terça-feira, 29 de abril de 2014

Medo da mudança

Toda a mudança gera medo, porque toda mudança o leva ao desconhecido, a um mundo estranho.
Se nada mudar e tudo permanecer estático, você nunca terá medo algum.
Isto significa que se tudo estiver morto, você não terá medo.
Por exemplo, você está sentado e existe uma rocha ao seu lado. Não há nenhum problema: você olha para a rocha e está tudo bem. De repente, a rocha começa a se mover; você fica assustado. Vivo!
Movimento gera medo; e se tudo estiver parado, não há nenhum medo. Eis porque pessoas, com medo de cair em situações temerosas, arranjam uma vida sem mudanças. Tudo permanece na mesma e a pessoa segue uma rotina morta, completamente esquecida de que a vida é um fluxo.
Ela permanece numa ilha própria onde nada muda. A mesma sala, as mesmas fotografias, a mesma mobília, a mesma casa, os mesmos hábitos, as mesmas camas - tudo na mesma. Entre isso, no meio dessa mesmice, a pessoa sente-se à vontade.
As pessoas vivem quase que em seus túmulos.
O que chama de uma vida conveniente e confortável não é nada senão um túmulo disfarçado.
Então, quando você começa a mudar, quando começa na jornada do espaço interior, quando se torna um astronauta do espaço interior, tudo está a mudar depressa, cada momento tremendo de medo. Desse modo, mais e mais medo precisa ser enfrentado.
Deixe o medo estar lá. Pouco a pouco começará a desfrutar tanto das mudanças que estará preparado a qualquer custo.
Mudanças irão dar-lhe vitalidade. Mais vivacidade, alegria, energia.
Então você não será como um poço - fechado por todos os lados, estático.
Você se tornará como um rio correndo em direção ao desconhecido, em direção ao oceano onde desaparece.

(Osho​)

domingo, 27 de abril de 2014

Aflição vazia

Ante as dificuldades do cotidiano, exerçamos a paciência, não apenas em auxílio aos outros, mas igualmente a favor de nós mesmos. 
Desejamos referir-nos, sobretudo, ao sofrimento inútil da tensão mental que nos inclina à enfermidade e nos aniquila valiosas oportunidades de serviço. 
No passado e no presente, instrutores do espírito e médicos do corpo combatem a ansiedade como sendo um dos piores corrosivos da alma. De nossa parte, é justo colaboremos com eles, a benefício próprio, imunizando-nos contra essa nuvem da imaginação que nos atormenta sem proveito, ameaçando-nos a organização emotiva. 
Aceitemos a hora difícil com a paz do aluno honesto, que deu o melhor de si, no estudo da lição, de modo a comparecer diante da prova, evidenciando consciência tranqüila. 
Se o nosso caminho tem as marcas do dever cumprido, a inquietação nos visita a casa íntima na condição do malfeitor decidido a subvertê-la ou dilapidá-la e assim como é forçoso defender a atmosfera do lar contra a invasão de agentes destrutivos, é indispensável policiar o âmbito de nossos pensamentos, assegurando-lhes a serenidade necessária... 
Tensão à face de possíveis acontecimentos lamentáveis é facilitar-lhes a eclosão, de vez que a idéia voltada para o mal é contribuição para que o mal aconteça e tensão à frente de sucessos menos felizes é dificultar a ação regenerativa do bem, necessário ao reajuste das energias que desastres ou erros hajam desperdiçado. 
Analisemos desapaixonadamente os prejuízos que as nossas preocupações injustificáveis causam aos outros e a nós mesmos, e evitemos semelhante desgaste empregando em trabalho nobilitante os minutos ou as horas que, muita vez, inadvertidamente, reservamos à aflição vazia. 
Lembremo-nos de que as Leis Divinas, através dos processos de ação visível e invisível da natureza, a todos nos tratam em bases de equilíbrio, entregando-nos a elas, entre as necessidade do aperfeiçoamento e os desafios do progresso, com a lógica de quem sabe que tensão não substitui esforço construtivo, ante os problemas naturais do caminho. E façamos isso, não apenas por amor aos que nos cercam, mas também a fim de proteger-nos contra a hora da ansiedade que nasce e cresce de nossa invigilância para asfixiar-nos a alma ou arrasar-nos o tempo sem qualquer razão de ser. 
* * * 

Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Encontro marcado.
Ditado pelo Espírito Emmanuel.

