domingo, 5 de fevereiro de 2012

Como fala a Vida - O Vento

Escutemos a história de um homem que ouvia vozes de todos os seres e com eles conversava.
Um dia, o vento enfurecia. E esse homem lhe falou: "Cala-te, não vês que danificas a vida? Arrancas as árvores, matas os animais, ameaças as pessoas. modera a tua corrida! Ninguém te impede de andar e, com um pouco de calma, chegarás da mesma forma ao teu objetivo, sem causar danos. Na Terra, não existis somente tu e os demais elementos. Há, também, a vida das plantas, dos animais, dos homens. Há lugar para todos, tanto para ti como para eles, porque todos devem viver”.
Ah! o vento não podia ouvir a voz nem compreender os conceitos, não sabia responder. Entretanto, o vento não é coisa morta. É energia, movimento, tem um corpo físico, embora gasoso, é vida. Há, na profundeza de todas as coisas, um oculto pensamento que elas ignoram e que lhes guia a existência. até nas formas mais simples das combinações químicas e movimentos atômicos. À medida que o ser sobe na escala da evolução, vai tomando pouco a pouco consciência desse pensamento.
Àquele homem sabia ouvir interiormente a voz desse pensamento, que, através do vento, como se ele falasse, lhe respondeu:
- É fatal que eu assim aja, porque fui feito assim e porque fatal é a força que me impele e arrasta. Sou a expressão que veste essa força e outra coisa não faço, senão exprimi-la porque ela é todo o meu eu. Quando ela quer e diminui o impulso, também eu paro. tornando-me carinhosa aragem para as plantas, os animais, os homens, para tudo o que chamas vida e que desconheço. Sou surdo e cego no plano cm que falas. Não sei o que seja sentir. Para mim somente o movimento é vida. Quando me falas das experiências desses seres, não sei o que estás dizendo. Não compreendo o mal que tu lamentas que eu faça, como seja arrancar e matar.
O homem replicou:
- "Mas, por que não compreender?"
E a voz da vida respondeu:
- "O fato de não compreender é alguma coisa de que tens conhecimento para que fales dela, mas de que eu não tenho, pelo menos para as coisas que dizes. Só conheço o que diz respeito à minha existência; somente a ela e não às outras. E como aparentas compreender mais que eu, não entendes que não posso conhecer mais que a mim mesmo? Também tu, conquanto mais adiantado do que eu, não podes conhecer mais do que a ti mesmo.
"Vê bem: só tenho uma alma elementar, mecânica, sem direito de escolha, sem responsabilidade e sem outras coisas a que dás nomes que ignoro. Sou apenas um cálculo de forças uma fórmula dinâmica, uma férrea concatenação de causa e efeito, como dirias. Cabe a ti, que tens o que não tenho - a inteligência - como a denominas, estudar a minha realidade, que podes penetrar em sua estrutura e significado, coisas minhas que certamente existem e das quais eu nada sei, mas a que obedeço naturalmente. Ignoro quem o saiba por mim. Apenas obedeço. À ti cabe estudar e compreender-me, porque te sou inferior, não me cabendo penetrar-te, porque me és superior. E para evitar o que chamas de males, ignoro o que dizes que eu faço, para salvar deles os seres de que me falas, compete a ti e a eles, que me sois superiores, aprenderdes a defender-vos, não só porque sabeis mais que eu, senão também porque interessa à vossa existência e não à minha usar os meios necessários de cautela. Cada um deve aprendei a sua lição, vivendo. Eu, a minha; vós, a vossa. E já que tendes a disposição mais recursos do que eu, deveis aprender coisas mais complexas e difíceis. Pareço estar na ociosidade? Se me agito sempre, é porque também tenho o meu trabalho a fazer e as forças, que são a minha alma, devem resolver problemas e aprender soluções, transformações e equilíbrios que ignorais e que têm a sua função na harmonia do Todo em que estais e de que tenho necessidade. Tenho a minha função, que cumpro, na ordem das coisas. Não me podeis pedir mais”.
Em seguida, o vento retomou a sua corrida, que era a sua expressão de vida, e, sibilando, se elevou aos espaços.
[...]
Deus e Universo – Pietro Ubaldi

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