quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Olhos de Jesus: Luz que Transforma


A manhã apenas despertara e o
homem se levantou.
Na tristeza com que se sentia
envolvido, olhou para a filha
doente, que gemia no leito pobre.
A esposa dormia e ele se preparou
para sair antes que ela despertasse,
com o mau humor habitual.
Seu rumo era o mercado, onde ele
recolhia os frutos desprezados
por aqueles que têm em demasia
e desconhecem a dor do
estômago vazio.
Um movimento inesperado,
no entanto, lhe chamou a atenção.
Eram gritos, correria.
O povo se acotovelava formando
um cortejo barulhento.
Soldados da Roma dominadora e
audaciosa conduziam um
condenado à morte.
O homem parou a observar aquela
cena e pensou que aquele
prisioneiro era mais infeliz
do que ele próprio.
Suas dores eram morais:
doíam por dentro.
Mas aquela criatura se apresentava
machucada, sem forças, a carregar
sobre os ombros um madeiro
bruto e pesado.
Seus passos eram vagarosos, como
num compasso de sinfonia fúnebre.
Arcado, a túnica que vestia
se arrastava pelo chão,
embaraçando-lhe os pés,
dificultando-lhe, ainda
mais, o caminhar.
O cireneu estava extático.
O homem estava sendo conduzido
para o terrível suplício da cruz.
Era, sim, muito mais infeliz que
ele próprio.
Nisto, a voz áspera de um dos
soldados lhe ordenou auxiliar o
condenado que caíra.
Não que o soldado se condoesse
da sua dificuldade.
É que tinha pressa de se
desvencilhar daquela tarefa.
O homem foi praticamente jogado
para debaixo daquela madeira
bruta, cheia de farpas.
Colocou o ombro ao lado do
condenado e suspendeu o peso.
Sentiu uma dor profunda nos
ombros e o olhar do auxiliado
o penetrou.
Eram dois olhos de luz estampados
numa face de sofrimento.
Jamais o cireneu haveria de
esquecer aquele olhar.
A dor do ombro aumentava.
Logo adiante, o prisioneiro
voltou a tropeçar e cair e as
chicotadas da brutalidade o
fizeram levantar-se.
Um pouco mais de tempo e o
cireneu livrou-se do peso.
Agora o madeiro se transformara
na cruz erguida para crucificar
o condenado.
Aquele homem de cirene,
conhecido como cireneu,
aguardou que a morte do
crucificado se consumasse.
Algo nele o atraía, magnetizava-o.
Quando tudo terminou foi para
casa e, porque chegou de mãos
vazias, a esposa o repreendeu.
Ele não revidou.
Uma paz diferente tomava
conta dele.
A filha veio correndo e o abraçou:
Estou boa, papai!
O homem recordou aqueles dois
olhos azuis que agradeceram
seu auxílio, sem nada dizer.
Um perfume sem igual penetrou
o lar pobre.
A mulher se enterneceu.
Uma delicada e sutil presença
podia ser sentida pelos três.
A vida do cireneu se transformou.
Apesar das lutas e dissabores,
nunca mais o fantasma do
desespero fez morada em
sua casa.
Curioso, no dia seguinte,
foi perguntar a respeito
da identidade do condenado.
Descobriu que ele se chamava
Jesus de Nazaré.
Desconheço a fonte

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