sábado, 26 de abril de 2014

Dentro do Lar

Famílias-problemas!...
Irmãos que se antagonizam...
Cônjuges em lamentáveis litígios...
Animosidades entre filho e pai, farpas filha e mãe...
Afetos conjugais que se desmantelam torvas acrimônias...
Sorrisos filiais que se transfiguram idiossincrasias e vinditas...
Tempestades verbais em discussões extemporâneas...
Agressões infelizes de conseqüências fatais...
Tragédias nas paredes estreitas das famílias...
Enfermidades rigorosas sob látegos de impiedosa maldade...
Mãos encanecidas sob tormentos de filhos dominados por ódios inomináveis.
Pais enfermos açoitados por filhas obsidiadas, em conúbios satânicos de reações violentas em cadeia de ira...
Irmãos dependentes sofrendo agressões e recebendo amargos pães, fabricados com vinagre e fel de queixa e recriminações...
Famílias em guerras tiranizantes, famílias-problemas!
*
É da Lei Divina que o infrator renasça ligado à infração que o caracteriza.
A justiça celeste estabeleceu que a sementeira tem caráter espontâneo, mas a colheita tem impositivo de obrigatoriedade.
O esposo negligente de ontem, hoje recebe no lar a antiga companheira nas vestes de filha ingrata e maldizente.
A nubente atormentada, que no passado desrespeitou o lar, acolhe nos braços, no presente, o esposo traído vestindo as roupas de filho insidioso e cruel.
O companheiro do pretérito culposo se reivincula pela consangüinidade à vítima, desesperada, reencontrando-a em casa como irmão impenitente e odioso.
O braço açoitador se imobiliza sob vergastadas da loucura encarcerada nos trajos da família.
Desconsideração doutrora, desrespeito da atualidade.
Insânia gerando sandice e criminalidade alimentando aversões.
Chacais produzindo chacais.
Lobos tombando em armadilhas para lobos.
Cobradores reencarnados junto às dívidas, na província do instituto da família, dentro do lar.
*
Acende a claridade do Evangelho no lar e ama a tua família-problema, exercitando humildade e resignação.
Preserva a paciência, elaborando o curso de amor nos exercícios diários do silêncio entre os panos da piedade para os que te compartem o ninho doméstico, revivendo os dias idos com execrandas carantonhas, sorvendo aze­ dume e miasmas.
Não renasceste ali por circunstância anacrônica ou casual.
Não resides com uma família-problema por fator fortuito nem por engano dos Espíritos Egrégios.
Escolheste, antes do retorno ao veículo físico, aqueles que dividiriam contigo as aflições superlativas e os próprios desenganos.
Solicitaste a bênção da presença dos que te cercam em casa, para librares com segurança nos cimos para onde rumas.
Sem eles faltariam bases para os teus pés jornadeiros.
Sem a exigência deles, não serias digno de compartilhar a vilegiatura espiritual com os Amorosos Guias que te esperam.
São eles, os parentes severos nos trajos de verdugos inclementes, a lição de paciência que necessitas viver, aprendendo a amar os difíceis de amor para te candidatares ao Amor que a todos ama.
A mensagem espírita, que agora rutila no teu espírito transformado em farol de vivo amor e sabedoria, é o remédio-consolo para tuas dores no lar, o antídoto e o tratado de armistício para o campo de batalha onde esgrimas com as armas da fé e da bondade, apaziguando, compreendendo, desculpando, confiando em horas e dias melhores para o futuro...
Apóia-te ao bastão da certeza reencarnacionista, aproveita o padecimento ultriz, ajuda os verdugos da tua harmonia, mas dá-lhes a luz do conhecimento espírita para que, também eles, os problemas em si mesmos, elucidem os próprios enigmas e dramas, rumando para experiências novas com o coração afervorado e o espírito tranqüilo.
FRANCO, Divaldo Pereira. SOS Família. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 9.

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Caminhos do Coração

Multiplicam-se os caminhos do processo evolutivo, especialmente durante a marcha que se faz no invólucro carnal.
Há caminhos atapetados de facilidades, que conduzem a profundos abismos do sentimento.
Apresentam-se caminhos ásperos, coalhados de pedrouços que ferem, na forma de vícios e derrocadas morais escravizadores.
Abrem-se, atraentes, caminhos de vaidade, levando a situações vexatórias, cujo recuo se torna difícil.
Repontam caminhos de angústia, marcados por desencantos e aflições desnecessárias, que se percorrem com loucura irrefreável.
Desdobram-se caminhos de volúpias culturais, que intoxicam a alma de soberba, exilando-a para as regiões da indiferença pelas dores alheias.
Aparecem caminhos de irresponsabilidade, repletos de soluções fáceis para os problemas gerados ao longo do tempo.
Caminhos e caminhantes!
Existem caminhos de boa aparência, que disfarçam dificuldades de acesso e encobrem feridas graves no percurso.
Caminhos curtos e longos, retos e curvos, de ascensão e descida estão por toda parte, especialmente no campo moral, aguardando ser escolhidos.
Todos eles conduzem a algum lugar, ou se interrompem, ou não levam a parte alguma... São, apenas, caminhos: começados, interrompidos, concluídos...
*
Tens o direito de escolher o teu caminho, aquele que deves seguir.
Ao fazê-lo, repassa pela mente os objetivos que persegues, os recursos que se encontram à tua disposição íntima, assinalando o estado evolutivo, a fim de teres condição de seguir.
Se possível, opta pelos caminhos do coração.
Eles, certamente, levarão os teus anseios e a tua vida ao ponto de luz que brilha à frente, esperando por ti.
*
O homem estremunha-se entre os condicionamentos do medo, da ambição, da prepotência e da segurança que raramente discerne com correção.
O medo domina-lhe as paisagens íntimas, impedindo-lhe o crescimento, o avanço, retendo-o em situação lamentável, embora todas as possibilidades que lhe sorriem esperança.
A ambição alucina-o, impulsionando-o para assumir compromissos perturbadores que o intoxicam de vapores venenosos, decorrentes da exagerada ganância.
A prepotência anestesia-lhe os sentimentos, enquanto lhe exacerba as paixões inferiores, tornando-o infeliz, na desenfreada situação a que se entrega.
A liberdade a que aspira, propõe-lhe licenças que se permite sem respeito aos direitos alheios nem observância dos deveres para com o próximo e a vida, destruindo qualquer possibilidade de segurança, que, aliás, é sempre relativa enquanto se transita na veste física.
Os caminhos do coração se encontram, porém, enriquecidos da coragem, que se vitaliza com a esperança do bem, da humildade, que reconhece a própria fragilidade e satisfaz-se com os dons do espírito ao invés do tresvariado desejo de amealhar coisas de secundária importância os serviços enobrecedores e a paz, que são a verdadeira segurança em relação às metas a conquistar.
Os caminhos do coração encontram-se iluminados pelo conhecimento da razão, que lhes clareia o leito, facilitando o percurso.
*
Jesus escolheu os caminhos do coração para acercar-se das criaturas e chamá-las ao Reino dos Céus. Francisco de Assis seguiu-Lhe o exemplo e tornou-se o herói da humildade.
Vicente de Paulo optou pelos mesmos e fez-se o campeão da caridade.
Gandhi redescobriu-os e comoveu o mundo, revelando-se como o apóstolo da não violência.
Incontáveis criaturas, nos mais diversos períodos da Humanidade e mesmo hoje, identificaram esses caminhos do coração e avançam com alegria na direção da plenitude espiritual.
Diante dos variados caminhos que se desdobram convidativos, escolhe os caminhos do coração, qual ovelha mansa, e deixa que o Bom Pastor te conduza ao aprisco pelo qual anelas.
FRANCO, Divaldo Pereira. Momentos de Felicidade. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 1.

