O SUICÍDIO E O ESPIRITISMO
“O suicida, é um homem sem esperança,
porque perdeu a fé... ou a deixou sobrepujar pela ideia, terrivelmente
enganadora, de que a morte era o fim libertador!”
O termo suicídio
define um comportamento ou ato que visa a antecipação da própria morte. Essencialmente,
ele resulta de um processo em que a dor psicológica intensa,
consequência de acontecimentos que tornam a vida dolorosa e/ou insuportável, em
que deixam de existir quaisquer soluções que permitam escapar a um processo de
introspecção, que deixa como única solução a morte do próprio indivíduo. Este
processo desenvolve-se, regra geral, gradualmente num sentido negativo
provocando um estado dicotómico em que passam a existir apenas duas
soluções possíveis para um problema ou situação: viver ou morrer.
Concorrem para este comportamento fatores psicológicos diversos,
entre os quais se destacam a depressão, o abuso de drogas ou álcool, doenças do
foro psicológico, tais como esquizofrenia e distúrbio de stress pós-traumático,
entre outros.
A Organização Mundial de Saúde estima em 150 milhões os
deprimidos do mundo. É de notar que entre os mais acometidos, neste capítulo
das depressões, se encontram os pastores evangélicos e os psiquiatras, entre os
quais as taxas de suicídio são oito vezes maiores do que no resto da população.
Estes números parecem indicar que, na realidade, ninguém salva ninguém e que as
religiões ditas salvadoras nem a si mesmas se salvam.
Segundo a visão do sociólogo Émile Durkheim, podemos falar de
três tipos de suicídio:
O EGOÍSTA –
é aquele que resultaria de uma individualização excessiva nas
sociedades onde a moral se esforça para incutir no indivíduo a ideia do seu
grande valor, fazendo com que a sua personalidade se sobreponha à coletiva. O egoísmo
é tema estudado nas obras básicas da Doutrina Espírita em diversas
oportunidades. Assim, no cap. XI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Emmanuel
ensina que o egoísmo é a chaga da Humanidade, o objetivo para o qual todos os
verdadeiros crentes devem dirigir as suas armas, suas forças e sua coragem.
Coragem porque é preciso mais coragem para vencer a si mesmo do que para vencer
os outros. Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, relaciona o egoísmo à perda
de pessoas amadas, à vida de isolamento, às desigualdades sociais, às
ingratidões, ao problema da fome e aos laços de família.
O ALTRUÍSTA –
é aquele praticado nos meios onde o indivíduo deve abrir mão da
sua personalidade e ter espírito de abnegação e entrega de si às causas coletivas.
Por exemplo, o espírito
militar, que exige que o indivíduo esteja desinteressado de si mesmo em função
da defesa patriótica. Nesse particular a questão n.º 951 de O Livro dos
Espíritos comenta que todo o sacrifício feito à custa da sua própria felicidade
é um ato soberanamente meritório aos olhos de Deus, porque é a prática da lei
da caridade. Ora, a vida sendo o bem terrestre ao qual o homem atribui maior
valor, aquele que a renuncia para o bem do seu semelhante não comete um
atentado: ele faz um sacrifício. Mas, antes de o cumprir, ele deve refletir se
a sua vida não pode ser mais útil que a sua morte.
O ANÔNIMO –
é aquele que ocorre nos meios onde o progresso é e tem que ser
rápido, levando a ambições e desejos ilimitados. O dever de progredir tira do
homem a capacidade de viver dentro de situações limitadas, tira-lhe a
capacidade de resignação e, consequentemente, tem-se o aumento dos descontentes
e irrequietos. A doutrina espírita não poderia omitir-se face a este tema e são
várias as obras básicas da Codificação que se debruçam sobre a resignação
humana.
