Dentro da definição que
lhe deu Allan Kardec, o Espiritismo tem, ao mesmo tempo, um aspecto geral, como
filosofia espiritualista, e os aspectos particulares, que são inerentes a seu
caráter e sua organização. Quem o diz é o próprio Allan Kardec na introdução de O
Livro dos Espíritos, ao ensinar que “todo espírita é espiritualista, mas nem
todo espiritualista é espírita”. Realmente, há muitos espiritualistas
que, embora admitam o fenômeno de além-túmulo, não aceitam os postulados do
Espiritismo. São espiritualistas, mas, na realidade, não são espíritas.
Estas noções iniciais são
muito conhecidas dos adeptos do Espiritismo, mas a verdade é que muitas pessoas
julgam mal o Espiritismo, exatamente porque não conhecem as noções elementares
da Doutrina. Daí, portanto, a necessidade, não mais para os espíritas, mas para
o elemento leigo, de certos rudimentos indispensáveis a respeito do
Espiritismo, sua definição, seu caráter, seus métodos, suas consequências.
O fenômeno, como se sabe,
é o ponto de partida, tanto do Espiritismo, como de todas as escolas e
correntes que se preocupam com o além-túmulo. É de notar-se, porém, que nem
todos os que se dedicam à experimentação mediúnica entram nas indagações de
ordem filosófica. Sob esse ponto de vista, é claro que o Espiritismo ultrapasse
a experimentação pura e simples, porque, além de tratar, também, da origem do
fenômeno, tira consequências morais de grande influência, tanto na vida particular,
como na vida social. Justamente por isso foi que Allan Kardec definiu o
Espiritismo como uma ciência que trata da origem e do destino dos espíritos,
assim como de suas relações com o mundo terreno.
Aí então, implicitamente,
os três pontos básicos:
1. A
origem e destino dos espíritos são questões transcendentais de alta filosofia;
2. A
relação dos espíritos com o mundo terreno é assunto da ciência experimental,
porque são os fenômenos que provam essas relações;
3. O
aspecto moral, porém, é fundamental para o Espiritismo.
De que serve a
experimentação apenas como assunto de curiosidade? De que serve entrar em
comunicações com os espíritos ou provocar fenômenos, sem tirar desses fenômenos
o que é essencial para o refinamento dos costumes, para a reforma interior do
homem?
Para muita gente,
Espiritismo é apenas fenômeno, mas quem conhece um pouco da Doutrina sabe muito
bem que não é assim. Para certas escolas, por exemplo, o fenômeno é o fim, ao
passo que para o Espiritismo o fenômeno é o meio. Mas, meio de quê? Meio de aperfeiçoamento,
elemento de convicção para a aceitação da vida futura e, consequentemente,
caminho para a crença em Deus.
Enquanto certos
experimentadores levam anos e anos observando e provocando fenômenos, sem tirar
conclusão alguma acerca dos altos e importantes problemas da vida futura e do
destino humano, o experimentador espírita, quando bem orientado pela Doutrina
Espírita, parte do fenômeno, sobe à indagação dos porquês, que é o terreno da
filosofia, e, depois, faz as necessárias aplicações à vida prática, isto é, ao
comportamento do homem, às atitudes privadas e públicas, aos padrões de
moralidade que a condição de espírita exige em qualquer situação. A não ser
assim, a experimentação, por si só, é assunto simplesmente de curiosidade.
Autor
(a): Deolindo Amorim
Revista
Cultura Espírita – Instituto de Cultura Espírita do Brasil (ICEB) –
Ano:
IV – Edição nº 36- Página: 09 – Rio de Janeiro – Março/2012.
Revista
Internacional de Espiritismo – Edição nº 05 – Junho/1954.
JORGE,
José – Relembrando Deolindo II – Editora CELD –
Páginas:
20 e 21 – Rio de Janeiro/1994.
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