* * * Estude Kardec * * *

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Quando Ele chegou...

Aqueles eram dias tormentosos a estes semelhantes.
O monstro da guerra devorava as nações, que se transformavam em amontoados de cadáveres e pasto de devastação, enquanto a loucura do poder temporal escravizava as vidas nas malhas fortes da sua dominação impiedosa.
O ser humano valia menos do que uma animália, como ocorre hoje quando o denominam como excluído, tombando na exaustão da miséria.
Os vencedores alucinados exultavam nos cárceres internos que os enlouqueciam quando passeavam a sua hediondez nos carros do triunfo aureolados de folhas de mirto ou de loureiro.
O medo aparvalhava os já infelizes atirados ao deserto dos sentimentos indiferentes daqueles que os devoravam como abutres. A esperança vivia asfixiada no desprezo, sem oportunidade de expandir-se nos países submetidos.
Nada obstante, reinava um fio de expectativa em a noite de dores inenarráveis.
As agonias extremas abateram-se sobre Israel por longos séculos de horror e desespero.
Mas o fio de esperança era a expectativa da chegada do Messias, vingador e poderoso, como os algozes de então, anunciado pelos profetas antigos e descrito por Isaías, há quase setecentos anos...
Ele seria poderoso e arrancaria o jugo hediondo de sobre o seu povo, concedendo-lhe benesses e glórias.
Enquanto isso, predominava a opressão dos que tombaram sob as legiões voluptuosas do Império Romano desde a vitória de Pompeu e todos os males que dela advieram...
Um estrangeiro execrando, mais cruel do que o romano, dominava o país ultrajado e vergado pela vergonha do asmoneu insano, que beijava as mãos de César, adornava-as de ouro e púrpura arrancados do suor e do sangue do povo que submetia.
Os impostos roubavam o alento e o parco pão dos desvalidos, enquanto o desconforto cantava em toda parte a litania da miséria e da servidão.
Aumentava a mole dos desventurados que abarrotavam as cidades enquanto os campos ficavam ao abandono.
Tudo era escasso, especialmente o amor que fugira envergonhado dos corações, enquanto a compaixão e a misericórdia ocultaram-se dos espoliados e indigentes.
A ingênua alegria das massas fugira dos seus corações que passaram a homiziar o ressentimento e o crime, a degradação e as paixões vis, a serviço das intrigas intérminas e das lutas vergonhosas.
Os potentados, especialmente os fariseus, os saduceus e os cobradores de impostos, todos odiados também, detestavam-se uns aos outros, enquanto eram, por sua vez, desprezados...
A vil política de Jerusalém estendera-se por todo o território israelense e ninguém escapava à sua inclemente perseguição.
A própria Natureza, naqueles dias, sofria inclemência dos dias quentes e das noites mornas, sem a suave brisa cantante que carreava o perfume das rosas e das flores silvestres.
A fria Judeia era amada em razão do seu fabuloso Templo, ornado de ouro e de gemas preciosas, mas também odiada pela governança insensível que lhe aumentara o poder.
Os chacais que a administravam espoliavam a ignorância e as superstições do povo humilhado que ali buscava consolação.
*
Ele crescera no deserto e robustecera o caráter na aridez e ardência da região sem vida e sem beleza.
Mergulhara o pensamento no abismo das reflexões, por anos a fio, buscando entender o objetivo primordial da existência, Deus e Sua justiça, diferente de tudo aquilo que havia ouvido dos sacerdotes indignos.
As noites estreladas e frias refrescaram-lhe a alma que ardia em febre de expectativas pela chegada do Rei libertador de consciências e de sentimentos.
Ele sabia, sem saber como, que fora designado, mesmo antes do berço, de anunciar o Messias e, por essa razão, no momento próprio transferiu-se para o vau da  Casa da Passagem, no rio Jordão, a fim de anunciá-lO.
A sua era uma voz tonitruante e o seu um aspecto chocante, mesmo para os padrões daqueles dias especiais. Os seus olhos brilhavam como lanternas acesas quando ele falava sobre o Ungido de Deus.
Afirmava que Ele já se encontrava entre todos e seguia desconhecido. Também asseverava que Ele viria fazer justiça, punir os réprobos morais, submeter os insubmissos, vingar-se do abandono a que fora relegado pelos tempos longos.
As multidões que se reuniam na praia fresca do rio fascinavam-se por temor, por necessidade de um Salvador.
Elucidava que Ele era tão grande, o Triunfador a quem servia, que não era digno sequer de amarrar os cordéis das Suas sandálias.
E batizava, lavando simbolicamente as misérias do homem comprometido, a fim de que ressurgisse o novo ser aureolado de bênçãos.
Não conhecia ainda o Messias, mas adivinhava-O.
Inesperadamente, em formosa manhã, no meio da multidão Ele surgiu, aproximou-se, e os seus olhos detiveram-se uns nos outros, então ele exclamou, tomado de lágrimas e sorriso: - Este é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!
Como Ele era belo e manso, suave e meigo, discreto e amoroso!
Aquele Homem-sol curvou-se diante dele e disse-lhe: -Cumpre as profecias...
Estranho temor tomou-lhe todo o corpo austero e pensou como seria possível ao servo permanecer ereto enquanto o Rei se dobrava com sublime humildade.
Era seu primo e não O conhecia, era seu mentor e ele O serviria...
A partir daquele momento inolvidável, o seu verbo amaciou, a sua voz passou a cantar, a sua vida se modificou.
Antes de morrer, inquieto e expectante, enviou-Lhe dois discípulos, a fim de que tivesse a confirmação de ser Ele o Messias.
Desejava retornar à pátria em paz e segurança.
Na terrível noite da fortaleza de Macaeros ou Maqueronte, na Pereia, após o longo cativeiro de meses, a sua voz foi silenciada pela espada do sicário Herodes Antipas, por solicitação de Salomé, filha da sua mulher ambiciosa e atormentada...
*
Na madrugada espiritual que passou a vestir Israel de luz,o canto de amor começou a ecoar desde as praias do mar da Galileia até a tórrida Judeia, dos contrafortes dos montes Galaad, da cadeia de Golan até a longínqua região do Aravá, o vale que se estende além do Mar Morto, por toda parte.
As multidões que acorriam para vê-lO, para ouvi-lO, eram mais ou menos iguais às de hoje, ansiosas e sofredoras, inebriando-se com a melodia rica de beleza, de suavidade, de esperança.
As ráfagas ora brandas da alegria penetravam os casebres e os bordéis, as sinagogas e as ruas, diminuindo a aspereza do sofrimento.
Os corpos em decomposição refaziam-se ao delicado toque das Suas mãos, enquanto os olhos apagados recuperavam a clara luz da visão, os ouvidos moucos se abriam aos sons e a Natureza explodia em festa de perfume e de estesia.
Por onde Jesus passava nada permanecia como antes.
O Messias do amor chegara sem exércitos, sem clarins anunciadores, sem forças de impiedade e, por isso, não foi bem recebido pela ímpia Judeia, pelos iludidos do mentiroso poder temporal.
Seu incomparável canto ainda prossegue, há dois mil anos incessantes, convidando com invulgar ternura: - Vinde a mim e eu vos consolarei...
Incompreendido ainda hoje, submetido às nefárias paixões dos séculos, imposto a ferro e a fogo no passado, deixado ao abandono, jamais se apagou da memória da Humanidade que sempre O tem necessitado.
E hoje, como naqueles dias de turbulências e de incompreensões, de poder mentiroso e arrogância doentia, a Sua música prossegue e é ouvida somente por aqueles que silenciam o tormento, deleitando-se com o Seu convite e declaração graves: -É leve o meu fardo e suave o meu jugo. Vinde!
Ele veio como uma primavera de bênçãos para sempre e aguarda!
Divaldo Pereira Franco. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na reunião mediúnica de  31 de julho de 2013, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia. Fonte: http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=347.

