terça-feira, 28 de outubro de 2014

Em busca do amor

As pessoas ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas quando, na realidade, o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas.
Esta frase, de autoria do escritor americano Norman Mailer, inspirou a cronista Martha Medeiros a escrever as seguintes linhas:
Temos a mania de achar que o amor é algo que se busca. Buscamos o amor na internet, buscamos o amor na parada de ônibus.
Como um jogo de esconde-esconde, procuramos pelo amor que está oculto nas salas de aula, nas plateias dos teatros.
Agimos como se soubéssemos que certamente ele está por ali, como se pudéssemos sentir seu cheiro, precisando apenas descobri-lo e agarrá-lo o mais rápido possível, pois só o amor constrói, só o amor salva, só o amor traz felicidade. Mas será que é assim?
Há quem acredite que o amor é medicamento. Mas não é assim.
Se você está deprimido, histérico ou ansioso demais, o amor não se aproxima, e, caso o faça, vai frustrar sua expectativa.
O amor quer ser recebido com saúde e beleza, ele não suporta a ideia de ser ingerido de quatro em quatro horas, como um antibiótico para combater as bactérias da solidão e da falta de autoestima.
Certamente você já ouviu alguém dizer: “Quando eu menos esperava, quando eu havia desistido de procurar, o amor apareceu”. Claro! O amor não é bobo, quer ser bem tratado, por isso escolhe as pessoas que, antes de tudo, tratam bem a si mesmas.
O amor, ao contrário do que se pensa, não tem de vir antes de tudo. Antes de estabilizar a carreira profissional, antes de fazer amigos, de viajar pelo mundo, de iniciar um relacionamento, de casar, de ter filhos, de ajudar o próximo.
Ele não é uma garantia de que, a partir de seu surgimento, tudo o mais dará certo.
Queremos o amor como pré-requisito para o sucesso nos outros setores quando, na verdade, o amor espera primeiro você ser feliz para só então surgir, sem máscara e sem fantasia. É esta a condição.
Felizes são aqueles que aprendem a administrar seus conflitos, que aceitam suas oscilações de humor, que dão o melhor de si e não se autoflagelam por causa dos erros que cometem.
Felicidade é serenidade. Não tem nada a ver com piscinas, carros, viagens, e muito menos com príncipes e princesas encantadas.
As pessoas ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas, quando, na verdade, o amor é a recompensa por você ter resolvido seus problemas.
Este raciocínio inteligente demonstra que a felicidade, ou o amor, não estão lá fora, como coisas que precisamos encontrar, mas sim em estados dalma que devemos conquistar.
Quando Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, indaga aos Espíritos sobre onde está a felicidade neste mundo, eles respondem dizendo que com relação à vida material, é a posse do necessário. Com relação à vida moral, está na consciência tranquila e na fé no futuro.
A consciência tranquila é uma conquista do homem de bem.
A fé no futuro é uma conquista da esperança no coração do homem.
por Redação do Momento Espírita, com base em texto de Martha Medeiros e no item 922, de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. FEB. Do site: http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=4072&stat=0

domingo, 26 de outubro de 2014

O grande obstáculo

O que nos impede de uma maior aproximação com Deus?
Com sinceridade? O nosso comodismo.
O comodismo, filho do egoísmo e da preguiça, é capaz de aprisionar a criatura em cadeia escura, onde a vaidade se faz conselheira e promove infeliz continuidade do processo da paralisia da vontade.
Por causa do comodismo, um sem-número de seres estaciona pelos caminhos da vida, quando tanto tem a realizar no bem.
Uns esperam que, no amanhã, as coisas estejam melhores... Mas, sempre transferem para adiante esse amanhã.
Outros afirmam serem jovens, podendo deixar para depois as atitudes de respeito à vida e de prestação de serviço luminoso, esquecidos de que nem todos os moços alcançam, no corpo, a madureza dos anos.
Muitos alegam, continuamente, o fato de serem idosos, desgastados, e que, por isso, já que envelheceram assim, preferem ficar assim, uma vez que desconsideram ou ignoram que o ancião de agora será a criança e o jovem de logo mais, através dos renascimentos corporais.
O comodismo paralisa os religiosos, que se consideram salvos para sempre, sem maiores esforços pela sua remissão.
Toma em suas teias pensadores das filosofias, que se julgam com o privilégio de deterem o Juízo Universal, sem mais coisa alguma em que se devam melhorar.
Arruína a tantos cérebros de cientistas, admitindo, por imaturidade, que desvendaram os últimos segredos sob os céus, a tudo mais menosprezando e a tudo negando valor, inclusive a Deus.
Há os que, por acomodação, não se associam a nenhuma mensagem de fé religiosa, que lhes aponte rumos novos de evolução, preferindo suas próprias e acanhadas idéias comuns.
Tampouco adotam os posicionamentos científicos progressistas, por não os terem assimilado devidamente.
São os que morreram para o progresso, achando-se muito vivos na pauta do que supõem ser a mais lúcida verdade.
Importante que, enquanto dispomos do corpo e das horas, não negligenciemos nem nos acomodemos.
Jamais sintamo-nos completos ou sábios, com um livro só, com um pensamento apenas, ou com uma visão somente.
Reflitamos, reformemo-nos, reergamo-nos, esperando a Providência Divina, em pleno afã de crescer um pouco mais, aproximando-nos do Criador.
Assim pensando, certamente, entenderemos que o grande impedimento a que nos desenvolvamos nas áreas do bem, é a sombria acomodação, que tanto nos prende a processos de enfermidade obsessiva, impedindo nossa ascensão rumo às estrelas.
* * *
Acorde e saia desse seu estado que só lhe faz mal. Ore e busque o Senhor Jesus, que trabalha sempre, como o Pai Celeste.
Ilumine-se com o bendito ensejo que a vida lhe oferece.
Quando perceber que já não tem gosto, nem disposição para a realização do bem em você mesmo, busque, imediatamente o socorro médico.
Ou a assistência necessária, pois, com toda certeza, você está sob contágio de alguma doença, ou debaixo de grave influenciação de idéias negativas, geradas por alguém de sua relação, inclusive Espírito infeliz e infelicitador.
Pense nisso!

