sexta-feira, 13 de maio de 2011

A outra plateia de Divaldo


Nos dias 19 e 20 de setembro do corrente ano (1987), Divaldo Franco esteve em Juiz de Fora para realizar um seminário e uma palestra pública. O seminário, cuja frequência foi limitada, teve como tema "A Ciência do Espírito", dividido em três módulos com três horas cada, sendo realizado no salão da Faculdade de Ciências Econômicas, de 400 lugares e que esteve lotado.
Três dias depois, ou seja, no dia 23, em nossa reunião mediúnica, no Centro Espírita "Joanna de Ângelis", tivemos interessante comunicação que nos trouxe uma outra visão sobre as atividades que se realizam no plano espiritual simultaneamente às palestras proferidas por Divaldo Franco.
Primeiramente são necessários alguns esclarecimentos.
 Ao se dirigir do Rio a Juiz de Fora, na 6a-feira, dia 18, nas proximidades de Três Rios, o carro em que Divaldo viajava sofreu um acidente, felizmente sem maiores proporções. Ao que parece houve problema na barra de direção e o automóvel, numa curva, se desgovernou indo de encontro à barra de ferro que divide as pistas. Como estivesse a uma velocidade de 50 km, não aconteceu algo mais grave. Mesmo assim duas das três senhoras tiveram fraturas, uma no joelho e a outra no nariz e frontal, e Divaldo, várias contusões na altura das costelas, quadris, perna e pequenos cortes. Isto ocasionou-lhe fortes dores, além do desgaste emocional e psíquico natural nessas ocorrências. Mesmo assim, compareceu a todas as atividades programadas, embora tivesse de fazê-lo à custa de forte analgésico.
E necessário ainda mencionar que este é o 28° ano consecutivo  em que Divaldo comparece a esta cidade (Juiz de Fora). Sempre promovemos as suas palestras. Sendo assim, os fatos que vamos narrar não são fruto de um entusiasmo de quem o conhece há pouco e por isto se deixou impressionar pela palestra magistral e pelo belíssimo seminário realizado. Estes anos todos, nós, que temos escrito sobre mediunidade e comunicações mediúnicas, não vivenciamos nada semelhante ao que iremos contar, embora soubéssemos que existe (como também o sabem todos os espíritas), a não ser por pequenos relatos de um ou outro Espírito e aquilo que lemos nos livros da Doutrina.
Ao final da reunião, comunica-se por nosso intermédio um Espírito de certa cultura e grande facilidade para falar. Estava veemente, caloroso e deixando transparecer certa emoção. Começa a prestar o seu depoimento.
- Eu não posso deixar de lhes falar da experiência que vivi neste final de semana. Eu mesmo pedi para fazê-lo, porque sinto imperiosa necessidade de contar o que me sucedeu. Não o faço, porém, por simpatia, pois a verdade é que ainda não consigo achá-los simpáticos. Faço-o porque preciso. Saibam que eu acompanhava, de longe, com meus companheiros, a viagem do carro no qual estava aquele homem que lhes vinha ensinar.
Tudo o que então ocorreu não foi culpa nossa, isto é, nós não provocamos aquele acidente com o carro, embora nos alegrássemos com o acontecido. Mas não o provocamos, apenas aplaudimos, desejando que se calasse para sempre aquela voz.
Quando pressentimos que algo não estava indo certo e que tentamos nos aproximar para "ajudar" a acontecer fomos impedidos por uma espécie de "campo de força" e eu lhes afirmo que uma corrente de luz cercou o veículo e as pessoas, enquanto um certo número desses guias de vocês, com muita luz cada um deles, defendiam e socorriam, de forma pouco compreensível para nós, os passageiros.
E foi tal a força e tal a luz que nos assustamos e tentamos correr, como cachorrinhos amedrontados. Todavia, a partir desse momento, ficamos como que imantados àquele indivíduo, como se dele dependêssemos para resolver as nossas vidas.
Até então eu julgava que ele não daria conta da programação, sentia satisfação em imaginar que teriam de suspendê-la, pois eu "via" as dores dele e avaliando-as deduzi que seriam impedimento insuperável. Estávamos nessa expectativa quando fomos sendo levados daqui para ali e, em consequência disso, assistimos tudo.
- Primeiro eu me admirei da luz que o cercava, dos guardiões que o defendiam e da vontade férrea que ele demonstrou ao não se deixar abater. Ao chegar ao local do seminário novas surpresas me estavam reservadas.
Eu via o público mas este não via a nossa platéia, no plano extrafisico, com o triplo de pessoas. Todo o palco estava tomado por aparelhos de natureza espiritual, também ao longo do salão, estrategicamente colocados, que projetaram para nós cenas as mais diversas, desde as ligadas à nossa própria vida até aquelas outras em que se via o "chefe" de vocês, chamado Codificador.
Enquanto ele falava, os aparelhos eram acionados no nosso plano e para a nossa assembléia. As cenas eram plasmadas, projetavam-se no espaço, ganhavam vida, tornavam-se independentes da palestra e em espaços de tempo bem menores que os da dimensão terrestre assistimos às pesquisas a que ele ia se referindo, como se naquele instante ocorressem.
