(O Depoimento Extrafísico da Ex-Mulher Aranha)
Você quer saber por
que eu choro?...
Porque hoje eu me dou conta de quantas oportunidades desperdicei quando estava
encarnada na Terra. Por vaidade boba e muita teimosia, deixei de viver e fiquei
remoendo coisinhas dentro de mim (eu era boa nisso, infelizmente, só nisso).
Amolei as pessoas por pura picuinha e provoquei tantas outras por arrogância
mesmo. Eu sempre fui muito autoritária e o meu negócio era abafar e criticar...
Eu não era má pessoa de jeito nenhum. Mas ai de quem mexesse comigo!
Eu “subia nas tamancas” mesmo. E me achava “estrelona” da vida.
Como eu era bonita, provoquei muitos homens, somente porque podia fazê-lo.
Sim, confesso, fui responsável por alguns casamentos desfeitos. Na verdade, eu
queria só me divertir com os homens e não me importava com as consequências. E,
diga-se de passagem, eu achava os caras uns “Zés Ninguéns”.
Mesmo os riquinhos e arrumadinhos, eu os achava bem burros. Aprontei com eles e
os fiz de marionetes em meus joguinhos emocionais. Eu era a rainha aranha e
eles caiam na minha teia como moscas. E eu cuspia neles!
Homem é bicho burro! Pensa que manda na gente, mas é facilmente manipulado.
Ainda mais nas mãos de uma mulher como eu! A maioria deles cai pelo sexo (não
pensam e fazem besteira homéricas).
Eu não tive filhos, pois isso abalaria minha beleza. O meu problema foi mesmo a
passagem dos anos. A idade acabou com a minha vaidade e, com o tempo, as rugas
falaram mais alto e eu já não tinha os mesmos atrativos de antes. Isso me
deixou possessa, é claro. Mas, ao mesmo tempo, me fez repensar muitas coisas
que eu não me atentava antes. Isso me ajudou muito depois...
Os anos se passaram e, finalmente, a morte me acolheu em seus braços, como faz
com todo mundo (riquinhos e néscios também!). E eu me vi viva além do corpo, eu
mesma, sem tirar nem por, com meus pensamentos e emoções de sempre.
Aí, o peso de uma vida inteira veio sobre mim. Eu não tinha o que fazer, era o
reflexo dos meus desmandos e manipulações. Ninguém veio me acusar de nada, era
eu de frente comigo mesma. E é claro que não gostei do que vi!
Então, o peso dentro de
mim aflorou... E, devo dizer, foi bem feio.
A depressão me pegou de
jeito e eu caí numa espécie de torpor, onde eu via as cenas dos meus desvarios
a todo instante. Eu era culpada de tudo! E o meu inferno era dentro de mim. Eu,
a rainha aranha, tinha caído na minha própria teia fatal.
Emaranhada na minha
mente, me perdi dentro de mim mesma.
Sabe um casulo?... Pois
é, eu estava em um, prisioneira dos meus desmandos de outrora. Eu não sabia
como escapar disso, mal entendia como estava viva depois da morte. E nem uma
prece eu fazia, pois não acreditava em nada!
Achei que ficaria assim
para sempre... Até que, um dia, um grupo de socorristas extrafísicos* me
resgatou de mim mesma. Eles me trataram e me fizeram compreender tudo o que
tinha acontecido.
Com paciência, eles me
esclareceram. E me enviaram para fazer terapia com outro grupo, de apoio
psicológico aos que ficaram presos em si mesmos. E, ali, eu fui melhorando
gradativamente, até chegar nas condições em que você me vê hoje (ainda em
tratamento, mas bem melhor e consciente, e já podendo passar para outro estágio
extrafísico).
E, antes de seguir em frente, o meu grupo de apoio me trouxe até aqui, para eu
contar sobre a minha trajetória de vida. Eles me disseram que isso é
importante, pois alertará a outras pessoas para não serem como eu fui. Eu não
quero que ninguém mais seja rainha aranha (não vale a pena manipular os outros,
pois, no final, as consequências são terríveis).
Hoje, quando me trouxeram até aqui, você estava escutando lindas peças de
piano**. Eu me emocionei ao ouvi-las. Você não sabe como isso me fez bem.
Eu ainda choro muito, mas não é mais de desespero como antes; é choro de
desintoxicação emocional. É choro salutar, pois me limpa por dentro.
Hoje eu choro como mulher verdadeira (e pensar que quando eu estava na Terra
chamei de fracas as mulheres que eu via chorar) e me sinto igual a todas.
Sim, choro quietinha no
meu canto... Isso me fortalece e quebra o meu antigo orgulho. E, daqui a pouco,
estarei rindo novamente, mas não será mais dos infortúnios dos outros e sim de
mim mesma. Então, estarei curada de vez.
O meu choro, que hoje
você vê, é também de agradecimento. Pois muitas pessoas têm me ajudado (gente
do Bem, que não me julga nem me pressiona). E quando eu ouvi essas músicas de
piano, não aguentei e me debulhei mais ainda nas lágrimas.
Eu, que um dia fui mulher
aranha desejada pelos homens, hoje sou só mulher querendo crescer e ser feliz
verdadeiramente. E vou conseguir...
Por favor, torça por
minha melhora. E quando você escutar peças de piano, lembre-se de mim. Apesar
dos meus defeitos, eu sempre amei a música. Quando eu tiver alta definitiva da
terapia, um outro grupo, que trabalha com musicoterapia, virá me buscar para
aprender com eles. E isso me estimula tanto...
Ah, meu jovem (posso
chamá-lo assim?), eu adorei ter vindo até aqui. Quando eu voltar para o meu
grupo de apoio, direi para todos que hoje é o dia mais feliz da minha nova
vida. E muito obrigada por me escutar e registrar no mundo a minha história.
- Anônima –
(Recebido espiritualmente por Wagner Borges – São Paulo, 04 de
março de 2015.)
- Nota de Wagner
Borges:
Esse espírito
apresentou-se na forma de uma mulher loura alta, de vestido branco, aparentando
ter cerca de uns sessenta anos. Sua condição não era a de uma entidade
extrafísica sofredora no momento. Ela me pareceu alguém já em vias de passar
para outro plano. E o seu depoimento foi comovente mesmo. Oxalá ela encontre
seu caminho e seja muito feliz.
- Notas:
* Socorristas
extrafísicos – mentores espirituais; amparadores extrafisicos; espíritos
benfeitores; guias espirituais; auxiliares invisíveis; protetores astrais;
tarefeiros extrafisicos.
** A música que estava
tocando aqui era do CD “Inside Out”, do pianista americano Peter Kater (artista
que aprecio muito e tenho todos os seus CDs).
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