Redação do Momento Espírita, com base no cap. O grande obstáculo, do livro Nossas riquezas maiores, do Espírito Camilo, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter.

Uma despedida

Em nossa reunião da noite de 10 de março de 1955, por permissão de nossos Benfeitores Espirituais, no horário dedicado às palestras dos Instrutores, o amigo desencarnado que conhecemos por José Gomes ocupou a organização psicofônica, falando-nos de sua penosa experiência no Além. Nosso visitante, há seguramente dois anos, passou pelos serviços assistenciais de nossa agremiação, desorientado e aflito, voltando até nós, agora calmo e consciente, para relatar-nos sua história, por intermédio da qual nos faz sentir toda a gama de sofrimentos em que se enleou, depois do homicídio em que se comprometeu na Terra. “Uma Despedida” oferece-nos amplo material para meditação e para estudo.
Trazido até aqui por devotados benfeitores, venho agradecer-vos e despedir-me.
Há quase dois anos, fui socorrido nesta casa, fazendo-se luz nas trevas de minhalma...
Eu era, então, um assassino que por cinqüenta anos padecia no ergástulo do remorso.
Crendo preservar a minha felicidade, apunhalei um amigo, instigado pela mulher que eu amava e, apoiando-me na desculpa de legítima defesa, consegui absolvição na justiça terrestre.
Contudo, que irrisão! O homem que eu supunha haver aniquilado, mais vivo que nunca prendeu-se-me ao corpo e, em poucos meses, sucumbi devorado por estranha moléstia que escarneceu de todos os recursos da medicina.
Ai de mim! Nas raias da morte, apesar do conforto que me era oferecido pela fé, através de um sacerdote, não encontrei para mentalizar senão o quadro do homicídio que perpetrara.
E à maneira do homem vitimado por tormentoso pesadelo, sem sair do leito em que se acolhe à prostração, vi-me encarcerado em meus próprios pensamentos, vivendo a tortura e o pavor que alimentava no campo da minha alma...
Sempre o terrificante painel a vibrar na memória!...
Um companheiro infeliz, suplicando indefeso: — «Não me mate! Não me mate!... » A presença da mulher querida... Os gênios do crime a gargalharem junto de mim e a calma impassível da noite, com a minha cólera insopitável a dessedentar-se num peito exangue e aberto...
Em me cansando de enterrar a lâmina na carne sem resistência, arrojava-me ao piso da câmara iluminada, mas, a onda esmagadora de sangue levantava-se do chão, tingindo paredes, afogando móveis, empapando-me a vestimenta e, quando me sentia semi-sufocado, eis que me erguia de novo para continuar no duelo indefinível.
Se tinha fome, mãos invisíveis ofereciam-me sangue coagulado; se tinha sede, davam-me sangue para beber...
Era dia? Era noite?
Ignorava.
Somente mais tarde, quando amparado pelas palavras de esclarecimento e de amor dos nossos benfeitores, por vosso intermédio, vim a saber que o inimigo se contentara com o meu cadáver e que eu não vivia senão minha própria obsessão, magnetizado por minhas idéias fixas, jungido ao pó do sepulcro, durante meio século, recapitulando quase que interminavelmente o meu ato impensado.
Circunscrito à alcova fatídica, que jazia em minhas reminiscências, passei da extrema cegueira à desmedida aflição.
Existiria, realmente, um Deus de paz e bondade?
Bastou essa pergunta para que réstias de luz se fizessem sentir em meu espírito entenebrecido, como relâmpago em noite de espessa treva...
No entanto, para chegar à certeza de Deus, precisava de um caminho.
Esse caminho era ela, a mulher amada.
Queria vê-la, ouvi-la, tocá-la...
E tanto clamei por isso que, em certa ocasião, senti como que uma rajada de vento forte, arrebatando-me para o seio da noite...
Carregava comigo aquele fatal aposento, contudo, podia agora respirar a brisa refrescante, entre as sombras noturnas que filtravam, de leve, as irradiações da lua nova.
Mais ágil, andei apressadamente...
Onde estaria ela, a mulher que estava em mim?
Favorecia-me o sopro do vento e, a minutos breves, alcancei pequeno jardim, vendo-a sentada com uma criança ao colo...
Ah! somente aqueles que sentiram na vida uma profunda e irremediável saudade poderão compreender o alarme de meu espírito naquela hora de reencontro!...
Mas, assim que me percebeu, conchegou a criança ao coração e fugiu, espavorida...
Eu devia ser aos seus olhos um fantasma repelente a regressar do túmulo!
Persegui-a, porém, até que a vi penetrando um quarto humilde... Observei-a, ajustando-se ao corpo de carne, tal qual a mão em se colando à luva...
Entendi, sem palavras, a nova situação.
Enlaçada a um homem que lhe partilhava o leito, reconheci, sem explicações verbais, que o filhinho nascituro era meu velho rival e que o homem desconhecido era-lhe agora o esposo, outro adversário que me cabia vencer.
O ódio passou a estourar-me o crânio.
O cheiro acre e fedentinoso de sangue novamente me ensandeceu.
Beijei-a, delirando em transportes de amor não correspondido, e consegui instilar-lhe aversão pelo marido e pelo filho recém-nato.
Queria matá-la... desejava que ela vivesse novamente para mim... pretendia sugar-lhe os eflúvios do coração...
E, durante muitos dias, permaneci naquela casa, desvairado e irresponsável, envenenando a própria medicação que lhe era administrada...
Consegui dominá-la até o dia em que foi conduzida a um círculo de orações...
E, nesse círculo, vossos amigos me encontraram... Encontraram-me e trouxeram-me a esta casa...
Com os ensinamentos que me dirigiram, a câmara do crime desapareceu de minha imaginação... Todas as idéias estagnadas que me limitavam o pensamento, qual se eu fora o próprio remorso num casulo infernal, desfizeram-se, de pronto, como escamas de lodo que, em se desintegrando, me libertaram o espírito...
Desde então, fui admitido em uma escola...
Transcorridos seis meses, tornei ao lar que eu me propunha destruir, transformado pelas lições dos instrutores que vos orientam o santuário.
Novos sentimentos me vibravam no coração.
Compadeci-me daquela que sofria tanto e que tanto se esforçava por reabilitar-se perante a Lei!
Contemplei-lhe o filhinho e o esposo, tomado de viva compaixão...
Achava-me renovado...
Compreendi então convosco que o coração humano — concha divina — pode guardar consigo todos os amores...
Observei a extensão de minhas faltas e voltarei à carne em dias breves!
Aquela por quem me perdi ser-me-á devotada mãe... Terei um pai humilde, generoso e trabalhador, abençoando-me o restabelecimento moral, e, em meu irmão, já renascido, encontrarei não mais o antagonista, mas o companheiro de provação com quem restaurarei o destino...
Ante o coração que me estimula a esperança, não mais direi: — «mulher que eu desejo»! e sim «mãezinha querida!..»
Nossos sentimentos pairarão em esfera mais alta e de seus lábios aprenderei, de novo, as sublimes palavras: — «Pai Nosso, que estás no Céu...»
Fitar-lhe-ei nos olhos o celeste horizonte e, trabalhando, enxergarei feliz a senda libertadora...
Ah!... entendereis comigo semelhante ventura?
Creio que sim.
Partirei, desse modo, não para a companhia dos anjos, mas para o convívio dos homens, refazendo meu próprio caminho e regenerando a própria consciência.
E, abraçando-vos com afetuosa gratidão, saúdo em Nosso Senhor Jesus-Cristo a fé que nos reúne!...
Terra — abençoado mar de lutas...
Carne — navio da salvação!
Lar — templo de luz e trabalho...
Mãe — santuário de amor!...
Meus amigos, até amanhã!
Bendito seja Deus.
Pelo Espírito José Gomes - Do livro: Instruções Psicofônicas, Médium: Francisco Cândido Xavier.

