domingo, 17 de outubro de 2010

Dor evolução – Dor expiação - Dor auxílio

Dor evolução – Dor expiação - Dor auxílio
Publicado por Dora em 12/2/2007 (2695 leituras)
Vitor Ronaldo Costa

Esquemas Impulsionadores da Evolução Anímica, Vigentes Em Planetas Provacionais.
"Pois bem: que se figure a Terra como sendo um subúrbio, um hospital uma penitenciária, uma região malsã, porque ela é ao mesmo tempo tudo isso, e se compreenderá por que as aflições sobrepujam as alegrias...” (Allan kardec. "O Evangelho Seg. o Espiritismo", cap. 111, item 7).
Significativa parcela da comu­nidade planetária desconhece a verdadeira causa e o valor do processo doloroso no inter­câmbio habitual com a criatura humana. Quando avaliada "a vôo de pássaro", a dor é tida na conta de tormento inde­sejável capaz de suscitar o sofrimento, as lágrimas e o pavor das criaturas deses­peradas perante as aflições terrenas. Todos repudiam a dor, desejam afastá-la por qualquer meio, muito embora, apenas a vontade, nem sempre seja o recurso su­ficiente para impedir a visita daquela que se esconde sob o manto de duas variantes implacáveis: a dor física e a dor moral. Ao contrário do que imaginam os desa­visados, a dor não se trata de um castigo imposto por Deus ou de uma condição aleatória que nos atinge sem um motivo aparente. De acordo com os princípios que norteiam a doutrina espírita, o acaso e o determinismo absoluto inexistem, de maneira que, ninguém deveria atribuir a tais fatores a causa das desditas atrozes que, por vezes, fustigam a alma humana. Diante do fato impõe-se o conhecimento de causa, maneira correta de se nortear os passos na desafiadora caminhada ao longo da existência planetária. Ao clas­sificar o orbe terreno como morada de provações e expiações, Allan Kardec nos alerta para o atual padrão evolutivo da humanidade, na medida em que ressalta a prevalência do mal sobre o bem. Ora, isto serve como um chamamento capaz de nos predispor ao esforço da reforma íntima. Então, conscientizados de nossas atuais restrições evolutivas, não podemos falar de dor sem fazer referência à questão da responsabilidade individual posta em prática no decorrer das reen­carnações sucessivas. A tendência da maioria é culpar a má sorte, como se as aflições corriqueiras não respondessem aos mecanismos sutis da mente assolada por dívidas morais e sentimentos de culpa. Por isso, costumamos afirmar que as di­retrizes espíritas servem para aclarar a nossa percepção interior, facilitando-nos a reflexão a respeito das próprias vivências desarmônicas ensaiadas em todas as épocas. O mal que infligimos aos se­melhantes não se dilui na esteira dos tempos, assim como a fumaça se dissipa no ar atmosférico. A memória espiritual retém em seus refolhos os atentados co­metidos intencionalmente contra a har­monia cósmica. Todavia, o remorso re­sultante assemelha-se a verdadeiro corpo estranho passível de atormentar o equi­líbrio desejável do nosso campo mental. A consciência profunda, a cenoura infle­xível de nossas atitudes infelizes, em determinado instante, nos impele à drenagem saneadora daquilo que nos in­felicita. Invariavelmente tal escoamento se processa por meio das múltiplas formas de sofrimento e aflição. A dor sinalizada reflete a quantidade de desarmonia in­terna de que se é portador. Quanto maior a sua intensidade, maior a pendência a ser resolvida da melhor maneira no trans­correr do jornadear terreno. Portanto, em relação à dor, o problema é de ordem individual, pois a alma, na condição de instrumento refletivo da perfeição divina não apresenta condições de albergar em sua intimidade, por tempo dilatado, aquilo que não contribua para o engrandecimento progressivo de si própria. O livre arbítrio constrói diariamente o nosso destino, alter­nando harmonia e felicidade ou sofri­mento e tristeza, tudo na dependência do comportamento com o qual marcamos as nossas existências. O espírito André Luiz, o querido mentor residente na metrópole espiritual "Nosso Lar", nos propicia signi­ficativas informações ao discorrer sobre os três tipos de dor experimentados pelo ser encarnado. Vejamos cada um deles.

1- Dor-evolução. - "A dor é ingre­diente dos mais importantes na economia da vida em expansão. O ferro sob o malho, a semente na cova, o animal em sacrifício, tanto quanto a criança chorando, irresponsável ou semicons­ciente, para desenvolver os próprios órgãos, sofrem a dor-evolução, que atua de fora para dentro, aprimorando o ser, sem a qual não existiria progresso"l. Ampliando ainda mais este conceito po­demos aduzir ao citado esquema, outros acontecimentos tidos na conta de desafios provacionais, comuns a quase todos nós na condição de encarnados. O que ca­racteriza a dor-evolução é o confronto com os vetores desarmonizantes que nos atingem de fora para dentro, mas que servem para estimular a paciência, a re­signação, a fé, o perdão e a capacidade de luta. Poucos amadurecem efetivamente sem que experimentem dificuldades e obstáculos de toda ordem. "A luta inten­siva, porém, dilata as aspirações íntimas. O sofrimento, quando aceito à luz da fé viva, é uma fonte criadora de asas es­pirituais"2. Os exemplos são incontáveis: é o convívio com o parente difícil; a pa­ciência a ser requisitada diante do côn­juge incompreensivo; a dificuldade em educar e encaminhar para o bem o filho rebelde; as pressões exercidas pela chefia no trabalho profissional; a ameaça de perda do emprego honesto que nos sus­tenta; a traição de alguém muito amado em quem depositávamos irrestrita confiança; a perda precoce de um ente querido vi­timado por acidente ou doença incurável e assim por diante. São problemas corri­queiros, comuns à maioria das pessoas, mas que nos atingem de inopino nos deixando marcados pela dor dilacerante e pelas lá­grimas sentidas. As provações, quando enfrentadas com a devida resignação e con­fiança no auxílio do Pai Maior, não passam de convites da própria vida ofertados em prol do nosso aprimoramento íntimo.

