HÁ
DEZ ANOS – NO DIA 30 DE JUNHO – Francisco Cândido Xavier se despedia do corpo
físico. Completava uma existência de 92 anos e 75 de exemplificação nos labores
espíritas.
Ante
a história de vida e da obra mediúnica de Chico Xavier, não podemos nos
absorver em questões tópicas, de curiosidade ou de informações pessoais. Sua obra
majestosa e profícua assume dimensões de amplas perspectivas. Os livros
psicografados aí estão para serem lidos, estudados e ensejarem profundas
reflexões. As marcas da existência de dedicação ao bem e à paz são repositórios
de iluminação para os caminhos a serem percorridos por todos aqueles que são tocados
pela mensagem, pelo estimulo à renovação e ao aperfeiçoamento moral e
espiritual.
O
homem simples e humilde, entre outros trabalhos significativos, psicografou a
obra-prima Paulo e Estevão no
ambiente bucólico e pitoresco da Fazenda Modelo, em Pedro Leopoldo (MG), nos
horários de pausa e de lazer do seu ambiente de trabalho profissional, com o
beneplácito de seu chefe Rômulo Joviano. Hoje, a septuagenário obra é fonte de inspiração
com base na epopeia dos primeiros tempos do Cristianismo e das figuras
marcantes reverenciadas no título do livro. Entre muitas colocações oportunas
de Emmanuel, destacamos a seguir alguns trechos que caracterizam a coerência e
a maneira de ser do médium homenageado:
Simplicidade,
referindo-se à instituição de Antioquia:
“[...] Vivia-se ali num ambiente de simplicidade pura, sem
qualquer preocupação com as disposições rigoristas do judaísmo. [...]”,
Mediunidade natural: “[...] A união de pensamentos em torno de
um só objetivo dava ensejo a formosas manifestações de espiritualidade. [...]”,
Dedicação ao próximo: “[...] nossos serviços junto dos
desfavorecidos da sorte, para que os seguidores do Evangelho, no futuro, não se
arreceiem das situações mais difíceis e escabrosas [...]”.
Os
romances históricos elaborados pelo Espírito Emmanuel permitem-nos a compreensão
das lutas nos albores do Cristianismo e, na sequencia de séculos, dos esforços
dos cristãos. Graças à compreensão dessa longa trajetória passamos a entender a
autoridade espiritual do orientador de Chico Xavier, legando-nos oito obras com
comentários sobre o Novo Testamento, cinco delas editadas pela FEB, as quais compõem
a Coleção Fonte Viva, a começar por Caminho, Verdade e Vida.
As
relações entre as dimensões corpórea e incorpórea são esmiuçadas na chamada “Série
André Luiz” ensejando ilustrarem-se os ensinos contidos na Codificação Espírita.
As ligações entre as humanidades são também evidenciadas em várias obras em
forma de poemas e nas conhecidas “cartas familiares”, nas quais os Espíritos
demonstram a seus parentes e amigos que sobrevivem à morte do corpo físico. A certeza
da imortalidade da alma é fonte de consolo, de esclarecimento e de estimulo ao
aperfeiçoamento moral e espiritual.
Nas
manifestações públicas, entrevistas e diálogos, Chico se caracterizou pelo
respeito e o mérito sobre sua pessoa, direcionando-os ao mundo espiritual. No atendimento
continuado aos carentes espirituais e socioeconômicos, Chico sempre levou a
mensagem de carinho, consolo e alento. Testemunhamos inúmeros episódios
marcantes. Entre estes, em visita que fizemos ao médium, durante a “peregrinação”
de um sábado de novembro de 1983, os comentários tecidos em torno do trecho de
O Evangelho Segundo o Espiritismo (ED.FEB, cap. VI, it. 1.):
“Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados,
que eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jogo e aprendei comigo que sou
brando e humilde de coração [...]”
Depois
dos comentários dos convidados, Chico concluiu:
“Todos estamos sob o jugo da lei, mas o do Cristo é mais suave”
e
concitou todos à paciência, à calma, à cooperação porque o amor e a caridade são
imprescindíveis para a aceitação do jugo do Cristo.
Em
2010, foi concretizado o “Projeto Centenário de Chico Xavier”, de
responsabilidade e com base em amplos estudos do Conselho Federativo Nacional
da FEB, cujo objetivo foi enfatizar a obra de Chico Xavier e contribuir com a memória
de sua atuação, respeitando sua privacidade pessoal e espiritual.
Cinco
palavras-chave forma tema da ampla divulgação, sintetizando a ação de Chico: espírito,
saber, fé, amor e caridade. Mais de 600 eventos foram implementados em todo o
País, com ampla difusão e repercussões nas
varias modalidades de mídia. Mesmo depois de desencarnado, Chico Xavier e sua
obra psicográfica foram instrumentos para a mais abrangente difusão do
Espiritismo, o que permite considerar aquele período como o “Ano do Espiritismo”.
Os
que conheceram e privaram da amizade com o médium entendem que hoje ele estaria
próximo de todos os que desinteressadamente atuam na sementeira do amor, do bem
e da paz. Parece-nos oportuna a manifestação de Chico Xavier, quando,
completando 50 anos de labores mediúnicos, declarou humildemente a um jornal
espírita:
“Sou sempre um Chico Xavier lutando para criar um Chico Xavier
renovado em Jesus e, pelo que vejo, está muito longe de aparecer como espero e
preciso [...]”.
Antonio
Cesar Perri de Carvalho - “Reformador” Junho 2012
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