FATORES DESENCADEADORES E SINAIS DE
ALERTA
A tentativa de suicídio ou o
suicídio em si não têm uma causa específica, mas sim um conjunto de fatores atuando
sobre um indivíduo com transtornos emocionais graves. Na lista que se segue
estão alguns dos fatores que podem agir como desencadeadores:
Crise de identidade
Baixa auto-estima
Distúrbios psiquiátricos (depressão)
Crises familiares (separação dos pais,
violência doméstica, alcoolismo de um dos pais, doença grave ou morte)
Falta de apoio no meio familiar
Perda de um familiar ou amigo querido
Crise disciplinar com os pais, na escola
ou no trabalho
Situações de desapontamento, rejeição ou
humilhação
Separação com o namorado ou cônjuge
Fracasso em alguma atividade valorizada
Exposição ao suicídio (meios de
comunicação, família, comunidade...)
Falta de esperança
Abuso físico ou sexual
Abuso de drogas
Gravidez indesejada
Instrumentos disponíveis em casa (arma
carregada, comprimidos para dormir...)
Sinais de alerta
A maioria das pessoas que
tentam o suicídio ou o levam a termo, demonstram a sua intenção de alguma
forma:
Sinais verbais:
Não quero viver mais.
A vida já não tem sentido.
Não vou criar mais problemas a ninguém.
Em breve o meu sofrimento vai acabar.
Gostaria de estar morto.
Ninguém se importa se estou vivo ou
morto.
Planeamento:
Inventário dos bens.
Ritual de despedida ( cartas, e -mails,
etc.)
Comportamentos na escola ou no trabalho:
Declínio na produção, absentismo, pouca
concentração.
Comportamentos rebeldes repentinos.
Abordagem de temas sobre a morte.
Perda de interesse em atividades antes
agradáveis.
Comportamento interpessoal:
Abandono das relações habituais.
Mudanças repentinas nas relações.
Evita envolvimento com amigos e
encontros sociais.
As pessoas que
apresentavam um quadro depressivo e repentinamente melhoram devem ser observadas
com atenção, principalmente se demonstram algumas atitudes acima descritas,
como o inventário dos bens. Esta súbita alegria pode ser devida ao facto de que
concluíram que não têm outra saída e encontraram a solução para os seus
problemas: o suicídio.
O SUICÍDIO E AS CRIANÇAS
Existem três etapas diferentes na infância para a
interpretação da morte:
· Até
aos 5 anos a criança não tem a noção da morte definitiva, não reconhece que a
morte envolve a total cessação da vida e não compreende a não reversibilidade
da morte.
· Entre
os 5 e os 9 anos há uma forte tendência para personificar a morte. É
compreendida como irreversível, porém não como inevitável.
· Só
entre os 9 e os 10 anos a criança reconhece a morte como cessação das atividades
do corpo e como inevitável. Somente na adolescência será capaz de apreender
verdadeiramente o conceito de morte e o significado da vida.
Nos Estados Unidos da América (EUA) o suicídio é
considerado como a 4ª causa mais frequente de óbitos em adolescentes. A taxa de
suicídios entre adolescentes nos EUA aumentou mais de quatro vezes da década de
50 à de 90. Nos anos 50, em cada 100 mil pessoas entre os 15 e os 19 anos
apenas 2,7 se matavam por ano. Agora, esse número é de 11,1. Os índices de
suicídio em jovens adultos (dos 20 aos 24 anos) duplicaram no mesmo período.
Segundo uma pesquisa efetuada pelo governo dos EUA, o aumento dos índices de
suicídio entre os jovens ocorreu em todos os segmentos da população, contudo é
possível constatar picos quando algum personagem famoso se mata e o fato recebe
grande cobertura dos meios de comunicação.
“Espera pelo amanhã, quando o teu dia se
te apresente sombrio e apavorante. Se te parecem insuportáveis as dores, lembra-te
de Jesus, ora, aguarda e confia”.
SUICÍDIO - O LIVRO DOS
ESPÍRITOS
O Suicídio e o Espiritismo
944. Tem o homem o direito de dispor da sua vida?
“Não, só a Deus assiste esse direito. O suicídio voluntário transforma-se numa
transgressão desta lei.”
944 a) Não é sempre voluntário o suicídio?
“O louco que se mata não sabe o que faz.”
945.
Que se deve pensar do suicídio que tem como causa o desgosto da vida?
