Pai...
Estava agora olhando pela janela, tentava antecipar sua chegada.
Fiz isso muitas vezes quando era criança.
Estava agora olhando pela janela, tentava antecipar sua chegada.
Fiz isso muitas vezes quando era criança.
Outro
dia fingi que dormia e esperei você vir me cobrir.
Mas
percebi que isso não era mais possível.
Estava
aqui nesse quarto sozinho, lamentava os dias em que fui rude com o senhor e das
inúmeras vezes em que precisou de mim e eu não estava lá.
Lembrei-me
então, dos tempos de criança e adolescência, quando apesar de todos os seus
problemas e cansaço você sempre arrumava tempo para ir até a minha cama simplesmente
para ver se eu estava bem, colocava as mãos sobre minha testa para ver se eu
estava com febre, ajeitava o cobertor, às vezes deixava algumas moedas embaixo
de meu travesseiro.
Eram
poucas naquela época, e com certeza, sem muito valor, mas hoje as desejo como
se fossem ouro porque esses simples gestos não saem da minha cabeça.
Achava
que era forte, mas tudo isso me enfraquece.
Quando
você saía para trabalhar ou viajar, eu ficava apreensivo, nunca lhe contei, mas
meu coração doía de saudades.
Pedia
a Deus que lhe protegesse e lhe trouxesse de volta.
Você
sempre voltava.
Sofrido,
abatido, sujo, mas voltava.
Hoje
fico pensando, será que meus filhos sentem minha falta como eu sentia a sua?
Será
que sou importante para eles como você foi e ainda é para mim?
Será
que consigo transmitir a eles os mesmos valores que aprendi com você?
Também
me pergunto, se você é tão importante para mim, por que às vezes eu o esqueço?
Por
que não tenho tempo para lhe dar um simples "alô"?
Por
que às vezes não consigo retribuir o seu carinho?
O
engraçado é que hoje tenho tudo que você nunca pôde ter: casas, apartamentos,
carros, dinheiro.
Por
que nada disso é seu, se você merecia tanto?
Você
me carregou no colo muitas vezes, pegou filas e filas para um atendimento
médico, pediu dinheiro emprestado para me alimentar,
até vendeu sua casa quando tudo estava difícil.
até vendeu sua casa quando tudo estava difícil.
Por
quê?
Hoje
lhe vejo frágil, com a coluna desgastada pelo tempo, a pele queimada pelo sol, seus
setenta e tantos anos lhe deixaram indefeso.
Apesar
de tudo isso, quando me recebe em sua casa, está sempre alegre e disposto.
Seja
para ir até a padaria para comprar aquele pãozinho que eu gostava tanto, ou
para fazer outros agrados.
Não
entendo.
Apesar
de toda sua receptividade, às vezes ainda sou rude, reclamo da vida, dos
negócios feitos ou desfeitos e mesmo assim você tem toda paciência comigo.
Então,
pai, se ainda der tempo, queria dizer que hoje também sou um pai, e que tento
ser você todos os dias, tento ser para meus filhos o que você sempre foi para
mim.
Já
não me importo mais com a idade.
Hoje,
mesmo com meus quarenta e poucos anos, quero que me segure no colo como segura
seus netos, pois quando lhe vejo, sinto que ainda
sou
criança e você continua a ser o meu herói.
Deivison Pedroza
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