* * * Estude Kardec * * *

O porão interior

É comum termos receio de descer até o porão de nossa consciência, porque lá vamos nos deparar com muitos espelhos a refletir as nossas imagens – Sim, nossas imagens!
A verdade é que o tempo passa e nós nem ao menos perguntamos por que adotamos determinados padrões de comportamentos em nossa vida, passando a sofrer desnecessariamente, nos auto-sabotando com a ideia de falsas necessidades e tantas outras justificativas a nossa escolha.
O que hoje chamamos de mundo moderno, tem nos cobrado um preço muito cruel, resultando em insatisfação. - Pasmem! Somos insatisfeitos.
Com tantos recursos que possuímos ao nosso favor, ainda assim, escolhemos o caminho da insatisfação, da dor e do sofrimento.
Insistimos em manter no porão do nosso edifício interior, móveis, decorações e acabamentos, que não combinam com o novo modelo de vida que almejamos conquistar. A saída então é descer até o porão, acender a luz e começar a faxina, descartando tudo o que é desnecessário e que já não nos serve mais, medo, insegurança, lembranças amargas, tristezas, tudo isso é acumulo de energias negativas e sabotadoras, que tem um único objetivo – Nos privar do direito de sermos felizes.
Do nosso porão interior exteriorizam os nossos reflexos, o que atrai naturalmente as circunstâncias ideais e tão necessárias para nossa reeducação perante a vida. Portanto se as reincidências estão constantes no cenário do dia a dia, está na hora de revermos alguns de nossos antigos conceitos.
Como esta o porão do nosso edifício interior? Temos feito nossa faxina regularmente?
Calma! Respire sem pressa e pense... E se for preciso, mãos a obra.
Temos tudo, tudo mesmo! Em potencial somos um rei que dorme, mas ainda insistimos em levar uma vida de mendigo, simplesmente porque acreditamos que nossa felicidade é algo que esta logo ali, e não aqui.
A frustração é que este “logo ali”, que desenhamos e pintamos em nosso quadro íntimo, nunca chega para nós com as mesmas cores e nuances do original, pois os reflexos distorcidos do nosso porão roubam este momento, nos impedindo de ver a real beleza das ocorrências diárias que nos cercam.
Tem muita coisa linda e saudável acontecendo neste momento, portanto pergunte a si mesmo se você pretende aproveitar a vida com qualidade de vida, se a resposta for um belo “sim”, prepare-se para trabalhar, a proposta é começar a limpeza do porão.
Abra as janelas da alma, sinta a brisa e deixe a luz entrar, pois a vida esta nos fazendo um convite irrecusável, o de sermos nós mesmos, sem medo, sem máscaras, sem falsas necessidades.
Agora sim, podemos nos dirigir para diante do espelho, contemplar, sorrir e agradecer... Afinal estamos diante de um verdadeiro milagre da vida.
Nós mesmos...