Insensatos! Por que não se esforçavam? A existência não lhes teria sido tão
pesada.”
946. E
do suicídio cujo fim é fugir, aquele que o comete, às misérias e às decepções deste
mundo?
“Pobres espíritos, que não têm a coragem de suportar as misérias da existência!
Deus ajuda aos que sofrem e não aos que carecem de energia e de coragem. As
tribulações da vida são provas ou expiações. Felizes os que as suportam sem se
queixar, porque serão recompensados! Ai, porém daqueles que esperam a salvação
do que, na sua impiedade, chamam acaso, ou fortuna! O acaso, ou a fortuna, para
me servir da linguagem deles, podem, com efeito, favorecê-los por um momento,
mas para lhes fazer sentir mais tarde, cruelmente, a vacuidade dessas
palavras.”
957. Quais são, em geral, em relação ao estado do Espírito, as
consequências do suicídio?
“Muito diversas são as consequências do suicídio. Não há penas determinadas e,
em todos os casos, correspondem sempre às causas que o produziram. Há, porém,
uma consequência a que o suicida não pode escapar: é o desapontamento. Mas, a
sorte não é a mesma para todos; depende das circunstâncias. Alguns expiam a
falta imediatamente, outros em nova existência, que será pior do que aquela
cujo curso interromperam”. (...)
A afinidade que
permanece entre o Espírito e o corpo produz, nalguns suicidas, uma espécie de
repercussão do estado do corpo no Espírito, que, assim, a seu mau grado, sente
os efeitos da decomposição, donde lhe resulta uma sensação cheia de angústias e
de horror, estado esse que também pode durar pelo tempo que devia durar a vida
que sofreu interrupção. Não é geral este efeito; mas, em caso algum, o suicida
fica isento das consequências da sua falta de coragem e, cedo ou tarde, expia,
de um modo ou de outro, a culpa em que incorreu.
Assim é que certos
Espíritos, que foram muito desgraçados na Terra, disseram ter-se suicidado na
existência precedente e submetido voluntariamente a novas provas para tentarem
suportá-las com mais resignação. Em alguns verifica-se uma espécie de ligação à
matéria, de que inutilmente procuram desembaraçar-se, a fim de voarem para mundos
melhores, cujo acesso, porém, se lhes conserva interdito. A maior parte deles
sofre o pesar de haver feito uma coisa inútil, pois que só decepções encontram.
A religião, a
moral, todas as filosofias condenam o suicídio como contrário às leis da Natureza.
Todas nos dizem, em princípio, que ninguém tem o direito de abreviar
voluntariamente a vida. Entretanto, por que não se tem esse direito? Por que
não é livre o homem de pôr termo aos seus sofrimentos? Ao Espiritismo estava
reservado demonstrar, pelo exemplo dos que sucumbiram que o suicídio não é uma
falta, somente por constituir infração de uma lei moral, consideração de pouco
peso para certos indivíduos, mas também um ato estúpido, pois que nada ganha
quem o pratica, antes o contrário se dá, como no-lo ensinam, não a teoria,
porém os fatos que ele nos revela.
Conclusão
Era de se esperar
que, com o avanço da civilização, o homem tomasse consciência das verdades
imutáveis e da razão por que estamos a viver, neste mundo, uma vida material.
Isto não acontece no entanto, verificando-se a incidência de taxas de suicídio
tanto mais elevadas, quanto mais evoluídas são as comunidades!
Este fato denuncia-nos que, na sua maioria, a causa está no
afastamento de Deus da vida humana, na quebra do sentido e da necessidade de
aperfeiçoamento e ainda no desconhecimento de que o sofrimento é o melhor meio
que temos ao nosso alcance, para obtermos cada vez mais elevação espiritual,
preferindo fazer com que o desânimo predomine, apoderando-se da vontade e conduzindo
o homem à tresloucada resolução do suicídio, na esperança de que assim acabará
tudo, deixando de sofrer, deleitando-se nesta enganosa libertação.