2- Dor-expiação. Os erros humanos decorrentes da cólera incontrolável, do egoísmo obsessivo, das viciações incon­seqüentes, da sexualidade irresponsável, da maldade premeditada, às vezes, com requintes de sadismo, são os vetores res­ponsáveis pelos débitos morais que se acumulam nos bancos imperecíveis de nossa memória espiritual. A prática do mal desarmoniza profundamente a essência pensante, cria uma espécie de morbo energético de teor vibratório bastante densificado, que permanece aderido à malha eletromagnética sutil do campo perispiritual. Constitui-se algo incomo­dativo e desagradável, por tratar-se de verdadeira moléstia a pulsar nas entranhas multi dimensionais do ser. Tal condição anômala de natureza anímica é a respon­sável pelo desencadeamento, na criatura encarnada, de manifestações degenera­tivas do organismo físico (mal-formações congênitas, cânceres etc.) tanto quanto de perturbações mentais, ao mesclar crises de intenso remorso com depressões pro­fundas e manifestações esquizofrênicas de difícil solução. Assim, manifestam-se as chamadas doenças cármicas, expressões autênticas das expiações educativas. A dor-expiação se diferencia da condição citada no item anterior, por não decorrer dos fatores agressivos externos. Aí está a diferença. Vejamos a respeito, o pen­samento de André Luiz: "Em nosso es­tudo, porém, analisamos a dor-expia­ção que vem de dentro para fora, marcando a criatura no caminho dos séculos, detendo-a em complicados la­birintos de aflição, para regenerá-la, perante a Justiça... "3. Infelizmente a dor-expiação constitui-se contingên­cia assídua em nossa programação en­carnatória, porquanto, nos revelamos carentes de maiores aquisições evan­gélicas, exceção feita àqueles que já superaram as más tendências e se mos­tram familiarizados com as práticas da justiça, do amor e da caridade.

3- Dor-auxílio. A reencarnação é um desafio expressivo enfrentado com certa preocupação pelos espíritos mediana­mente evoluídos. No que pese as boas intenções, às vezes, tais espíritos, quando encarnados, se deixam empolgar pelos atrativos mundanos e, invigilantemente, sofrem desvios dos planos previamente traçados no Mundo Maior, não suportando as provações retificadoras ou assumindo atitudes infelizes passíveis de precipitarem o fracasso da experiência terrena. Todavia, deixamos do outro lado da vida, aqueles espíritos bondosos que nos são caros e interessados em nossa proteção. Por isso, diante da ameaça de tropeços lamentáveis, em certas ocasiões, somos beneficiados pelo amparo de exceção, ou seja, provi­dências aparentemente drásticas, mas cabíveis nos esquemas traçados pelos benfeitores desencarnados em nosso próprio benefício. "O enfarte, a trombose, a he­miplegia, o câncer penosamente suporta do, a senilidade prematura e outras calamidades da vida orgânica constituem, por vezes, dores-auxílio, para que a alma se recupere de certos enganos em que haja incorrido na existência do corpo denso, habilitando-se através de longas reflexões e benéficas disciplinas, para o ingresso respeitável na Vida Espiritual". Em quantas ocasiões, quando compro­metidos pela enfermidade grave ou pro­longada, nos sentimos infelizes e desam­parados por Deus. Pois bem. É justamente em tais circunstâncias que devemos buscar a serenidade mental e agradecermos à Pro­vidência pela doença oportuna que nos impediu a tomada de uma atitude insana. Nada acontece sem uma razão plausível, mesmo que, em nossa miséria, não en­tendamos o significado real da ocorrência. Em verdade, nem sempre interpretamos corretamente o empenho dos bons es­píritos em nosso favor.
Qualquer contingência dolorosa me­rece de nossa parte uma atenção especial. De acordo com a lei de causa e efeito sempre colhemos o fruto saudável ou não da semeadura escolhida. O sofrimento resulta do mal, assim como a felicidade, do bem praticado. Não olvidemos, en­tretanto, as várias iniciativas alicerçadas no bom senso a serem mobilizadas na vigência da dor. São resoluções passíveis de minorar as crises temporárias pelas quais transitamos. A prece habitual, o comportamento retificador, o descortino mental e o bem que se pode patrocinar ao próximo, retratam as atitudes inteligentes daqueles que almejam o bom aproveita­mento da reencarnação bendita.
Referências bibliográficas:
1- André Luiz & Fco. C. Xavier. "Ação e Reação", cap. 19, pg.261, 13edição (FEB).
2- André Luiz & Fco. C. Xavier. "Missio­nários da Luz", cap. 16, pg. 267, 9ª edição (FEB).
3- André Luiz & Fco. C. Xavier. "Ação e Reação", cap. 19, pg. 261, 13ª edição (FEB).
4- Idem, pg. 261.
Nota: o autor é Médico, escritor e expositor espírita.
Revista Internacional de Espiritismo - Junho de 2004

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