Você se ilude porque quer, minha amiga. Você se decepciona, se amargura, porque não quer admitir a realidade da vida.
É preciso que você saiba que a vida não é estagnação, não pode paralisar o seu curso. A vida passa, dá o seu recado e vai adiante rumo a novas conquistas.
Quando você reclama a atenção, a gratidão de alguém, você está paralisada, e não caminhando quer impedir que os demais caminhem.
As relações de amizade, as atenções, as gentilezas, são muito agradáveis, mas não imprescindíveis. Delas não deve depender a nossa vida, a nossa felicidade. São considerações do mundo, são importantes para o nosso prazer, mas não para a nossa evolução. O calor humano faz parte da nossa vida terrena, mas se não o recebemos, nem por isto devemos nos decepcionar. É possível que a nossa tarefa dependa justamente dessa aceitação da vida, assim como se nos apresenta.
Admitamos as reuniões amistosas e aprovemos as relações sociais e ainda mais as espirituais, mas não nos empenhemos em mantê-las intactas nem queiramos que os outros estejam sempre dispostos a nos dispensar as mesmas cortesias e atenções.
Cada coisa, cada circunstância da vida, traz suas necessidades que precisam ser atendidas no momento, mas nem por isso queiramos reter aquela circunstancia como dívida de alguém para conosco ou de nós para alguém. Cada um dá o seu recado na hora que precisa ser dado, daí por diante outras coisas acontecem que requerem nossa atenção e para as quais teremos o dever de nos devotarmos.
Os encontros com que em determinadas circunstâncias nos valemos uns dos outros são sempre agradáveis, por trazerem lembranças boas, suaves, de espíritos que se afinam em dado momento na tarefa de dar e receber. Mas não deve prevalecer nenhum direito daquele que dá, nenhuma exigência de retribuição nem sequer de continuidade de relações amistosas como gratidão.
Cada hora traz a sua experiência e essa hora, uma vez realizada a sua missão, deve deixar apenas a alegria do dever cumprido, sem mais nenhuma exigência sentimental de retribuição da parte de quem recebe.
Gratidão e caridade são sentimentos que, no futuro, deverão ser abolidos de nossa concepção e dos dicionários, uma vez que não haverá necessidade de ser alimentada a ilusão de agradecer nem a pretensão de ser caridoso. O homem é um ser pensante, cujo coração deve estar em equilíbrio com a mente, para ascender aos planos de luz através das lutas e sofrimentos terrenos.
Todo sentimento de gratidão é condicionamento. A fraternidade, o sentimento de amor universal, o senso do dever cumprido perante a própria consciência, deve fazer do homem um ser desenvolvido, superado e livre de preconceitos, liberto de sentimentalismo.
O falso pudor que tem acobertado tantas chagas sociais pelos tempos afora precisa e deve ser derrubado.
Tudo o que impeça a visão espiritual deve ser lançado fora. Que todos se livrem das algemas e se elevem acima de si mesmos, eis o que o homem do momento deve realizar.
Os movimentos revolucionários da mocidade atual não são mais que o grito da alma reclamando seus direitos e tentando romper as cadeias que a aprisionam há séculos e séculos.
Não há escândalo, nem irreverência na juventude de hoje; há, isto sim, desajuste, desequilíbrio daquele que tem, pela primeira vez, de atravessar a "corda bamba", sem antes ter se preparado para essa empresa.
O passo que querem dar, que vieram para dar, como preparo para a nova era, não está, ainda, acertado; os arroubos, a arrogância, a impertinência dos caracteres jovens são justamente o grito do homem velho que precisa trocar sua roupagem e romper com um passado obsoleto e ultrapassado; mas os jovens que não estão preparados para essa transição, e achando-se ainda condicionados ao passo que tentam superar, realizam sua luta em forma de escândalo.
A própria acomodação da Terra se faz por meio de erosões, por meio até de hecatombes dolorosas para os que as assistem ou nela perecem. Mas a natureza não tem contemplação, não pode se apiedar de nada nem de ninguém, porque sua missão é alargar horizontes, desbravar, destruir, para que novas realizações se efetivem com novas estruturas de modelos mais evoluídos e de acordo com a época e o espírito dos tempos.
O homem não é bom nem mau. Não é anjo nem demônio porque é tudo isto ao mesmo tempo. Sua natureza, produto do plano em que habita com suas características, marchando em direção ao progresso, ignorando, quase sempre, que quando julga estar edificando, está destruindo, e vice-versa; mas o faz cumprindo o seu desiderato, obediente às leis que não admitem paradas nem retrocessos.
Portanto, amigos, não vos apegueis a nada, não vos escandalizeis com coisa alguma, nem lamenteis porque os entes que amais, e a quem vos desvelais, seguem seu caminho, sem sequer olhar para trás para vos acenar em reconhecimento. Eles precisam de novos conhecimentos, novas conquistas para novas experiências. E ainda que vos mantenham na intimidade não vos sentirão necessários como na hora em que precisaram de vós para se apoiar. Outras situações surgem e oportunidades para outros encontros se apresentam e assim a vida caminha levando todos à sua meta final.
Muitas vezes também virais às costas àqueles que vos estenderam as mãos, que secaram vossas lágrimas, que socorreram vossas necessidades, mas não o fazeis senão obedientes à lei que vos impulsiona para a frente, para novos encontros, pois deparareis com outras circunstâncias e criaturas, e desempenhareis novas tarefas e sereis por outros atendidos, e também a outros atendereis.
A lei não admite paradas inúteis; não aceita que se vire as costas ao benefício recebido acintosamente, que se pisoteie sobre as mãos bondosas que nos levantaram do lodo, mas não nos obriga a ficarmos ajoelhados em reverência a esses seres que nos ampararam, pelo próprio bem deles, que, vendo-se alvo de idolatria, se cristalizariam, e o orgulho os destruiria.
Sede, amigos, compreensivos e vedes a vida sem o véu da ilusão.
Tudo é natural. Aprendei a agir desinteressadamente e deixai que cada um siga o seu caminho, enviando-lhes sempre pensamentos positivos, para que possais colaborar com a lei da evolução.
Não tendes obrigação de idolatria nem deveis vos apegar demasiado a coisa ou pessoa alguma nem espereis essas coisas de ninguém para convosco.
Amar sem apego, compreender e servir sempre desinteressadamente, e assim a vida não vos oferecerá mais motivos de decepções, nem vos sentireis traídos, nem desprezados, nem sereis capazes de proceder de forma idêntica com vossos companheiros.
Caminheiros, viajores, o que prefirais, sede sensatos, equilibrados, serenos e procurai ver a vida em trabalho permanente.
Penetrai bem fundo em vós mesmos, conhecei-vos bem, primeiro, e conhecereis, assim, Deus e a humanidade e nada mais terá poder de os decepcionar.
Que deixeis, na vossa passagem, rastros de amor, paz e concórdia.
(Do Livro "... A Verdade e a Vida" - Cenyra Pinto)
Parabéns.. buscava algo para consolar uma amiga e as palavras foram certeiras!
ResponderExcluirFicamos felizes por termos colaborado. Paz e Luz
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