domingo, 9 de agosto de 2015

Homenagem aos Pais

Pai...
Estava agora olhando pela janela, tentava antecipar sua chegada.
Fiz isso muitas vezes quando era criança.
Outro dia fingi que dormia e esperei você vir me cobrir.
Mas percebi que isso não era mais possível.
Estava aqui nesse quarto sozinho, lamentava os dias em que fui rude com o senhor e das inúmeras vezes em que precisou de mim e eu não estava lá.
Lembrei-me então, dos tempos de criança e adolescência, quando apesar de todos os seus problemas e cansaço você sempre arrumava tempo para ir até a minha cama simplesmente para ver se eu estava bem, colocava as mãos sobre minha testa para ver se eu estava com febre, ajeitava o cobertor, às vezes deixava algumas moedas embaixo de meu travesseiro.
Eram poucas naquela época, e com certeza, sem muito valor, mas hoje as desejo como se fossem ouro porque esses simples gestos não saem da minha cabeça.
Achava que era forte, mas tudo isso me enfraquece.
Quando você saía para trabalhar ou viajar, eu ficava apreensivo, nunca lhe contei, mas meu coração doía de saudades.
Pedia a Deus que lhe protegesse e lhe trouxesse de volta.
Você sempre voltava.
Sofrido, abatido, sujo, mas voltava.
Hoje fico pensando, será que meus filhos sentem minha falta como eu sentia a sua?
Será que sou importante para eles como você foi e ainda é para mim?
Será que consigo transmitir a eles os mesmos valores que aprendi com você?
Também me pergunto, se você é tão importante para mim, por que às vezes eu o esqueço?
Por que não tenho tempo para lhe dar um simples "alô"?
Por que às vezes não consigo retribuir o seu carinho?
O engraçado é que hoje tenho tudo que você nunca pôde ter: casas, apartamentos, carros, dinheiro.
Por que nada disso é seu, se você merecia tanto?
Você me carregou no colo muitas vezes, pegou filas e filas para um atendimento médico, pediu dinheiro emprestado para me alimentar,
até vendeu sua casa quando tudo estava difícil.
Por quê?
Hoje lhe vejo frágil, com a coluna desgastada pelo tempo, a pele queimada pelo sol, seus setenta e tantos anos lhe deixaram indefeso.
Apesar de tudo isso, quando me recebe em sua casa, está sempre alegre e disposto.
Seja para ir até a padaria para comprar aquele pãozinho que eu gostava tanto, ou para fazer outros agrados.
Não entendo.
Apesar de toda sua receptividade, às vezes ainda sou rude, reclamo da vida, dos negócios feitos ou desfeitos e mesmo assim você tem toda paciência comigo.
Então, pai, se ainda der tempo, queria dizer que hoje também sou um pai, e que tento ser você todos os dias, tento ser para meus filhos o que você sempre foi para mim.
Já não me importo mais com a idade.
Hoje, mesmo com meus quarenta e poucos anos, quero que me segure no colo como segura seus netos, pois quando lhe vejo, sinto que ainda
sou criança e você continua a ser o meu herói.
Deivison Pedroza

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