sábado, 30 de junho de 2012

A visão de Deus


           Perguntas como é possível à criatura, finita e limitada, ver o Criador, desde que Ele é infinito e não tem forma visível.
          Irmão, a visão de Deus não consiste em ver com o órgão visual, tal qual  agora podes imaginar ou compreender; por isto se deve entender a visão do espírito ou inteligência. É uma visão sem imagem; é uma percepção, um conhecimento, uma expansão de amor irresistível; é a visão real das manifestações magníficas e inenarráveis da Divindade, a certeza inefável da presença e do amor infinito de Deus, em vez da visão de uma forma determinada que, por conseguinte, seria finita e não poderia ser Deus.
          Aliás, toda coisa visível logo se torna conhecida e analisada em profundidade, porque é limitada e, consequentemente, não pode ser uma fonte de bondade eterna e infinita. Nesta maneira de representar a visão de Deus, cai-se forçosamente nas ideias pouco inteligentes e retardatárias, bem como na imobilidade dos bem-aventurados extáticos para sempre no paraíso. Ora, os que, depois de haverem esgotado as provas das vidas transitórias, chegaram ao topo da escala espírita, não cessam de ser ativos, porquanto, à medida que o Espírito se purifica e se aproxima de Deus, participa cada vez mais das perfeições divinas; e, como Deus é o centro e o foco da eterna atividade da vida, resulta que os Espíritos puros agem incessantemente, a fim de contribuírem com toda a sua liberdade e toda a sua força para a realização das vontades do Eterno. Sentem que o foco da caridade infinita os envolve, que a luz que jorra da face de Deus os ilumina e que a onisciência do Senhor lhes abre seus tesouros, e que o Todo-Poderoso os torna livres e fortes para dominarem os elementos, dirigirem as forças vitais, influírem sobre as inteligências dos Espíritos elevados, embora não chegados ao topo, e contribuírem eternamente para a manutenção da harmonia da Criação.
          As palavras do apóstolo Paulo: “Videbimus Deum facie ad faciem” e “videbimus Deum sicuti est” não devem ser tomadas ao pé da letra, porque a criatura jamais poderá limitar Deus à sua medida, nem se tornar infinita, o que ressalta literalmente do texto de Paulo. Em vez disso, entendamos que os Espíritos puros terão noções de Deus sempre mais perfeitas à medida que crescerem em perfeição; que nunca mais o erro turvará o seu entendimento; que as delícias e o amor deste bem e desta beleza harmônica sem limite lhes serão desvendadas sempre mais, séculos após séculos, mas sem jamais conseguirem impor à Divindade nem limites, nem formas, nem imagens mais ou menos análogas às que são criadas pela imaginação do homem terreno.
          Adeus; trabalha com coragem, porque, pelo trabalho e pelo exercício das faculdades que Deus te deu, não fazes no presente, com dificuldade, senão o que farás de outro modo, e com delícias sem-fim, por toda a eternidade, quando todas essas mesmas faculdades tiverem recebido o desenvolvimento necessário.
 Espírito Anônimo
Genebra, 11 de janeiro de 1869
Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos - Ano XII, 1869 
(nº 9 - setembro de 1869)
Allan Kardec
FEB - Federação Espírita Brasileira

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