História de um médium

As observações interessantes sobre a doutrina dos Espíritos sucediam-se umas às outras, quando um amigo nosso, velho lidador do Espiritismo, no Rio de Janeiro, acentuou, gravemente:
- "Em Espiritismo, uma das questões mais sérias é o problema do médium..."
- "Sob que prisma?" - Indagou um dos circunstantes.
- "Quanto ao da necessidade de sua própria edificação para vencer o meio."
- "Para esclarecer a minha observação - continuou o nosso amigo - contar-lhe-ei a história de um companheiro dedicado, que desencarnou, há poucos anos, sob os efeitos de uma obsessão terrível e dolorosa."
Todo o grupo, lembrando os hábitos antigos, como se ainda estacionássemos num ambiente terrestre, aguçou os ouvidos, colocando-se à escuta:
- "Azarias Pacheco - começou o narrador - era um operário despreocupado e humilde do meu bairro, quando as forças do Alto chamaram o seu coração ao sacerdócio mediúnico. Moço e inteligente, trabalhava na administração dos serviços de uma oficina de consertos, ganhando, honradamente, a remuneração mensal de quatrocentos mil réis.
Em vista do seu espírito de compreensão geral da vida, o Espiritismo e a mediunidade lhe abriram um novo campo de estudos, a cujas atividades se entregou sob uma fascinação crescente e singular.
Azarias dedicou-se amorosamente à sua tarefa, e, nas horas de folga, atendia aos seus deveres mediúnicos com irrepreensível dedicação. Elevados mentores do Alto forneciam lições proveitosas, através de suas mãos. Médicos desencarnados atendiam, por ele, a volumoso receituário.
E não tardou que o seu nome fosse objeto de geral admiração.
Algumas notas de imprensa evidenciaram ainda mais os seus valores medianímicos e, em pouco tempo, a sua residência humilde povoava-se de caçadores de anotações e de mensagens. Muitos deles diziam-se espíritas confessos, outros eram crentes de meia-convicção ou curiosos do campo doutrinário.
O rapaz, que guardava sob a sua responsabilidade pessoal numerosas obrigações de família, começou a sacrificar primeiramente os seus deveres de ordem sentimental, subtraindo à esposa e aos filhinhos as horas que habitualmente lhes consagrava, na intimidade doméstica.
Quase sempre cercado de companheiros, restavam-lhe apenas as horas dedicadas à conquista de seu pão cotidiano, com vistas aos que o seguiam carinhosamente pelos caminhos da vida.
Havia muito tempo perdurava semelhante situação, em face de sua preciosa resistência espiritual, no cumprimento de seus deveres.
Dentro de sua relativa educação medianímica, Azarias encontrava facilidade para identificar a palavra de seu guia sábio e incansável, sempre a lhe advertir quanto à necessidade de oração e de vigilância.
Acontece, porém, que cada triunfo multiplicava as suas preocupações e os seus trabalhos.
Os seus admiradores não queriam saber das circunstâncias especiais de sua vida.
Grande parte exigia as suas vigílias pela noite a dentro, em longas narrativas dispensáveis. Outros alegavam os seus direitos às exclusivas atenções do médium. Alguns acusavam-no de preferências injustas, manifestando o gracioso egoísmo de sua amizade expressando o ciúme que lhes ia n’alma, em palavras carinhosas e alegres. Os grupos doutrinários disputavam-no.
Azarias verificou que a sua existência tomava um rumo diverso, mas os testemunhos de tantos afetos lhe eram sumamente agradáveis ao coração.
Sua fama corria sempre. Cada dia era portador de novas relações e novos conhecimentos.
Os centros importantes começaram a reclamar a sua presença e, de vez em quando, surpreendiam-no as oportunidades das viagens pelos caminhos de ferro, em face da generosidade dos amigos, com grandes reuniões de homenagens, no ponto de destino.
A cada instante, um admirador o assaltava:
- "Azarias, onde trabalha você?..."
- "Numa oficina de consertos."
- "Ó! Ó!... e quanto ganha por mês?"
- "Quatrocentos mil réis."
- "Ó! mas isso é um absurdo... Você não é criatura para um salário como esse! Isso é uma miséria!...”
Em seguida outros ajuntavam: - "O Azarias não pode ficar nessa situação. Precisamos arranjar-lhe coisa melhor no centro da cidade, com uma remuneração à altura de seus méritos ou, então, poderemos tentar-lhe uma colocação no serviço público, onde encontrará mais possibilidades de tempo para dedicar-se à missão...”
O pobre médium, todavia, dentro de sua capacidade de resistência, respondia:
- "Ora, meus amigos, tudo está bem. Cada qual tem na vida o que mereceu da Providência Divina e, além de tudo, precisamos considerar que o Espiritismo tem de ser propagado, antes do mais, pelos Espíritos e não pelos homens!...”
Azarias, contudo, se era médium, não deixava de ser humano.
Requisitado pelas exigências dos companheiros, já nem pensava no lar e começava a assinalar na sua ficha de serviços faltas numerosas.
A princípio, algumas raras dedicações começaram a defendê-lo na oficina, considerando que, aos olhos dos chefes, suas falhas eram sempre mais graves que as dos outros colegas, em virtude do renome que o cercava; mas, um dia, foi ele chamado ao gabinete de seu diretor que o despediu nestes termos:
"Azarias, infelizmente não me é possível conservá-lo aqui, por mais tempo. Suas faltas no trabalho atingiram o máximo e a administração central resolveu eliminá-lo do quadro de nossos companheiros."
