são de nossa intimidade imediata, o que denota desrespeito e desamor. Procuremos mudar essa maneira de agir, colocando atenção pelos outros. Exercitemos estes conceitos e verificaremos os resultados positivos advindos daí.
Tudo isso é muito importante se colocado em prática nos dias de nossa vida. Estaremos criando em torno de nós a empatia e o afeto daqueles com quem convivemos e assim iremos ganhando bônus espirituais que muito nos ajudarão na obtenção dos resultados possíveis de alcançar na presente existência terrena. Será, sem dúvida, um passo a mais na nossa caminhada.
por Edo Mariani - Matão/SP
extraído do Informativo Espiritismo Estudado, do Centro Espírita Humberto de Campos

Senhor!

Principalmente em família, dá-nos a paz. Sem essa paz, o mundo é pesado e complicado. Com o entendimento e o respeito mútuo dentro de casa, porém, o trabalho é alegre, resolvem-se os problemas, vive-se bem.
Faze de nossa família, Senhor, uma corrente de elos resistentes.
Que, com a Tua bênção, nos aprofundemos no conhecimento de nós mesmos e entre nós mesmos.
Não deixes que, em nenhum momento, se imponha entre nós a acusação, o ciúme, a violência; mas que, até por olhares e gestos, nos amemos. Que ajudemos a sociedade com a energia positiva da paz em família.
Obrigado, Senhor, muito obrigado!
Autor:  Lourival Lopes

Livro: Preces da Vida – Editora Otimismo – 6ª Edição – Páginas: 162 à 163 – Brasília – Distrito Federal / 1996

Deus!

O que seria de nós, sem Ti? O que seria de nós sem a Tua luz que nos clareia os caminhos? Que seria de nós sem a Tua força que nos sustenta a marcha?
De Ti vêm todas as boas coisas, a direção para os nossos pés, a disposição para viver, o bem estar.
Agora, colocamos o nosso pensamento à Tua disposição, com fé. Recebemos um influxo para cima, para a alegria, para compreender o que podemos dar e receber, o que somos e para onde vamos.
Consideramos vencidos em nós os vícios, a maldade, o pessimismo, a solidão, e, com isso, a paz se apresenta.
Sustenta, ó Deus, a nossa vida nesse bom sentido.
Obrigado, Deus, muito obrigado!
Autor:  Lourival Lopes
Livro: Preces da Vida – Editora Otimismo – 6ª Edição – Páginas: 138 à 139 – 

Caridade do Pensamento

Sabemos todos que o pensamento é onda de vida criadora, emitindo forças e atraindo-as, segundo a natureza que lhe é própria.
Fácil entender, à vista disso, que nos movemos todos num oceano de energia mental.
*
Cada um de nós é um centro de princípios atuantes ou de irradiações que liberamos, consciente ou inconscientemente.
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Sem dúvida, a palavra é o veículo natural que nos exprime as ideias e as intenções que nos caracterizem, mas o pensamento, em si, conquanto a força mental seja neutra qual ocorre à eletricidade, é o instrumento genuíno das vibrações benéficas ou negativas que lançamos de nós, sem a apreciação imediata dos outros.
Meditemos nisso, afastemos do campo íntimo qualquer expressão de ressentimento, mágoa, queixa ou ciúme, modalidades do ódio, sempre suscetível de carrear a destruição.
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Se tens fé em Deus, já sabes que o amor é a presença da luz que dissolve as trevas.
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Cultivemos a caridade do pensamento.
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Dá o que possas, em auxílio aos outros, no entanto, envolve de simpatia e compreensão tudo aquilo que dês.
*
No exercício da compaixão, que é a beneficência da alma, revisa o que sentes, o que desejas, o que acreditas e o que falas, efetuando a triagem dos propósitos mais ocultos que te inspirem, a fim de que se traduzam em bondade e entendimento, porque mais dia menos dia, as nossas manifestações mais íntimas se evidenciam ou se revelam, inelutavelmente, de vez que tudo aquilo que colocarmos, no oceano da vida, para nós voltará.
XAVIER, Francisco Cândido. Paciência. Pelo Espírito Emmanuel. CEU.

* * * Estude Kardec * * *

domingo, 16 de novembro de 2014

É preciso parar

Há momentos em que a tempestade é forte, tudo parece ruir.
A quem recorrer, onde se agarrar se tudo parece estar desmoronando conosco?
Esse é o sinal vermelho de parada.
Algo não vai bem em nossa vida, e nós nem nos demos conta disso. Só percebemos agora, que a crise chega com força total.
Mas ainda bem que aconteceu a tempestade!
É preciso parar, encontrar um porto, lançar âncoras.
E lembrar que vida não é só trabalho, é também lazer, diálogo, reflexão, oração...
Façamos uma pausa para olhar o céu, sentir a brisa do mar; andar por um parque, brincar com as crianças, conversar com os vizinhos, entrar em uma igreja...
Sobretudo, neste momento, busquemos a Deus.
Ele está esperando por isso, Ele quer encontrar-se conosco.
Ele pode ter batido tantas vezes em nossa porta!
Finalmente, nós o escutamos.
Isso foi maravilhoso, está despertando em nós uma vida nova.
                    (De “Como Lidar com a Depressão”, de Carmem Seib)
"Não importa o que fizeram a você.
O que importa é o que você faz com
aquilo que fizeram para você".