José Antonio da Cruz (Catanduva/SP)
é membro da Rede Amigo Espírita, Expositor Espírita e Dirigente de Estudos na Cidade de Catanduva/SP

http://www.forumespirita.net/fe/artigos-espiritas/o-porao-interior/#ixzz2zXmFqQqV

Inimigo real

Geralmente, todos os nossos adversários, no fundo, são nossos instrutores.
À maneira do martelo que, tangendo a pedra, acaba aperfeiçoando-lhe os contornos ou salientando-lhe a beleza, aquele que se coloca em oposição à nossa maneira de crer, sentir ou pensar, frequentemente é fator de estímulo à elevação de nossos dotes pessoais.
O invejoso, invariavelmente, ensina-nos a prudência;
O despeitado nos induz ao aprimoramento próprio;
O caluniador nos auxilia a marchar no caminho reto e
o perseguidor gratuito nos auxilia a perseverar no bem.
Assim, então, se um inimigo poderoso devemos identificar junto de nós, na estrada do mundo - inimigo que nos arma as piores ciladas e nos constrange a cair nas mais escuras armadilhas do remorso e da dor -, esse é o nosso próprio Eu, adversário terrível de nossa verdadeira felicidade, sempre imantado à concha de sombras em que se refugia, sob as paredes da indiferença.
Combatamos a nós mesmos cada dia, em nome do bem que abraçamos.
Não vale afirmar sem exemplo, nem sonhar sem trabalho. Adquirir conhecimentos superiores para adorá-los com o incenso de nosso personalismo é transformar a vida em êxtase delituoso, quando a Terra nos pede rendimento de esforço para a obra do Bem Infinito.
Guerreemos o inimigo que se oculta, armado de astúcias mil, na fortaleza de nossa animalidade multissecular, dando caça às suas manifestações de inferioridade, com os dissolventes da compreensão, do trabalho, da bondade e do amor.
E, asfixiando-lhe o ignominioso comando, que tantas vezes nos tem arrojado aos despenhadeiros do crime das reparações dolorosas, ouçamos, nas torres de nossa alma, a voz do Cristo, o único mentor capaz de conduzir-nos à bênção íntima da imperecível libertação.
pelo Espírito Emmanuel / médium Francisco C. Xavier

domingo, 20 de abril de 2014

O ciclo da violência

Uma das queixas maiores de toda a população é do índice crescente de violência. Não existe mais segurança, comentam as pessoas, alarmadas.
Escolas, empresas, os governos estabelecem campanhas contra a violência, utilizando-se de palestras, seminários e da mídia em geral. Cartazes são afixados em pontos estratégicos, pessoas colocam botons no próprio peito, afixam adesivos nos carros. Contudo, a violência parece não diminuir.
Talvez não estejamos nos dando conta do ciclo que percorre a violência.
Conta-se que certo general passou a noite inteira sem conseguir pregar o olho. Pela manhã, estava muito irritado e chegando ao quartel, mal viu o coronel, dirigiu-lhe palavras rudes de admoestação, por coisa nenhuma.
O coronel engoliu em seco a própria raiva, pois não podia externar o que lhe ia na intimidade ao seu superior. Saiu da sala e, encontrando o tenente no corredor, gritou com ele, falando da sua incompetência em resolver questões de somenos importância no quartel.
O tenente ficou vermelho. Sentiu o sangue quase explodir no cérebro, mas mordeu a língua para não se alterar com o seu comandante. Bateu continência e foi para o pátio, onde encontrou o sargento, que se preparava para os exercícios com seus subordinados.
Asperamente se dirigiu a ele, deixando-o com muita raiva. O sargento esperou que o tenente se afastasse, rodou sobre os calcanhares e se encaminhou até o cabo, que lhe recebeu toda a agressividade guardada.
O cabo não gostou de ser xingado por algo que não fizera. E acabou despejando a sua ira no primeiro soldado que encontrou, a caminho do seu alojamento. Reclamou de tudo, deixando o pobre homem arrasado.
Como o soldado estava em final de expediente, saiu do quartel e se dirigiu ao terminal de ônibus. Quando subiu no coletivo, perdeu a calma com o cobrador que disse não ter troco para a nota que ele apresentou.
O motorista do ônibus assistiu tudo, tomou as dores do cobrador mas, com medo de reagir porque a pessoa em questão era um militar, se calou.
Contudo, quando chegou em casa, trazia dentro de si toda a raiva que segurara durante as últimas horas de trabalho e, porque a esposa demorasse em colocar a comida à mesa, ele lhe dirigiu palavras inadequadas, grosseiras e ofensivas.
O motorista era um homem grande e ela miúda, por isso ela achou mais prudente ficar quieta. Entretanto, ao passar pelo seu quarto, viu a filha de oito anos mexendo no seu estojo de maquiagem. Era algo que ela fazia sempre.
Mas, naquele dia, a mulher se encolerizou, brigou com a garota, e a mandou para o quintal. A menina não entendeu a reação da mãe e foi despeja r toda a sua raiva num cão que estava amarrado, nos fundos da sua casa.
O pobre animal sentiu o pontapé e recebeu a carga negativa que a criança despejou.
Como não tinha nada mais a fazer, externou a sua vontade de morder, de reagir, uivando a noite inteira.
Adivinhem quem morava na casa ao lado? Isso mesmo! O general do começo da história.
* * *
Pensemos nisso! Deter o ciclo da violência deve ser nosso maior desafio. No todo é muito prático: basta agir em vez de reagir.
Pensar antes de falar. Contar até dez, antes de responder mal a quem quer que seja. Não revidar ofensa, desaforo ou má educação.
Pensemos nisso! A estatística da violência é marcada por cada um de nós.

Redação do Momento Espírita, com base no estudo Respeito,
desenvolvido por Alberto Almeida, em março de 2002, na cidade
de Matinhos/PR.  Em 26.3.2014.

Conflitos íntimos

Conta antiga lenda indígena que, certa feita, um jovem, mergulhado nas angústias e questionamentos naturais da juventude, procurou o grande sábio de sua tribo.