O interpelado saiu com certo desapontamento, mas lembrou-se das numerosas promessas dos amigos.
Naquele mesmo dia, buscou providenciar para uma nova colocação, mas, em cada tentativa, encontrava sempre um dos seus admiradores e conhecidos que obtemperava:
- "Ora Azarias, você precisa ter mais calma!... Lembre-se de que a sua mediunidade é um patrimônio de nossa doutrina... Sossega, homem de Deus!... Volte à casa e nós todos saberemos ajudá-lo neste transe."
Na mesma data, ficou assentado que os amigos do médium se cotizariam, entre si, de modo que ele viesse a perceber uma contribuição mensal de seiscentos mil réis, ficando, desse modo, habilitado a viver tão somente para a doutrina.
Azarias, sob a inspiração de seus mentores espirituais, vacilava ante a medida, mas à frente de sua imaginação estavam os quadros do desemprego e das imperiosas necessidades da família.
Embora a sua relutância íntima, aceitou o alvitre.
Desde então, a sua casa foi o ponto de uma romaria interminável e sem precedentes. Dia e noite, seus consulentes estacionavam à porta. O médium buscava atender a todos como lhe era possível. As suas dificuldades, todavia, eram as mais prementes.
Ao cabo de seis meses, todos os seus amigos haviam esquecido o sistema das cotas mensais.
Desorientado e desvalido, Azarias recebeu os primeiros dez mil réis que uma senhora lhe ofereceu após o receituário. No seu coração, houve um toque de alarma, mas o seu organismo estava enfraquecido. A esposa e os filhos estavam repletos de necessidades.
Era tarde para procurar, novamente, a fonte do trabalho. Sua residência era objeto de uma perseguição tenaz e implacável. E ele continuou recebendo.
Os mais sérios distúrbios psíquicos o assaltaram.
Penosos desequilíbrios íntimos lhe inquietavam o coração, mas o médium sentia-se obrigado a aceitar as injunções de quantos o procuravam levianamente.
Espíritos enganadores aproveitaram-se de suas vacilações e encheram-lhe o campo mediúnico de aberrações e descontroles.
Se as suas ações eram agora remuneradas e se delas dependia o pão dos seus, Azarias se sentia na obrigação de prometer alguma coisa, quando os Espíritos não o fizessem. Procurado para a felicidade no dinheiro, ou êxito nos negócios ou nas atrações do amor do mundo, o médium prometia sempre as melhores realizações, em troca dos míseros mil réis da consulta.
Entregue a esse gênero de especulações, não mais pode receber o pensamento dos seus protetores espirituais mais dedicados.
Experimentando toda sorte de sofrimentos e de humilhações, se chegava a queixar-se, de leve, havia sempre um cliente que lhe observava:
- "Que é isso, "seu" Azarias?... O senhor não é médium? Um médium não sofre essas coisas!...
Se alegava cansaço, outro objetava, de pronto, ansioso pela satisfação de seus caprichos:
- "E a sua missão, "seu" Azarias?... Não se esqueça da caridade!..."
E o médium, na sua profunda fadiga espiritual, concentrava-se, em vão, experimentando uma sensação de angustioso abandono, por parte dos seus mentores dos planos elevados.
Os mesmos amigos da véspera piscavam, então, os olhos, falando, em voz baixa, após as despedidas:
- "Você já notou que o Azarias perdeu de todo a mediunidade?..." - Dizia um deles.
- "Ora, isso era esperado - redargüia-se - desde que ele abandonou o trabalho para viver à custa do Espiritismo, não podíamos aguardar outra coisa."
- "Além disso - exclamava outro do grupo - todos os vizinhos comentam a sua indiferença para com a família, mas, de minha parte sempre vi no Azarias um grande obsidiado."
- "O pobre do Azarias perverteu-se - falava ainda um companheiro mais exaltado - e um médium nessas condições é um fracasso para a própria doutrina..."
- "É por essa razão que o Espiritismo é tão incompreendido! - sentenciava ainda outro - Devemos tudo isso aos maus médiuns que envergonham os nossos princípios."
Cada um foi esquecendo o médium, com a sua definição e a sua falta de caridade. A própria família o abandonou à sua sorte, tão logo haviam cessado as remunerações.
Escarnecido em seus afetos mais caros, Azarias tornou-se um revoltado.
Essa circunstância foi a última porta para o livre ingresso das entidades perversas que se assenhorearam de sua vida.
O pobre náufrago da mediunidade perambulou na crônica dos noticiários, rodeado de observações ingratas e de escandalosos apontamentos, até que um leito de hospital lhe concedeu a bênção da morte..."
O narrador estava visivelmente emocionado, rememorando as suas antigas lembranças.
- "Então, quer dizer, meu amigo - observou um de nós - que a perseguição da polícia ou a perseguição do padre não são os maiores inimigos da mediunidade"...
- "De modo algum. - Replicou ele, convicto. - O Padre e a política podem até ser os portadores de grandes bens."
E, fixando em nós outros o seu olhar percuciente e calmo, rematou a sua história, sentenciando, gravemente:
- "O maior inimigo dos médiuns está dentro de nossos próprios muros!..."
Pelo Espírito Irmão X - Do livro: Novas Mensagens, Médium: Francisco Cândido Xavier.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Não temas

Somente com Jesus a alma cansada
Volve à praia do amor no mar da vida,
O viajor errante encontra a estrada,
Que o reconduz à terra estremecida.