Como os homens estão enganados! E a surpresa não se fará esperar
e será dolorosa, angustiante, porque em breve verificarão que a “morte”
não é o fim absoluto, mas apenas o fim de uma etapa da vida... como se fosse o
fim de um ato, da infinita cena da vida, que, para cada um, será uma comédia ou
uma tragédia e esta o será sempre, para todos aqueles que recorram ao suicídio.
SUICÍDIO - PERGUNTAS E RESPOSTAS
Quais as principais motivações que podem levar alguém ao
suicídio nos dias de hoje?
A primeira delas é a
falta da noção da Ideia de Deus. O restante é tudo consequência, como por
exemplo uma noção deturpada da vida após a morte. Hoje, como consequência
destas duas ideias citadas acima, vemos as pessoas a procurar necessidades que
as fazem sofrer por não atingir o padrão que os meios de comunicação e a
sociedade impõem; estes cobram das criaturas que elas tenham determinado padrão
de beleza, determinado padrão social, determinado padrão de cultura determinado
padrão de pensamentos e se as pessoas não alcançam este padrão, entram num desânimo,
num sentimento de menos valia, na depressão e daí, como lhes faltam o
conhecimento da Ideia de Deus e de Suas Leis, para o suicídio faltam poucos
passos, pois a noção de mundo espiritual também é frágil.
Todo aquele que se
suicida sofre muito ao chegar ao plano espiritual, ou existe alguma exceção a
esta regra?
Cada caso é um caso.
Não podemos esquecer que mesmo o suicídio sendo um crime, as Leis de Deus
usarão todos os nossos créditos que tenhamos no sentido do socorro. Por
exemplo, pode existir uma pessoa que se tenha suicidado por qualquer razão, mas
que traga alguns méritos, de ser um indivíduo trabalhador, honesto, de ter sido
bom pai, de ter auxiliado as pessoas, até aquela data. É claro que este será
visto de maneira diferente daquele que não traz nenhuma qualidade, pois ele
próprio dificultará o socorro.
Ao reencarnar,
absorvemos uma quantidade de fluido vital. O suicida antecipa a sua morte. Como
se extingue, então, este fluido?
Com o passar do
tempo, este fluido vai se extinguindo neles. Muitas vezes pode levar até
anos. No Livro "Memórias de Um Suicida" vemos que os suicidas
que estão na região chamada Vale dos Suicidas, que já é uma região de socorro,
pois os suicidas ali estão a ser monitorizados, quando estes fluidos começam a
extinguir-se, eles tornam-se capazes de perceber o socorro junto deles, e é
nestas horas que são levados para ambientes hospitalares no Plano
Espiritual. No livro citado, o Hospital Maria de Nazaré.
No caso de uma
criança, por volta dos 12/13 anos, que consequências terá para ela o suicídio?
O erro é sempre um
erro, mas a percepção desse erro estará na medida do entendimento daquele que
errou, pois muitas das vezes a criança que se mata fá-lo sem a devida noção dos
seus atos, até mesmo as leis humanas as olham de maneira diferente quando
apreciam os seus erros e crimes.
O suicida carrega
para outra vida a recordação "inconsciente" deste ato? Esta
recordação pode fazer surgir, em algum momento da sua vida, este desejo
novamente?
O suicida em determinada
época já reencarnado, se trazia no mundo espiritual plena consciência após ser
socorrido, traz com ele não só o mapa das expiações, consequência direta do
suicídio, como também a necessidade da prova, e é nessas horas que encontra
situações semelhantes àquela que o fizeram desistir da luta, procurando o
suicídio. Embora não exista uma regra, o fato se dá quase sempre numa
idade próxima daquela em que ocorreu o suicídio.
No suicídio
inconsciente (tabagismo, alcoolismo) o espírito terá de sofrer-lhe também as
consequências, embora minoradas. Como entender as penas deste?
Sofrerá as
consequências de ter lesado determinadas partes do seu corpo, como também
sofrerá as consequências morais de ter cedido as paixões que o levou ao vício.
Como ajudar uma
pessoa que diz que pretende se suicidar? É indicado um tratamento com psicólogo
para estes casos?