Nos primeiros passos para tentar se entender e entender ao mundo, foi buscar no velho homem um pouco de esclarecimento.

Solenemente aproximou-se do respeitoso ancião, que o recebeu com um brilho no olhar, próprio dos que entendem os porquês da vida em profundidade.

Tentando encontrar as melhores palavras, a forma mais apropriada para se expressar, o jovem explicou o que ali o levava.

Grande sábio, trago comigo muitas dúvidas sobre como devo proceder. Afinal, como ser uma pessoa de bem, como ser um homem honrado, se ainda trago no peito tantas paixões e tantas fragilidades morais?

O sábio, certamente, já se houvera feito tais questões.

Os anos lhe haviam permitido caminhar sob o açoite das aflições íntimas.

E tal qual o jovem à sua frente, que ora iniciava seus primeiros passos rumo ao autoconhecimento, também ele buscara essas respostas.

Então, olhando-o terna e pacientemente, lhe propôs a seguinte imagem.

Meu filho, em nosso mundo íntimo, em nosso coração, habitam dois cães ferozes, um bom e outro mau.

Como têm origens muito distintas, como não se assemelham em nada, essas duas feras vivem em constante luta, em diuturna batalha.

E você sabe qual deles irá ganhar a luta, meu filho? - Indagou o ancião.

O jovem, atônito pela imagem proposta, não soube responder. Imaginou a luta entre os dois animais e pensou como seria terrível, brutal.

Meu jovem, essa batalha em nosso mundo íntimo será ganha pelo cão que mais alimentarmos .

Escutando isso, o rapaz, compreendendo a profundidade da lição, retirou-se para a necessária meditação em torno do ensinamento recebido.
                                                               * * *
Assim acontece com cada um de nós. Não há quem não traga em sua intimidade tendências positivas e dificuldades de grande monta.

Nenhum de nós chega ao mundo sem conflitos a serem vencidos, sem limitações a serem ultrapassadas.

Alguns apresentamos grande tendência ao egoísmo, e então a vida nos dá a oportunidade de exercitar a solidariedade.

Outros nascemos vaidosos, egocêntricos, e a vida nos oferece lições de humildade e simplicidade.

Tantos nascemos avaros, pensando só em amealhar bens para nós mesmos, e a vida nos dá a chance de aprendermos a generosidade.

Serão sempre dois cães a lutar em nossa intimidade, a fim de ganhar espaço, vencer batalhas.

A eclosão de nossos conflitos íntimos é resultado da consciência a nos alertar sobre os caminhos que a vida nos oportuniza.

Nesses momentos, será a hora de pararmos e claramente decidirmos qual dos dois cães desejamos alimentar.

Será sempre pela insistência, pelo hábito e pela disciplina, investindo em nossas construções positivas, que conseguiremos vencer as batalhas íntimas.

Dessa forma, tenhamos tranquilidade quanto aos enfrentamentos naturais de nossa intimidade.


E não nos esqueçamos de que será sempre nossa a decisão de alimentar uma ou outra fera, ou seja, as nossas boas ou más tendências.
                                          Redação do Momento Espírita.
                                                       Em 11.4.2014.

Sem medo de morrer

A oradora concluíra a conferência. Demorados foram os aplausos. Depois, longa foi a fila para os cumprimentos.
Muitos lhe foram elogiar a fala esclarecedora, em torno da imortalidade da alma. Mais do que tudo, o desassombro que revelara, naqueles sessenta minutos, afirmando, mais de uma vez, que os espíritas não temem a morte.
Quem quer que se haja convencido de que a morte é simples transição, de um para outro estágio, não a teme.
Quem quer que esteja convicto de que somos imortais, pois somos Espíritos, aguarda a morte com tranquilidade.
Ante sua presença, não se atemoriza, nada teme. Verdadeiramente, o discurso fora coerente, perfeitamente embasado na lógica e no bom senso.
Passadas algumas horas, a ilustre conferencista foi levada ao aeroporto, para a tomada do voo que a conduziria ao lar, em outro Estado.
Enquanto aguardava o embarque, aproximaram-se dois casais, dizendo que haviam assistido sua conferência, e alongaram-se em elogios, detalhando alguns dos itens abordados, especialmente o destemor à morte, que ela tão bem evidenciara.
Poucos minutos passados, todos a bordo, inicia-se a viagem. Enquanto se servia o lanche, repentinamente, o comandante informa de turbulência à frente. Logo, todos a sentem. Não se trata de uma leve e rápida turbulência, mas de problema mais grave e demorado.
O avião parecia estar sendo sacudido por mãos invisíveis. Em seguida, dava a impressão de mergulhar num grande vácuo. Foram alguns minutos, que pareceram horas, e foram suficientes para estabelecer o pânico.
Vamos cair! Vamos morrer! - Bradavam os mais desesperados.
Outros simplesmente gritavam, enquanto lhes parecia ver, como em um filme, toda a sua vida. É o momento da morte. - Pensavam. E gritavam mais alto.
A conferencista, ante tanto pânico, desestruturou-se um pouco e estava a ponto de juntar-se ao coro dos gritos, quando lembrou do que falara, fruto dos seus aprofundados e reflexivos estudos.
Lembrou-se mais: Como poderia dar mostras de pavor, de pânico, perante pessoas que a tinham ouvido elucidar a respeito da inexistência da morte?
Calou-se, fechou os olhos e pôs-se a orar por si, pelos que estavam no mesmo avião, pelos familiares de que, de imediato, recordou.
Quando tudo asserenou, o avião prosseguiu viagem, ela se deteve a refletir. Naqueles poucos momentos, dera-se conta de que ainda não vencera o temor da morte.
Sim, intelectualmente, ela sorvera a mensagem lógica, de bom senso. Emocionalmente, no entanto, ainda não a administrara o suficiente para agasalhá-la como verdade inconteste.
Retornou ao lar, pensativa e passou dias a meditar a respeito do assunto.
* * *
As verdades divinas são simples e fácil é, a quem raciocina, com lógica, aprendê-las.
Algo bem diferente é vivê-las, ou seja, conduzir a própria vida, dentro dos seus parâmetros.
Isso tem a ver com a grande diferença que existe entre o intelecto e o emocional: o pensar e o sentir.
O intelecto aceita, mas nem sempre o sentimento o faz, na mesma dimensão e temporalidade.
Pensemos nisso e nos permitamos reflexionar um tanto mais em torno da vida que não morre, que prossegue ativa e exuberante.
Pensemos a respeito da passagem de uma para outra realidade, a qualquer tempo em nossa vida.