Jean-Paul Sartre (1905-1980) - Filósofo francês

A alegria no dever

Quando Jesus estava entre nós, recebeu certo dia a visita do apóstolo João, muito jovem ainda, que lhe disse estar incumbido, por seu pai Zebedeu, de fazer uma viagem a povoado próximo.
Era, porém, um dia de passeio ao monte e o moço achava-se muito triste.
O Divino Amigo, contudo, exortou-o a cumprir o dever.
Seu pai precisava do serviço e não seria justo prejudicá-lo.
João ouviu o conselho e não vacilou.
O serviço exigiu-lhe quatro dias, mas foi realizado com êxito.
Os interesses do lar foram beneficiados, mas Zebedeu, o honesto e operoso ancião, afligiu-se muito porque o rapaz regressara de semblante contrafeito.
O Mestre notou-lhe o semblante sombrio e, convidando-o a entendimento particular, observou:
- João, cumpriste o prometido?
- Sim — respondeu o apóstolo.
— Atendeste à Vontade de Deus, auxiliando teu pai?
— Sim — tornou o jovem, visivelmente contrariado —, acredito haver efetuado todas as minhas obrigações.
Jesus, entretanto, acentuou, sorrindo calmo:
- Então, ainda falta um dever a cumprir — o dever de permaneceres alegre por haveres correspondido à confiança do Céu.
O companheiro da Boa Nova meditou sobre a lição e fez-se contente.
A tranqüilidade voltou ao coração e à fisionomia do velho Zebedeu e João compreendeu que, no cumprimento da Vontade de Deus, não podemos e nem devemos entristecer ninguém.
pelo Espírito Meimei, Do Livro: Pai Nosso, Médium: Francisco Cândido Xavier.

Um coração renovado

A noite de 7 de abril de 1955 integrou a semana com que a Cristandade rememorou a flagelação de Jesus.
Em nosso Grupo foi mais Intensa a movimentação socorrista em favor dos sofredores desencarnados, dentre os quais sobressairam diversos irmãos hansenianos que, mesmo além da morte, revelavam dolorosas fixações mentais de revolta e amargura.
Vários dos médiuns presentes foram veículos deles, convocando-nos ao argumento evangélico e à oração para o alívio que reclamavam. Concluindo as nossas tarefas, no horário dedicado aos Instrutores Espirituais, os recursos psicofônicos do médium Xavier foram ocupados pelo poeta Jésus Gonçalves, desencarnado em Pirapitinguí, que também passou pela provação da lepra, cuja palavra nos trouxe amoroso esclarecimento.
“Amigos.
Sou o vosso irmão Jésus Gonçalves, o leproso de Pirapitinguí, a quem o Espiritismo ofereceu nova visão da vida.
Agradeço-vos o concurso fraterno, em socorro dos irmãos hansenianos desencarnados.
Vieram conosco, entre a lamentação e a revolta, perturbados e oprimidos...
No mundo, receberam a chaga física por maldição, quando poderiam utilizá-la como porta salvadora, e, no mundo espiritual, experimentam os efeitos da rebeldia.
Trazem, ainda, na organização perispirítica, os remanescentes da enfermidade que os acabrunhava e, no íntimo, sofrem a indisciplina e a inconformação.
Graças a Jesus, porém, recolheram o benefício da calma, pelas sementes de renovação evangélica espalhadas em vossos estudos de hoje e esperamos possam imprimir, desde agora, novos rumos à própria transformação.
E, agora, peço permissão para orar convosco.
Nesta noite, em que toda a Cristandade se volta, reconhecida, para a memória do Mestre, sentimo-Lo igualmente em seu derradeiro sacrifício e, mentalizando-O no madeiro, de alma genuflexa, trazemos a Ele, nosso Eterno Amigo e Divino Benfeitor, a nossa prece de leproso diante da cruz.”
Em seguida a leve pausa, o Espírito Jésus Gonçalves modificou a inflexão de voz e, erguendo-se para o Alto, orou, em lágrimas, comovedoramente:
“Senhor, eu que vivia em vãos clamores,
Vinha de longe em ânsias aguerridas,
Sob a trama infernal de horrendas lidas,
Entre largos caminhos tentadores.

Tronos, glórias, tiaras, esplendores
E cidades famélicas vencidas...
Tudo isso alcancei, de mãos erguidas
Aos gênios tenebrosos e opressores.

Mas, fatigado, enfim, de ser verdugo,
Roguei, chorando, a graça de teu jugo
E enviaste-me a lepra e a solidão.
E, confinado às dores que me deste,
Abriu-se-me a visão à luz celeste,
E achei-te, excelso, no meu coração.

Hoje, Mestre, ante a cruz em que te apagas,
Na compaixão que ajuda e renuncia,
Não te peço o banquete da alegria,
Embora o doce olhar com que me afagas.

Venho rogar-te a túnica das chagas
Para que eu volte à estrada escura e fria,
Em que os filhos da noite e da agonia
Sofrem ulcerações, bramindo pragas...

Dá-me, de novo, a lepra que redime,
Conservando-me a fé por dom sublime,
Agora que, contente, me prosterno!...
E que eu possa exaltar, por muitas vidas,
Sobre o lenho de angústias e feridas,
O teu reino de amor divino e eterno.”
pelo Espírito Jésus Gonçalves, Do Livro: Instruções Psicofônicas, Médium: Francisco Cândido Xavier.