domingo, 1 de abril de 2018

Visão Espírita de uma Sopa Fraterna


VISÃO ESPÍRITA DE UMA SOPA FRATERNA
Saímos do sanatório depois de trabalhos intensos. Nosso companheiro Ildeu nos falou animado:
- Depois de trabalho cansativo, nada melhor que restaurar nossas forças dentro de outro trabalho. Daí surgiu-nos a ideia de irmos ao trabalho da sopa fraterna.
Podemos garantir que camos deslumbrados quando atingimos a área do dito trabalho. Como um pequeno sol, brilhava a grande área que circundava o recinto. O pequeno foco de luz, ao invés de se atirar para baixo, ia ganhando alturas. Melodias de estranha singeleza encantavam-nos. Ficamos sensibilizados; tudo parecia amor, paz enfim na Terra.
Entramos acanhados. O dirigente responsável pela sopa, no plano dos espíritos, era Mariano que nos recebeu com satisfação, vindo ao nosso encontro sorridente e, vendo o nosso espanto diante do ambiente tão puro no orbe terráqueo, nos dirigiu a palavra carinhosamente:
- Sejam bem-vindos ao restaurante de Jesus, onde o cardápio nos aponta o amor como prato favorito da casa!
A palavra de Mariano nos deixou descontraídos e, daí por diante, sentimo-nos como componentes da tarefa tão valiosa.
Os irmãos desencarnados eram em número bem maior que os encarnados, mas admirávamos o bom comportamento de todos. A qualidade do ambiente não permitia que espíritos, por mais brincalhões que fossem, conseguissem penetrar na mente dos nossos irmãos encarnados com suas rusgas e seus dissabores, porque ali se misturava a boa vontade com amor; cada um buscando dar algo de si sem concorrência de ser melhor do que o outro; todos trabalhavam com a mesma intenção: servir sem ser bajulado, sem ser querido, sem recompensas inferiores.
Muitos desencarnados se abeiravam do fogão aceso para agradecer em prece aquelas mãos ainda no corpo da carne, trabalhando para mais tarde ofertar a sopa da amizade.
Eram companheiros que tinham ali familiares encarnados, usufruindo daquela alimentação que trazia como símbolo a imagem viva de Jesus dizendo que agradeceria sempre àqueles que fizessem algo por alguém, lembrando que era à Ele que estariam fazendo.
Emoção, ternura, encanto, enm, estávamos nos refazendo naquele ambiente onde, por mais que quiséssemos dar, só poderíamos receber.
- Críticas vêm de todos os lados, Adelino: muitos não aceitam esta comunhão que fazemos através da sopa amiga, alegando que tratamos de incentivar os outros a preguiça a ao comodismo, mas não é isso que vemos. Aqui aprendemos a aumentar o nosso número familiar, são irmãos que vão chegando e entrando em nossos corações para sempre.
Do mesmo modo que os encarnados recebem as nossas mensagens e nos pedem a presença, nós pedimos a presença deles quando nos cativam com a mensagem do trabalho que beneficia. Esta sopa é a comunhão das almas que aqui se encontram, unindo-se e fortificando-se.
Mariano, de uma bondade a toda prova, continuou:
- Companheiros, vou deixá-los por alguns minutos, fiquem à vontade porque a casa é de Jesus, é porque ela é de todos!
Daí a pouco fomos convidados a entrar até a cozinha, onde um aparelho muito parecido com o vosso exaustor puxava o vapor que ia subindo, formando um líquido de espessura mais firme que o gás liquefeito e passava por diversos filtros do aparelho até ganhar a torneira que, aberta, deixava cair sobre copo limpo, o líquido amarelo que nos era oferecido. Bebemos e, podem acreditar, sentimos o gosto da sopa e logo após estávamos nos sentindo como se estivéssemos ingerindo fortificante de ação imediata.
Após desfrutarmos do líquido precioso da sopa, Ildeu advertiu:
- Adelino, precisamos procurar Mariano e ofertar-lhe nossas mãos para o trabalho.
- Tens razão, vamos até o galpão, lá o encontraremos.
Quando saímos à porta da pequena cozinha, a nossa alegria foi aumentada, estava a poucos metros de nós a figura sempre benfazeja de Eurípedes.
Mariano, com o sorriso costumeiro, veio até nós e disse:
- Como estão se sentindo? Maravilhosamente, respondeu Ildeu, tomando a palavra, - depois de tomarmos o líquido restaurador feito por mãos generosas, não podíamos, de forma alguma, estar melhor.
Enquanto Ildeu continuava a palestra com Mariano, meus olhos vigiavam atentos a figura de Eurípedes. Naquele instante, o profeta de Sacramento abraçava carinhosamente uma companheira que começava a servir o primeiro prato de sopa. Cheguei bem perto com a cautela de não ser notado. O sorriso da irmã aumentava conforme Eurípedes lhe abraçava, quando o ouvi dizer baixinho:
- Deus te abençoe, e beijou a destra da irmã de boa vontade.
Um jato de luz brilhante envolvia a figura encarnada e do dito mentor.
Afastei-me sem coragem de cumprimentá-lo e voltei até Mariano.
- Como é Adelino, disse-me o bondoso artista da caridade, vamos fazer nossa parte? Os encarnados já estão na ativa. Vamos lá, disse lldeu, animadamente, quanto mais trabalho, mais chance de usufruir novamente deste contato amigo e desta deliciosa sopa.
- Mariano, tomei a liberdade, será que poderei trocar algumas palavras com Eurípedes?