Redação do Momento Espírita, com base em fato narrado por Sandra Della Pola,
em ciclo de Qualificação do Trabalhador Espírita, no Recanto Lins de Vasconcellos,
em Balsa Nova, PR, em 15 de fevereiro de 2014.
Em 8.4.2014.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Resiste e Vence

De coração cansado e opresso embora,
Não fujas ao calor da forja ardente,
Sofre os golpes da luta, frente a frente,
Bendizendo a aflição que te aprimora.

A mentira da fuga não tente
O coração que sonha, clama e chora.
Levanta-te e caminha! Vence agora
Os perigos do pântano inclemente.

Acalma-te, confia, crê, resiste,
No destino mais áspero ou mais triste,
Porque a dor é a montanha em que te elevas!

Quem foge ao pranto amargo que depura,
Muita vez desce á noite imensa e escura,
Para gemer no cárcere das trevas.
pelo Espírito Arnold de Souza, Do Livro: Cartas do Coração, Médium: Francisco Cândido Xavier.

Onde Estiveres

Enquanto o dia canta, enquanto o dia
Esperanças e flores te revela,
Segue na estrada primorosa e bela
Da bondade que atende, ampara e cria.

Não desprezes o tempo que te espia
Por santa e infatigável sentinela...
E, alma do amor que se desencastela,
Perdoa, alenta e crê, serve e confia...

Lembra-te, enquanto é cedo! Tudo, tudo
O tempo extingue generoso e mudo,...
Menos o Eterno Bem que, excelso, arde...

E onde estiveres, torturado embora,
Faze do bem a luz de cada hora,
Antes que a dor te ajude, triste e tarde!


pelo Espírito Auta de Souza, Do Livro: Poetas Redivivos, Médium: Francisco Cândido Xavier.