A esperança, adiada e emurchecida,
Refloresce ao clarão de outra alvorada;
Todo o trabalho e dor da humana lida
São luzes da vitória desejada.

Sem Jesus, cresce a treva entre os escombros;
Ama a cruz que te pesa sobre os ombros,
Vence o deserto áspero e inclemente.

A aflição inda é grande em cada dia?
Não desprezes a Doce Companhia,
Vai com Jesus! não temas! crê somente!
Pelo Espírito Cornélio Bastos - Do livro: Parnaso de Além-Túmulo, Médium: Francisco Cândido Xavier.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Um dever de consciência

O fato de médicos e hospitais de vários municípios do Rio Grande do Sul terem se recusado a fazer o abortamento em uma adolescente de 14 anos, apesar da autorização judicial que trazia consigo, foi manchete nas mídias, no ano de 2005.
Segundo as notícias, a jovem disse que sua gravidez foi fruto de estupro e obteve do juiz a permissão para realizar o aborto, isentando médicos e hospitais que se dispusessem a eliminar a vida que pulsava em seu ventre.
Embora o juiz tenha autorizado o aborto, não lhe caberia o direito de obrigar ninguém a realizar o feito, pois nem sempre a legalidade de um ato o torna moral.
O que vale ressaltar na atitude desses médicos, é a consciência do dever. O dever de defender a vida, assumido perante si próprios.
O dever é a obrigação moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e, em seguida, para com os outros.
Ao concluírem o curso os médicos fazem um juramento, o mesmo juramento feito por Hipócrates, um sábio grego que viveu no século V antes de Cristo, e é considerado o Pai da Medicina.
O juramento diz o seguinte:
“Eu, solenemente, juro consagrar minha vida a serviço da Humanidade.
Darei, como reconhecimento a meus mestres, meu respeito e minha gratidão. Praticarei a minha profissão com consciência e dignidade.
A saúde dos meus pacientes será a minha primeira preocupação.
Respeitarei os segredos a mim confiados. Manterei, a todo custo, no máximo possível, a honra e a tradição da profissão médica. Meus colegas serão meus irmãos.
Não permitirei que concepções religiosas, nacionais, raciais, partidárias ou sociais intervenham entre meu dever e meus pacientes.
Manterei o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção.
Mesmo sob ameaça, não usarei meu conhecimento médico em princípios contrários às leis da natureza.
Faço estas promessas, solene e livremente, pela minha própria honra.”
Ao fazer tal juramento, o médico passa a ter um dever moral consigo mesmo. E, se o violar, estará ferindo a própria consciência.
Ao se comprometer com esse ideal, o médico também estabelece o dever para com os outros, que é o segundo passo do dever ético-moral.
Lamentável é que muitos desses homens e mulheres que juraram, solene e livremente, que manteriam o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção, usem seus conhecimentos médicos para eliminar a vida que pulsa no santuário do ventre materno.
Por outro lado, é admirável a coragem e a honra desses homens e mulheres que não se permitem sujar as mãos com sangue inocente, mesmo sob qualquer pressão.
Isso porque sabem que, se agirem em desacordo com o juramento feito por livre vontade, não terão como se olhar no espelho da consciência e enxergar um cidadão honrado.
*
O dever é a lei da vida. Com ele deparamos nas mais ínfimas particularidades, como nos atos mais elevados.
Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de cumprir-se, por se achar em antagonismo com as atrações do interesse e do coração. Não têm testemunhas as suas vitórias e não estão sujeitas à repressão suas derrotas.
O dever principia, para cada um de vós, exatamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha com relação a vós.
O dever é o mais belo laurel da razão; descende desta como de sua mãe o filho.
O homem tem de amar o dever, não porque preserve de males a vida, males aos quais a humanidade não pode subtrair-se, mas porque confere à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento.
O dever cresce e irradia sob mais elevada forma, em cada um dos estágios superiores da Humanidade.
Jamais cessa a obrigação moral da criatura para com Deus. Tem esta de refletir as virtudes do Eterno, que não aceita esboços imperfeitos, porque quer que a beleza da Sua obra resplandeça a seus próprios olhos.
Redação do Momento Espírita, com base no item 7 do cap. XVII de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. Feb. Em 24.09.2009. (texto do Momento Espírita impresso do site: momento.com.br).

