ILUSÕES
DO ORGULHO
Uma
insensatez da humanidade consiste em vermos o mal de outrem, antes de vermos o
mal que está em nós. Para julgar-se a si mesmo, fora preciso que o homem
pudesse ver seu interior num espelho, pudesse, de certo modo,
transportar-se para fora de si próprio, considerar-se como outra pessoa e
perguntar: "Que pensaria eu, se visse alguém fazer o que faço?". Sem
dúvida, é o orgulho que induz o homem a dissimular para si mesmo os seus
defeitos, tanto morais, quanto físicos.
O
orgulho é o sentimento de superioridade pessoal perante os outros. O
problema não é o sentimento do orgulho, mas o descontrole de seus
efeitos.
Mera
ilusão darmos a nós mesmos o valor que não possuímos! A simples consciência de
nossa igualdade perante a vida já é por si só um forte motivo para não nos
considerarmos melhores do que ninguém, apesar dos títulos, nomes, etc.
Um
velho descuido da convivência humana é buscar corrigir as pessoas para que se
encaixem em nossos modelos de expectativas e transformar as diferenças do outro
em defeitos. É um belo traço de nossa imperfeição e que deixa claro que estamos
muito mais ocupados em cultivar severidade para com a melhora dos outros e
desatentos da mais importante e única tarefa na qual verdadeiramente temos
irrestrita capacidade de realizar: a nossa melhora pessoal.
A
necessidade de diminuir o valor dos esforços alheios é um vício de proporções
extraordinárias, porque dando exagerada importância às comparações, o orgulhoso
passar a ser "fiscal" dos atos alheios, procurando motivos para
realçar-se.
Mas
manter aparências é doloroso. O melhor é conscientizar-se da necessidade da
melhora individual e buscar isso como meta pessoal, continuamente. Para isso há
dois caminhos:
a)
Atenção plena a si mesmo que é o hábito de vigiar-se, observar-se
continuamente;
b)
Interiorização que significa o ato de enfrentar-se a si próprio depois da
prática do item anterior, ou seja, já resultado da própria observação.
Todos
merecem ser felizes. Para que sofrer com a vigilância da conduta alheia quando
temos é mesmo que vigiar a nós mesmos? Superemos as ilusões do orgulho,
defeito moral causador de tantas tolas disputas e comparações desnecessárias.
Aprendamos a conviver com as diferenças, compreendendo que todo mundo tem o
direito de agir e pensar como queira e entende ser o melhor para a própria
vida.
Orson Peter Carrara
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