Visão Espírita da Páscoa

Eis-nos, uma vez mais, às vésperas de mais uma Páscoa. Nosso pensamento e nossa emoção, ambos cristãos, manifestam nossa sensibilidade psíquica. Deixando de lado o apelo comercial da data, e o caráter de festividade familiar, a exemplo do Natal, nossa atenção e consciência espíritas requerem uma explicação plausível do significado da data e de sua representação perante o contexto filosófico-científico-moral da Doutrina Espírita.
Deve-se comemorar a Páscoa? Que tipo de celebração, evento ou homenagem é permitida nas instituições espíritas? Como o Espiritismo visualiza o acontecimento da paixão, crucificação, morte e ressurreição de Jesus?
Em linhas gerais, as instituições espíritas não celebram a Páscoa, nem programam situações específicas para “marcar” a data, como fazem as demais religiões ou filosofias “cristãs”. Todavia, o sentimento de religiosidade que é particular de cada ser-Espírito, é, pela Doutrina Espírita, respeitado, de modo que qualquer manifestação pessoal ou, mesmo, coletiva, acerca da Páscoa não é proibida, nem desaconselhada.
O certo é que a figura de Jesus assume posição privilegiada no contexto espírita, dizendo-se, inclusive, que a moral de Jesus serve de base para a moral do Espiritismo. Assim, como as pessoas, via de regra, são lembradas, em nossa cultura, pelo que fizeram e reverenciadas nas datas principais de sua existência corpórea (nascimento e morte), é absolutamente comum e verdadeiro lembrarmo-nos das pessoas que nos são caras ou importantes nestas datas. Não há, francamente, nenhum mal nisso.
Mas, como o Espiritismo não tem dogmas, sacramentos, rituais ou liturgias, a forma de encarar a Páscoa (ou a Natividade) de Jesus, assume uma conotação bastante peculiar. Antes de mencionarmos a significação espírita da Páscoa, faz-se necessário buscar, no tempo, na História da Humanidade, as referências ao acontecimento.
A Páscoa, primeiramente, não é, de maneira inicial, relacionada ao martírio e sacrifício de Jesus. Veja-se, por exemplo, no Evangelho de Lucas (cap. 22, versículos 15 e 16), a menção, do próprio Cristo, ao evento: “Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes da minha paixão. Porque vos declaro que não tornarei a comer, até que ela se cumpra no Reino de Deus.” Evidente, aí, a referência de que a Páscoa já era uma “comemoração”, na época de Jesus, uma festa cultural e, portanto, o que fez a Igreja foi “aproveitar-se” do sentido da festa, para adaptá-la, dando-lhe um novo significado, associando-o à “imolação” de Jesus, no pós-julgamento, na execução da sentença de Pilatos.
Historicamente, a Páscoa é a junção de duas festividades muito antigas, comuns entre os povos primitivos, e alimentada pelos judeus, à época de Jesus. Fala-se do “pesah”, uma dança cultural, representando a vida dos povos nômades, numa fase em que a vinculação à terra (com a noção de propriedade) ainda não era flagrante. Também estava associada à “festa dos ázimos”, uma homenagem que os agricultores sedentários faziam às divindades, em razão do início da época da colheita do trigo, agradecendo aos Céus, pela fartura da produção agrícola, da qual saciavam a fome de suas famílias, e propiciavam as trocas nos mercados da época. Ambas eram comemoradas no mês de abril (nisan) e, a partir do evento bíblico denominado “êxodo” (fuga do povo hebreu do Egito), em torno de 1441 a.C., passaram a ser reverenciadas juntas. É esta a Páscoa que o Cristo desejou comemorar junto dos seus mais caros, por ocasião da última ceia.
Logo após a celebração, foram todos para o Getsêmani, onde os discípulos invigilantes adormeceram, tendo sido o palco do beijo da traição e da prisão do Nazareno.
Mas há outros elementos “evangélicos” que marcam a Páscoa. Isto porque as vinculações religiosas apontam para a quinta e a sexta-feira santas, o sábado de aleluia e o domingo de páscoa. Os primeiros relacionam-se ao “martírio”, ao sofrimento de Jesus – tão bem retratado neste último filme hollyodiano (A Paixão de Cristo, segundo Mel Gibson) –, e os últimos, à ressurreição e a ascensão de Jesus.
No que concerne à ressurreição, podemos dizer que a interpretação tradicional aponta para a possibilidade da mantença da estrutura corporal do Cristo, no post-mortem, situação totalmente rechaçada pela ciência, em virtude do apodrecimento e deterioração do envoltório físico. As Igrejas cristãs insistem na hipótese do Cristo ter “subido aos Céus” em corpo e alma, e fará o mesmo em relação a todos os “eleitos” no chamado “juízo final”. Isto é, pessoas que morreram, pelos séculos afora, cujos corpos já foram decompostos e reaproveitados pela terra, ressurgirão, perfeitos, reconstituindo as estruturas orgânicas, do dia do julgamento, onde o Cristo, separa justos e ímpios.
A lógica e o bom-senso espíritas abominam tal teoria, pela impossibilidade física e pela injustiça moral. Afinal, com a lei dos renascimentos, estabelece-se um critério mais justo para aferir a “competência” ou a “qualificação” de todos os Espíritos. Com “tantas oportunidades quanto sejam necessárias”, no “nascer de novo”, é possível a todos progredirem.
Mas, como explicar, então as “aparições” de Jesus, nos quarenta dias póstumos, mencionadas pelos religiosos na alusão à Páscoa?
A fenomenologia espírita (mediúnica) aponta para as manifestações psíquicas descritas como mediunidades. Em algumas ocasiões, como a conversa com Maria de Magdala, que havia ido até o sepulcro para depositar algumas flores e orar, perguntando a Jesus – como se fosse o jardineiro – após ver a lápide removida, “para onde levaram o corpo do Raboni”, podemos estar diante da “materialização”, isto é, a utilização de fluido ectoplásmico – de seres encarnados – para possibilitar que o Espírito seja visto (por todos). Igual circunstância se dá, também, no colóquio de Tomé com os demais discípulos, que já haviam “visto” Jesus, de que ele só acreditaria, se “colocasse as mãos nas chagas do Cristo”. E isto, em verdade, pelos relatos bíblicos, acontece. Noutras situações, estamos diante de uma outra manifestação psíquica conhecida, a mediunidade de vidência, quando, pelo uso de faculdades mediúnicas, alguém pode ver os Espíritos.
A Páscoa, em verdade, pela interpretação das religiões e seitas tradicionais, acha-se envolta num preocupante e negativo contexto de culpa. Afinal, acredita-se que Jesus teria padecido em razão dos “nossos” pecados, numa alusão descabida de que todo o sofrimento de Jesus teria sido realizado para “nos salvar”, dos nossos próprios erros, ou dos erros cometidos por nossos ancestrais, em especial, os “bíblicos” Adão e Eva, no Paraíso. A presença do “cordeiro imolado”, que cumpre as profecias do Antigo Testamento, quanto à perseguição e violência contra o “filho de Deus”, está flagrantemente aposta em todas as igrejas, nos crucifixos e nos quadros que relatam – em cores vivas – as fases da via sacra.
Esta tradição judaico-cristã da “culpa” é a grande diferença entre a Páscoa tradicional e a Páscoa espírita, se é que esta última existe. Em verdade, nós espíritas devemos reconhecer a data da Páscoa como a grande – e última lição – de Jesus, que vence as iniqüidades, que retorna triunfante, que prossegue sua cátedra pedagógica, para asseverar que “permaneceria eternamente conosco”, na direção bussolar de nossos passos, doravante.
Nestes dias de festas materiais e/ou lembranças do sofrimento do Rabi, possamos nós encarar a Páscoa como o momento de transformação, a vera evocação de liberdade, pois, uma vez despojado do envoltório corporal, pôde Jesus retornar ao Plano Espiritual para, de lá, continuar “coordenando” o processo depurativo de nosso orbe. Longe da remissão da celebração de uma festa pastoral ou agrícola, ou da libertação de um povo oprimido, ou da ressurreição de Jesus, possa ela ser encarada por nós, espíritas, como a vitória real da vida sobre a morte, pela certeza da imortalidade e da reencarnação, porque a vida, em essência, só pode ser conceituada como o amor, calcado nos grandes exemplos da própria existência de Jesus, de amor ao próximo e de valorização da própria vida.
Nesta Páscoa, assim, quando estiveres junto aos teus mais caros, lembra-te de reverenciar os belos exemplos de Jesus, que o imortalizam e que nos guiam para, um dia, também estarmos na condição experimentada por ele, qual seja a de “sermos deuses”, “fazendo brilhar a nossa luz”.
Comemore, então, meu amigo, uma “outra” Páscoa. A sua Páscoa, a da sua transformação, rumo a uma vida plena. 
 Marcelo Henrique Pereira (*)
(*) Doutorando em Direito, Assessor Administrativo ABRADE