* * * Estude Kardec * * *

domingo, 19 de outubro de 2014

O Serviço Religioso

Desde quando começou na Terra o serviço de adoração a Deus? Perde-se o alicerce da fé na sombra de evos insondáveis.
Dir-se-ia que o primeiro impulso da planta e do verme, à procura da luz, não é senão anseio religioso da vida, em busca do Criador que lhes instila o ser.
Considerando, porém, as escolas religiosas dos povos mais antigos, vemos no sistema egípcio a idéia central da imortalidade, com avançadas concepções da Grandeza Divina, mas enclausurada nos templos do sacerdócio ou no palácio dos faraós, sem ligação com o espírito popular, muita vez relegado à superstição e ao abandono.
Na Índia, identificando o culto da sabedoria. Instrutores eminentes aí ensinam que a bondade deve ser a raiz de nossas relações com os semelhantes, que as nossas virtudes e vícios são as forças que nos seguirão, além do túmulo, propagando-se abençoadas lições de aperfeiçoamento moral e compreensão humana; entretanto, o espírito das castas aí sufocou os santuários, impedindo a desejável extensão dos benefícios espirituais aos círculos do povo.
Na Pérsia, temos no zoroastrismo a consagração do nosso dever para com o Bem; todavia, as comunidades felicitadas por seus respeitáveis ensinamentos se confiam a guerras de conquista e destruição.
Entre os Judeus, sentimos o sopro da revelação do Deus Único, estabelecendo o reino da justiça na Terra, mas, apesar da glória sublime que coroa a fronte de Moisés e dos profetas que o sucederam, o orgulho racial é uma chaga viva no coração do Povo Escolhido.
Na China, possuímos a exaltação da simplicidade, através de lições que fulguram em todas as suas linhas sociais, destacando o equilíbrio e a solidariedade, contudo, o grande povo chinês não consegue superar as perturbações do separativismo e do cativeiro.
Na Grécia, encontramos o culto da Beleza. Os mistérios de Orfeu traçam formosos ideais e constroem maravilhosos santuários. O aprimoramento da arte e da cultura, porém, não consegue criar no espírito helênico a noção do Amor Universal. Generais e filósofo usam a inteligência para a dominação e, de modo algum, se furtam às tentações do campo bélico, acendendo a abominável fogueira da discórdia e do arrasamento.
Em Roma, surpreendemos o Direito ensinando que o patrimônio e a liberdade do próximo devem ser respeitados, no entanto, em nenhuma civilização do mundo observamos juntos tantos gênios da flagelação e da morte.
Hermes é a Sabedoria.
Buda é a Renunciação.
Zoroastro é o Dever.
Moisés é a Justiça.
Confúcio é a Harmonia.
Orfeu é a Beleza.
Numa Pompílio é o Poder.
Em todos os grandes períodos da evolução religiosa, antes do Cristo, vemos, porém, as demonstrações incompletas da espiritualidade. Não há padrões absolutos de perfeição moral, indicando aos homens o caminho regenerador e santificante. Aparecem linhas divisórias entre raças e castas, com vários tipos de louvor e humilhação para ricos e pobres, senhores e escravos, vencedores e vencidos.
Com Jesus, no entanto, surge no mundo o vitorioso coroamento da fé. No Cristianismo, recebemos as gloriosas sementes de fraternidade que dominarão os séculos. O Divino Fundador da Boa Nova entra em contacto com a multidão e o santuário do Amor Universal se abre, iluminado e sublime, para a santificação da Humanidade inteira.
Espírito Emmanuel - Do livro: Roteiro, Médium: Francisco Cândido Xavier.

Evangelho e Exclusivismo

Quase todos os santuários religiosos divididos entre si, na esfera dogmática, isolam-se indebitamente, disputando privilégios e primazias. E até mesmo nos círculos da atividade cristã, o espírito de exclusivismo tem dominado grupos de escol, desde os primeiros séculos de sua constituição.

Em nome do Cristo, muitas vezes a tirania política e o despotismo intelectual organizaram guerras, atearam fogueiras, incentivaram a perseguição e entronizaram a morte.

Pretendendo representar o Mestre, que não possuía uma pedra onde repousar a cabeça dolorida, o Imperador Focas estabelece o Papado, em 607, exalçando a vaidade romana. Supondo agir na condição de seus defensores, Godofredo de Bulhão e Tancredo de Siracusa organizam, em 1096, um exército de 500.000 homens e estimulam conflitos sangrentos, combatendo pela reivindicação de terras e relíquias que recordam a divina passagem de Jesus pela Terra. Acreditando preservar-lhe os princípios salvadores, Gregório IX, em 1231, consolida o Tribunal da Inquisição, adensando a sombra e fortalecendo criminosas flagelações, no campo da fé religiosa. Convictos de garantir-lhe a Doutrina, os sacerdotes punem com o suplício e com a morte valorosos pioneiros do progresso planetário, quais sejam Giordano Bruno e João Huss.

Semelhantes violências, todavia, não passam de manifestações do espírito belicoso que preside as inquietudes humanas.

Cristo nunca endossou o dogmatismo e a intransigência por normas de ação.

Afirma não haver nascido para destruir a Lei Antiga, mas para dar-lhe fiel cumprimento.

Não hostiliza senão a perversidade deliberada.

Não guerreia.

Não condena.

Não critica.

Combate o mal, socorrendo-lhe as vítimas.

Dá-se a todos.

Ensina com paciência e bondade o caminho real da redenção.

Começa o ministério da palavra, conversando com os doutores do Templo, e termina o apostolado, palestrando com os ladrões.

A ninguém desdenha e os transviados infelizes lhe merecem mais calorosa atenção.

Prepara o espírito dos pescadores para os grandes cometimentos do Evangelho, com admirável confiança e profunda bondade, sem exigir-lhes qualquer atestado de pureza racial.

Auxilia mulheres desventuradas, com serenidade e desassombro, em contraposição com os preconceitos do tempo, trazendo-as, de novo, à dignidade feminina.

Não busca títulos e, sim, inclina-se, atencioso, para os corações.

Nicodemos, o mestre de Israel, e Bartimeu, o cego desprezado, recebem d’Ele a mesma expressão afetiva.

A intolerância jamais compareceu ao lado de Jesus, na propagação da Boa Nova.

O isolacionismo orgulhoso, na esfera cristã, é simples criação humana, fadado naturalmente a desaparecer, porque, na realidade, nenhuma doutrina, quanto o Cristianismo, trouxe, até agora, ao mundo atormentado e dividido os elos de amor e luz da verdadeira solidariedade.
Pelo Espírito Emmanuel - Do livro: Roteiro, Médium: Francisco Cândido Xavier.

Trovas do reconforto

Dificuldade e provas?
Põe a tristeza de lado.
Muita aflição do caminho
É socorro disfarçado.

Perdeste? Não te lamentes.
Cessa o pranto em que te esgotas.
A ciência de vencer
Aprende-se nas derrotas.

O fracasso não existe
Se o trabalho não te cansa.
Só não existe vitória
Onde se perde a esperança.

Injúrias e humilhações?
Fica nas regras do amor.
Onde o perdão rege a vida
O vencido é o vencedor.

