quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Sobre a Sombra: o que sabemos?

“[...] Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico.” - Paulo de Tarso (Romanos 7:14-20)
Vamos conversar a respeito do que pertence a nós, mas que, muitas vezes, ignoramos, porque desconhecemos ou não lhe damos a devida importância.
Para além do revestimento do corpo carnal da espécie humana, em nós existem instâncias desconhecidas, que fazem parte da nossa condição espiritual. Assim, sabemos que somos Espíritos antigos, fartos de experiências e vivências, que tanto influenciam o nosso modo de ser.  
Para viver uma nova experiência na Terra, a alma experimenta o esquecimento, o que lhe faculta a oportunidade de sempre recomeçar. Entretanto, esquecer não é apagar. Todas as vivências se encontram descritas na alma, que é multimilenar e eterna. 
Tais conteúdos se alojam em nosso porão consciencial, definido pelas ciências psicológicas como inconsciente. Freud foi quem primeiro trouxe a lume essa dimensão da interioridade.  
Algumas lembranças atravessam as barreiras desses porões e visitam o ser durante a sua estadia terrena. Assim, temos conteúdos esclarecedores, por intermédio dos sonhos, das ligações, diante das escolhas, das projeções nas relações interpessoais. Esses conteúdos passeiam cotidianamente pela realidade da consciência, interferindo no modo de ser e de viver humanos.
Outra possibilidade de interferência na percepção vivencial acontece por meio das ideias e condicionamentos que a alma se sujeita na estadia terrena. A criança, quando nasce, não tem consciência de sua condição humano-espiritual. À medida que cresce, desenvolve-se e convive com seus pares, oportunidade em que se forma o Eu (Ego), uma dimensão identitária, gestada à luz dos seus espelhos humanos (pais, cuidadores, ambientes socializadores).  
Ao chegar à Terra a mochila infantil veio vazia. Não há lembranças, visto que o véu do esquecimento as cobriu. Não há experiências, não há sentimentos, não há crenças nem valores. É justamente a Terra, em sua condição de mundo que circunda a alma, que fornece todo o arcabouço cultural, social e moral. Embora alguns conteúdos sejam de grande relevância ao desenvolvimento do pequeno ente, nem tudo que se coloca na pequenina bolsa terá serventia ao seu crescimento e desenvolvimento. Logo, um montante dos valores e crenças se transforma em uma carga obscura, em uma parte pertencente ao ser, porém por ele desconhecida, a que chamaremos de sombra.  
A sombra é o lado obscuro, o lado oculto e sombrio da nossa personalidade. Segundo Jung, ela abriga os instintos animais que herdamos das espécies primitivas, ao longo de eras. Acolhe ideias, desejos, tendências, memórias e experiências reprimidas ou ocultadas, por serem incompatíveis com os padrões sociais ou os porões que impomos a nós mesmos. Ela contém o que consideramos inferior, aquilo que negligenciamos e aquilo que queremos ocultar ou negar.   
Embora não aceita, a sombra é parte intrínseca do reencarnante. Uma miscelânea de experiências, adormecidas no inconsciente, a refletir os compostos materiais frutos das experiências e aquisições valorativas. Conteúdos nem sempre aceitos socialmente, mas necessários ao entendimento do Ser integral.  
Assim, não se separa o que é bom do que é considerado mal. A dualidade humana é contraditória. É preciso compreender a lama, integralmente, isto é, com toda a sua bagagem existencial, sem o julgamento valorativo, mas dando a oportunidade para que, em potência, tudo possa ser visto, compreendido e sentido. 
Uma das recomendações de Jesus era: “Conhecereis a verdade e a verdade o libertará”. Conhecer quem é, o que pensa, quais são suas atitudes e o que fazer com tudo isso é o primeiro passo para aqueles que pretendem, amigavelmente, direcionar suas potencialidades para o crescimento e a evolução.  
Siga você. Ande de mãos dadas com as suas construções. Direcione-as a seu favor e daqueles que coabitam com você. A sombra não foi feita para ser eliminada. Na realidade, ela só existe em virtude da presença da luz. Não há sombra na escuridão. Somente quando o clarão acende, é possível ver por detrás da imagem. 
Olhe no espelho. O que vê? – Você-sombra-luz, coexistindo!
                      Fernanda Leite Bião
 
Para conhecer mais:
JUNG, Carl Gustav et al. O homem e seus símbolos. Tradução de Maria Lúcia Pinho. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
OLIVEIRA, Wanderley S. Laços de afeto: ditado pelo Espírito de Ermance Dufaux. Belo Horizonte: Dufaux, 2001.
SPITZNER, Ana Paula et al. Iluminando o lado sombra com recursos transpessoais. 2011. 41 f. Trabalho de Conclusão de Curso – Instituto Humanitatis de Formação em Transpessoal, Curso de Formação em Psicologia Transpessoal Aplicada, Campinas. Disponível em: . Acesso em: 13 dez. 2013.

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