Vimos chegar os filósofos e os cientistas em imponente desfile de luzes. Enquanto as épocas se desenrolavam, de forma difícil de explicar, cada um de nós acompanhou também trechos de sua própria vida. Nos intervalos, quando o público "vivo" se retirava nós permanecemos, pois a sequência de esclarecimentos em nossa esfera foi ininterrupta.
Pela primeira vez me foi dado compreender o alcance do trabalho que esse homem realiza. Vi as pessoas correndo aflitas para ele, pedindo notícias de parentes mortos, falando de doenças, cumulando-o de perguntas e mais perguntas e sendo atendidas pacientemente. Ele - vejam bem - que mal podia respirar pela dor, pelo cansaço.
Quando se aproximavam observei que todo o auditório estava imantado a ele, não apenas nós. Havia uma ligação entre todos, nos dois planos da vida. Pareceu-me que poderia compará-lo a uma usina de força e energia, que emitia luz, uma luz que vinha do Alto e que, passando por ele, envolvia a todos. Os parentes, cá da nossa esfera - que ele vê e ouve - deram quantas notícias lhes foram permitidas, que ele ia repetindo - nomes, apelidos, situações, conselhos - enquanto as pessoas choravam e riam de emoção, de alegria.
Esclareço, entretanto, que a nossa perseguição em relação a vocês (referindo-se ao grupo) não começou agora. Não se iniciou nesses dias, nem no ano passado, pois nossas vidas estão enredadas. Eu faço parte da vida de vocês, sou alguém que conhecem profundamente. Neste momento, embora não lhes tenha simpatia, sinto que simpatizam comigo, estão emitindo vibrações solidárias, afetuosas para mim.      
Pois foi exatamente assistindo a tudo isto, o seminário de nossas próprias vidas, que eu e o meu grupo finalmente capitulamos.
  - E eu lhes digo que, para espanto geral, esse homem que lhes veio ensinar, no primeiro momento em que logrou adormecer veio ao nosso encontro para nos dizer que nos compreendia e que não somente nos perdoava, mas que amava a cada um e que nos esperava há muito tempo! 
- Fiquei vexado, constrangido, tive vergonha e desespero, porque eu vi, na luz que sua palavra irradiava, que ele era absolutamente verdadeiro.  Felizes são vocês (dirigindo-se aos presentes) que conheceram a verdade há mais tempo. Que mudaram de rumo e se integraram nesta doutrina - como vocês a chamam.
- Vejam a minha situação. À medida que fui assistindo às reuniões e descobrindo a "ciência da vida", a "ciência do Espírito" . fui envelhecendo. Entrei em contacto com a realidade e, se antes me sentia jovem, forte e poderoso, aos poucos fui envelhecendo como se todas aquelas épocas passassem sobre mim e me sulcassem profundamente. Agora estou uma ruga só!
- Mas eu quisera ser monstruoso, aleijado, como aquele menino da palestra (2), quisera ter meus pés tolhidos, as mãos deficientes porque hoje eu sei que vou reencarnar. Preciso renascer aleijado para não incidir nos mesmos crimes (neste momento está emocionado, patético e a emoção toma conta de todos os participantes).
 - Vocês, por exemplo (dirige-­se ao grupo), não trazem defeitos físicos visíveis, mas, cada um, certamente, tem limitações físicas, constrições variadas no organismo, mas que são benditas porque lhes impedem de errar, cerceiam a liberdade e os fazem ficar atentos e vigilantes.      
- Eu, contudo, preciso de muito mais. Preciso da deficiência física, da fealdade, como também preciso entrar em contacto com a Doutrina Espírita. Quem sabe um dia, os nossos caminhos se cruzem. (Ao dizer isso levanta o rosto e olha para a frente como quem fita o futuro.)
- Quisera encontrar um de vocês, talvez os mais jovens, os que hoje são mais novos. Talvez nos encontremos nesse futuro que não está longe. E tenho certeza de que nos iremos reconhecer. De alguma forma nos reconheceremos. Lembrem -se de mim, não se esqueçam de mim. (Ao dizer essas frases o comunicante emociona-se. As lágrimas agora caem dos seus olhos e a voz está embargada).

 - Eu estou sofrendo muito e recebo as vibrações de vocês. Elas me tocam o coração e já os vejo com simpatia e com irresistível afeto. ( Pausa longa e emocionada. )
- Talvez, um dia, no futuro que me aguarda, nossos caminhos se cruzem e nessa casa que vocês terão e que eu já vejo (3) - é uma casa grande e bonita -, talvez um dia, ao passar em frente a ela, vendo abertas as suas portas, eu, finalmente, entre! 
Suas últimas palavras, a emoção que passou a todos os circunstantes ficaram repercutindo em nossos corações. O silêncio, carregado dessas emoções, foi quebrado pela prece final, de gratidão a Deus, proferida pelo dirigente.
(2)  Refere-se ao caso de Hugolin, narrado por Divaldo, que era um jovem de 14 anos, corcunda, deficiente e feio.
 (3) Referência feita à futura sede do C. E. "Joanna de Ângelis".
Autora: Suely Caldas Schubert

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