Sofrimento quando chega,
Furtando-te sonho e paz,
É bênção que o Céu envia
Para saber como estás.
pelo Espírito Lucano dos Reis - Do livro: Rosas com Amor, Médium: Francisco Cândido Xavier.


domingo, 5 de outubro de 2014

Insegurança

Há momentos em que se imiscuem, no sentimento do combatente, emoções desconcertantes.
Ressaibo do atavismo ancestral, que remanesce em contínuas investidas, logra vencer quantos lhe dão guarida, estimulados pela auto piedade e pela presunção.
Porque se espalha a agressividade, tens a impressão de que lhe serás a próxima vítima.
Diante das incertezas que decorrem da beligerância generalizada, absorves o vapor deletério que se expressa em forma de insegurança.
Tem cuidado com esse tipo de fobia em relação ao presente, ao futuro, e aos que te cercam.
*
Há os que se armam, pensando em reagir, quando agredidos.
Outros se condicionam para a agressão em primeiro passo, como mecanismo de defesa.
Diversos revestem-se de falsa condição de superioridade, evitando os contatos humanos que lhe parecem desagradar.
*
Desarma-te desses vãos atavios.
Ergue-te em pensamento a Deus e n'Ele confia.
Somente acontece o que é necessário para o progresso do homem, exceto quando ele, irresponsavelmente, provoca situações e acontecimentos prejudiciais, por imprevidência e precipitação.
Cultivando o otimismo e a paz, avançarás no teu dia-a-dia, vencendo o tempo e poupando-te aos estados de insegurança íntima, porque estás sob o comando de Deus.
Divaldo P. Franco. Da obra: Episódios Diários. Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis. Capítulo 12. LEAL.

* * * Estude Kardec * * *

Sintomas da Mediunidade

A mediunidade é faculdade inerente a todos os seres humanos, que um dia se apresentará ostensiva mais do que ocorre no presente momento histórico.
À medida que se aprimoram os sentidos sensoriais, favorecendo com mais amplo cabedal de apreensão do mundo objetivo, amplia-se a embrionária percepção extrafísica, ensejando o surgimento natural da mediunidade.
Não poucas vezes, é detectada por características especiais que podem ser confundidas com síndromes de algumas psicopatologias que, no passado, eram utilizadas para combater a sua existência.
Não obstante, graças aos notáveis esforços e estudos de Allan Kardec, bem como de uma plêiade de investigadores dos fenômenos paranormais, a mediunidade vem podendo ser observada e perfeitamente aceita com respeito, face aos abençoados contributos que faculta ao pensamento e ao comportamento moral, social e espiritual das criaturas.
Sutis ou vigorosos, alguns desses sintomas permanecem em determinadas ocasiões gerando mal-estar e dissabor, inquietação e transtorno depressivo, enquanto que, em outros momentos, surgem em forma de exaltação da personalidade, sensações desagradáveis no organismo, ou antipatias injustificáveis, animosidades mal disfarçadas, decorrência da assistência espiritual de que se é objeto.
Muitas enfermidades de diagnose difícil, pela variedade da sintomatologia, têm suas raízes em distúrbios da mediunidade de prova, isto é, aquela que se manifesta com a finalidade de convidar o Espírito a resgates aflitivos de comportamentos perversos ou doentios mantidos em existências passadas. Por exemplo, na área física: dores no corpo, sem causa orgânica; cefalalgia periódica, sem razão biológica; problemas do sono – insônia, pesadelos, pavores noturnos com sudorese -; taquicardias, sem motivo justo; colapso periférico sem nenhuma disfunção circulatória, constituindo todos eles ou apenas alguns, perturbações defluentes de mediunidade em surgimento e com sintonia desequilibrada. No comportamento psicológico, ainda apresentam-se: ansiedade, fobias variadas, perturbações emocionais, inquietação íntima, pessimismo, desconfianças generalizadas, sensações de presenças imateriais – sombras e vultos, vozes e toques – que surgem inesperadamente, tanto quanto desaparecem sem qualquer medicação, representando distúrbios mediúnicos inconscientes, que decorrem da captação de ondas mentais e vibrações que sincronizam com o perispírito do enfermo, procedentes de Entidades sofredoras ou vingadoras, atraídas pela necessidade de refazimento dos conflitos em que ambos – encarnado e desencarnado – se viram envolvidos.
Esses sintomas, geralmente pertencentes ao capítulo das obsessões simples, revelam presença de faculdade mediúnica em desdobramento, requerendo os cuidados pertinentes à sua educação e prática.
Nem todos os indivíduos, no entanto, que se apresentam com sintomas de tal porte, necessitam de exercer a faculdade de que são portadores. Após a conveniente terapia que é ensejada pelo estudo do Espiritismo e pela transformação moral do paciente, que se fazem indispensáveis ao equilíbrio pessoal, recuperam a harmonia física, emocional e psíquica, prosseguindo, no entanto, com outra visão da vida e diferente comportamento, para que não lhe aconteça nada pior, conforme elucidava Jesus após o atendimento e a recuperação daqueles que O buscavam e tinham o quadro de sofrimentos revertido.
Grande número, porém, de portadores de mediunidade, tem compromisso com a tarefa específica, que lhe exige conhecimento, exercício, abnegação, sentimento de amor e caridade, a fim de atrair os Espíritos Nobres, que se encarregarão de auxiliar a cada um na desincumbência do mister iluminativo.
Trabalhadores da última hora, novos profetas, transformando-se nos modernos obreiros do Senhor, estão comprometidos com o programa espiritual da modificação pessoal, assim como da sociedade, com vistas à Era do Espírito imortal que já se encontra com os seus alicerces fincados na consciência terrestre.
Quando, porém, os distúrbios permanecerem durante o tratamento espiritual, convém que seja levada em conta a psicoterapia consciente, através de especialistas próprios, com o fim de auxiliar o paciente-médium a realizar o autodescobrimento, liberando-se de conflitos e complexos perturbadores, que são decorrentes das experiências infelizes de ontem como de hoje.
O esforço pelo aprimoramento interior aliado à prática do bem, abre os espaços mentais à renovação psíquica, que se enriquece de valores otimistas e positivos que se encontram no bojo do Espiritismo, favorecendo a criatura humana com alegria de viver e de servir, ao tempo que a mesma adquire segurança pessoal e confiança irrestrita em Deus, avançando sem qualquer impedimento no rumo da própria harmonia.
Naturalmente, enquanto se está encarnado, o processo de crescimento espiritual ocorre por meio dos fatores que constituem a argamassa celular, sempre passível de enfermidades, de desconsertos, de problemas que fazem parte da psicosfera terrestre, face à condição evolutiva de cada qual.
A mediunidade, porém, exercida nobremente se torna uma bandeira cristã e humanitária, conduzindo mentes e corações ao porto de segurança e de paz.
A mediunidade, portanto, não é um transtorno do organismo. O seu desconhecimento, a falta de atendimento aos seus impositivos, geram distúrbios que podem ser evitados ou, quando se apresentam, receberem a conveniente orientação para que sejam corrigidos.
Tratando-se de uma faculdade que permite o intercâmbio entre os dois mundos – o físico e o espiritual – proporciona a captação de energias cujo teor vibratório corresponde à qualidade moral daqueles que as emitem, assim como daqueloutros que as captam e as transformam em mensagens significativas.
Nesse capítulo, não poucas enfermidades se originam desse intercâmbio, quando procedem as vibrações de Entidades doentias ou perversas, que perturbam o sistema nervoso dos médiuns incipientes, produzindo distúrbios no sistema glandular e até mesmo afetando o imunológico, facultando campo para a instalação de bactérias e vírus destrutivos.
A correta educação das forças mediúnicas proporciona equilíbrio emocional e fisiológico, ensejando saúde integral ao seu portador.
É óbvio que não impedirá a manifestação dos fenômenos decorrentes da Lei de Causa e Efeito, de que necessita o Espírito no seu processo evolutivo, mas facultará a tranqüila condução dos mesmos sem danos para a existência, que prosseguirá em clima de harmonia e saudável, embora os acontecimentos impostos pela necessidade da evolução pessoal.
Cuidadosamente atendida, a mediunidade proporciona bem-estar físico e emocional, contribuindo para maior captação de energias revigorantes, que alçam a mente a regiões felizes e nobres, de onde se podem haurir conhecimentos e sentimentos inabituais, que aformoseiam o Espírito e o enriquecem de beleza e de paz.
Superados, portanto, os sintomas de apresentação da mediunidade, surgem as responsabilidades diante dos novos deveres que irão constituir o clima psíquico ditoso do indivíduo que, compreendendo a magnitude da ocorrência, crescerá interiormente no rumo do Bem e de Deus.
Manoel P. de Miranda (espírito)