- Poderá sim, Adelino, mas depois que fizermos a nossa tarefa; meu sobrinho, sistematicamente, gosta de trabalhar dentro da harmonia do silêncio e eu não vou contrariá-lo. Mais tarde conversaremos com ele. Vamos à batalha?
Começamos a ajudar a equipe de espíritos que trabalhavam junto aos nossos amigos encarnados. Vocês nem podem imaginar o trabalho que dá uma sopa para os espíritos que são destinados à tarefa da mesma. Imaginamos um trabalho de desobsessão, o trabalho de passes, a uidificação da água, as inspirações nas palestras edificantes, multipliquem isto por mais alguma coisa e chegarão mais ou menos a conclusão do que seja um trabalho deste teor.
Não queremos dizer que os trabalhos citados sejam de menos importância, jogados a coisas secundárias, mas o trabalho da sopa é “convivência direta com Jesus”, é a caridade lógica; você consegue se pôr nas condições dos outros, consegue por alguns minutos sentir a pureza da vida que levaram os grandes apóstolos junto ao povo oprimido da época.
É a sensação de sermos muitos, dentro de um somente.
O aparelho, conhecido por nós como “eletroponto”, indicava o índice de aproveitamento de cada um na tarefa da sopa. As radiofotos já eram encaminhadas junto a outros documentos a serem enviados ao arquivo dos planos superiores. Estas radiofotos eram pedidos e necessidades encontradas para os que pediam urgência de solução.
Chegávamos ao final do trabalho abençoado da sopa; Mariano reuniu-se à porta da pequena cozinha para que acompanhássemos a prece que iriam proferir nossos irmãos encarnados.
Eurípedes, ainda em silencio absoluto, abeirou-se de nós, cumprimentando-nos apenas com o aceno da cabeça. A prece, feita pelo irmão encarnado, era de agradecimento a Jesus pela oportunidade do trabalho e nos tocava o sentimento numa profundeza que chegava a nos emocionar.
Final do trabalho: alegria, despedidas, abraços entre os nossos amigos, no campo da batalha material. A hora era de grande emoção para mim e Ildeu; esperávamos a ordem de Mariano para podermos ouvir a voz da figura tão falada e discutida de Eurípedes. Mariano pedia que continuássemos em silencio, para que toda a área que circundava a casa da sopa fosse inspecionada para que nossos amigos trabalhadores regressassem ao lar sem atritos com o plano dos desequilibrados. Após alguns minutos, Mariano nos acordava do sono profundo da prece que nos levava a campos diferentes.
Viva Jesus! Disse o bondoso amigo.
Daí por diante os abraços partiram de nós e começávamos a trocar ideias, esperançosos de ouvir a manifestação de Eurípedes. O apóstolo de Sacramento abraçou Mariano e disse convicto:
- Deste trabalho nasce mais uma esperança na arrancada para a felicidade de todos, pois aqui, confraternizamos encarnados e desencarnados. Encontramos entre abraços, o sentido da verdadeira amizade que nos une. Pelo trabalho que explode a mina do orgulho que está dentro de nós e abre uma vala, onde a chama do amor forma o vulcão do desafio, pois o Cristo não veio trazer a paz e sim a espada.
Dentro de um trabalho como este começamos a guerra, o conflito contra a usura, a preguiça e o esquecimento do dever.
Aqui, nesta Casa Fraterna encontramos a simplicidade do bom cristão, a sabedoria daquele que sabe doar. Doar o tempo, doar amor, servir sem esperar um busto em praça pública, servir pensando em servir mais.
Notei que Ildeu estava encantado e, sinceramente, não conseguia falar nada; queria perguntar, queria saber mais alguma coisa, mas a coragem de interrompê-lo lhe faltava. Eurípedes continuou:
- Amigos, nunca nos esqueçamos de dar nosso apoio aos amigos que ainda usam o vestuário da carne em trabalho de tão grande alcance espiritual como este. Aqui nada trouxemos, daqui levaremos algo precioso para ser arquivado em planos mais altos. Trabalho e perseverança no bem é a meta. Vamos pedir a Deus que estes companheiros não abandonam esta tarefa de servir, porque são poucos os que já acordaram dos sonhos e das ilusões passageiras. Quanto tempo? Quantos séculos apanhamos? Não sabemos, mas de tanto apanhar, um dia acordaremos para a realidade da Vida Eterna. Jesus está nos convidando para sua grande festa e nós vamos perder o banquete. A festa é de trabalho e compreensão. Jesus está conosco, não vacilemos. Ele nos espera e tem pressa que cheguemos a Ele.
Após pequena pausa. Eurípedes dirigiu-nos a palavra:
- Perdoem-me se não vim cumprimentá-los antes, é que gosto de trabalhar com o silêncio. Ele costuma nos dizer muita coisa. Jesus abençoe a todos vocês e quando houver outras festas como esta, nós nos encontraremos. Adeus, e vão com alegria procurando mais serviço.
Ildeu olhou-me, agradeceu a Mariano, pegou-me pela mão e disse-me:
- Adelino, acorde, a festa acabou, é hora de irmos, precisamos pegar, o mais rápido possível, outras tarefas que nos trarão mais alegrias como estas.
Adelino D. 'Carvalho
Página recebida pelo Médium Celso de Almeida Afonso, no Departamento de Assistência Social “Mariano da Cunha Junior”, do Centro Espírita Aurélio Agostinho, no dia 12-06-79, em Uberaba – MG

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