Há necessidade de se
usar todos os recursos de que se puder dispor para cada caso específico.
A psicologia será de grande auxílio, alguns casos será necessário até o auxílio
da psiquiatria (nos casos de depressão) mas não podemos esquecer que o
conhecimento da Doutrina Espirita, fortalecendo em nós a ideia de Deus e
mostrando-nos que não vale a pena o suicídio como porta de saída, será sempre o
antídoto perfeito contra o suicídio, principalmente porque poderemos valer-nos
não só dos conhecimentos, da fluidoterapia que nos recompõem corpo e mente,
como também nos indicará o trabalho do bem como elemento sustentador da nossa
harmonia íntima. Diz Kardec, no livro A Viagem Espírita de 1862 da
editora "O Clarim" que muitos poderiam rir das nossas crenças na
Doutrina Espírita, mas jamais poderiam rir quando vissem homens transformados.
O Espírito Hilário Silva no livro O Espírito de Verdade (FEB), conta-nos
uma história, que ocorreu na França no tempo de Kardec, de um livreiro que
manda para Kardec um livro ricamente encadernado e narra na dedicatória que
estava prestes a suicidar-se, atirando-se ao rio Sena, quando tocou em algo que
caiu no chão. Era O Livro dos Espíritos e na contracapa estava
escrito: “Este livro salvou a minha vida”. Curioso, ele leu o livro e quando o
remeteu a Kardec acrescentou: “Também salvou a minha.”
DEPOIMENTOS de SUICIDAS
Camilo Castelo Branco, in Memórias de um Suicida (Ivone
A. Pereira)
“(...) O vale
dos leprosos, lugar repulsivo da antiga Jerusalém de tantas emocionantes
tradições, e que no orbe terráqueo evoca o último grau da abjecção e do
sofrimento humano, seria consolador estágio de repouso comparado ao local que
tento descrever. Pelo menos, ali existiria solidariedade entre os renegados! Os
de sexo diferente chegavam mesmo a amar-se! Adotavam-se em boas amizades,
irmanando-se no seio da dor para suavizá-la! Criavam a sua sociedade,
divertiam-se, prestavam-se favores, dormiam e sonhavam que eram felizes!
Mas no presídio de
que vos quero dar contas nada disso era possível, porque as lágrimas que se
choravam ali eram ardentes demais para se permitirem outras atenções que não
fossem as derivadas da sua própria intensidade!
No vale dos leprosos
havia a magnitude compensadora do Sol para retemperar os corações! Existia o ar
fresco das madrugadas com seus orvalhos regeneradores! Poderia o precito ali
detido contemplar uma faixa do céu azul! ... Seguir, com o olhar enternecido,
bandos de andorinhas ou de pombos que passassem em revoada! (...)
Mas na caverna onde padeci o martírio que me surpreendeu além do
túmulo, nada disso havia!
Aqui, era a dor que nada consola, a desgraça que nenhum favor
ameniza, a tragédia que ideia alguma tranquilizadora vem orvalhar de
esperança! Não há céu, não há luz, não há sol, não há perfume, não há
tréguas!”
Antero de Quental
“Ah! Que se
soubessem por que preço pagamos a libertação pelo suicídio, ninguém se
suicidaria!
Os maiores martírios
da Terra são doces consolações em comparação com os mais suaves sofrimentos de
um suicida!
E é porque Deus
castigue? Não, é porque tem de ser.
É da lei. É fatal
como é da lei girar a Terra no seu eixo, e as estrelas na sua órbita.
Esse sofrimento não é
cego e igual. É harmônico, equitativo, justo, como é justo, equitativo e harmônico
tudo o que obedece à lei imutável do Universo, que Deus firmou com a sua
vontade e perfeição.
E nós, aí na Terra, a
querermos apreciar com a nossa inteligência microscópica a grandeza do
infinito!
É querermos iluminar
o mundo na treva de uma noite, com a luz de uma lamparina!
Avalias tu, ou
alguém, o que é o infinito?
Se avaliares, terás
apreciado Deus e a sua obra!”
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