(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, no dia 10 de julho de 2000, em Paramirim, Bahia).

O Vencedor


"E Eu, quando levantado da terra, atrairei todos a mim." (João:12-32)
Jesus veio para inaugurar na terra o reino do amor. Encontrou dificuldades de toda natureza, porque os homens daqueles dias em que ele viveu entre nós, estavam acostumados ao poder e à força.
As criaturas se encontravam divididas entre senhores e escravos, poderosos e os sem valor nenhum.
A vida não era respeitada, porque a guerra destruía as esperanças e submetia os que não podiam vencer, deles fazendo infelizes sem liberdade.
Quando Jesus ensinou que todos os homens são iguais e que as diferenças se fazem somente através das conquistas morais, houve aborrecimentos por parte dos que governavam e queriam manter o estado de coisas no ritmo em que se encontrava.
Ele, porém, continuou a ensinar o amor a todos os seres, o perdão a todas as ofensas e a humildade como formas de crescimento para Deus. Vivia cercado pelos pobres, pelos sofredores, pelos que eram desprezados e não mereciam nenhuma consideração.
Em qualquer lugar em que ele aparecia, as multidões se aproximavam para o ouvir e receber das suas mãos o alimento da paz, a esperança de felicidade e a saúde. Nada conseguia perturbar Jesus. Ele convidou doze homens para que se tornassem seus discípulos, porque era o mais sábio do mundo, assim fazendo-se mestre de todos.
Esses amigos o amavam, mas não compreendiam a missão dele, o reino que fundava. Porque sofriam, e eram pobres, esperavam que ele se tornasse rei do país onde todos eles haviam nascido, e que se chamava Israel.
Ele demonstrava não ter interesse pelas coisas do mundo, nem pelas posições de destaque social na terra. Renunciava a tudo: aos aplausos, às gratidões, aos jogos humanos.
Mas, os companheiros não entendiam a sua atitude e ficavam inquietos. Eles amavam a Deus, mas queriam a felicidade no mundo. Jesus, no entanto, ensinou-lhes, dizendo:
- Eu sou o caminho para Deus, que e a verdade e a vida, e ninguém consegue compreender essa realidade, senão por meu intermédio.
Cada vez que ele apresentava lições tão profundas, que contrariavamos religiosos da época, aumentavam os ódios contra a sua vida.
Foi durante a sua visita a Jerusalém, que era a capital de Israel, como ainda hoje, durante umas festas chamadas de Páscoa, que Ele foi preso e levado a um julgamento injusto.
Judas, que era também seu discípulo, o vendeu aos sacerdotes, traindo o seu amor. E Pedro, que igualmente o amava muito, quando foi apontado como sendo seu amigo, respondeu com medo, por três vezes:
- Eu nunca vi esse homem!
Os dois se arrependeram, quando o viram, depois de condenado, ser crucificado, no alto de um monte que era conhecido pelo nome de Calvário. Judas, atormentado, suicidou-se, envergonhado do que fizera, cometendo, com esse ato, um crime muito grave diante de Deus.
Pedro procurou recuperar-se, também arrependido, vivendo totalmente dedicado a pregar e a viver a doutrina que ele havia ensinado. E, de fato, foi na cruz, erguido da terra, que todos compreenderam que Jesus era o verdadeiro vencedor do mundo.
Embora houvesse morrido, ele ressuscitou, três dias depois, e voltou a conviver com os amigos, aparecendo até aos estranhos, num lugar onde estavam quase quinhentas pessoas, num monte, escutando João, que era o seu discípulo amado, falando a respeito dele.
O verdadeiro vencedor não é aquele que domina os outros, mas quem consegue dominar os seus ímpetos, amando sem qualquer rancor de ninguém, nem mesmo daqueles que o persigam e maltratem.
FRANCO, Divaldo Pereira. O Vencedor. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. LEAL.
* * * Estude Kardec * * *