Devido à complexidade do tema aborto, é
fundamental aliar a abordagem científica a espiritual. Para tanto,
entrevistamos a dra. Marlene Nobre, médica ginecologista, presidente do Grupo
Espírita Cairbar Schutel e da AME (Associação Médico-Espírita) do Brasil e
Internacional. É também autora dos livros: Lições de Sabedoria, A
Obsessão e Suas Máscaras, Nossa Vida no Além, A Alma da Matéria e O
Clamor da Vida. Este último foi escrito com o propósito de ressaltar os
argumentos científicos contra o aborto e propiciar ao público uma compreensão
de que a vida se expande muito mais além do que a formação de um feto.
Como
a medicina aliada à espiritualidade vê a questão do aborto?
Como é lógico, os fundamentos da
medicina espírita são os mesmos do espiritismo, sendo assim, a questão 358 de O
Livro dos Espíritos deixa clara a questão do aborto: é um crime.
Esse
foi um dos temas abordados no MEDINESP 2003, inclusive com uma carta publicada.
O que dizia essa carta?
A Carta de São Paulo exprime
compromissos bioéticos dos membros das Associações Médico-Espíritas do Brasil e
foi elaborada pelos participantes da Assembléia Geral, realizada durante o
MEDINESP. Entre os vários compromissos nela exarados, os médicos das AMEs
comprometem-se a lutar não apenas contra a eutanásia e o aborto, mas também,
contra a administração da chamada “pílula do dia seguinte”, que é abortiva. Por
exemplo, quando forçado a receitar a “pílula do dia seguinte”, nos ambulatórios
públicos, o médico espírita não o faz, para isso, lança mão de um direito legítimo,
reconhecido pelo Código de Ética Médica, que é o de ser fiel à sua própria
consciência. Do mesmo modo, o anestesista espírita lança mão desse mesmo
direito para não participar das equipes de abortamento legal já existentes em
alguns hospitais do país.
Existem
campanhas contra o aborto promovidas pela AME?
A AME-Paraná, sob a presidência fraterna
e idealista do dr. Laércio Furlan, tem uma campanha permanente: Vida, sim!
Nela, todos os membros estão envolvidos e visa, principalmente, o
esclarecimento de adolescentes e jovens, o apoio para que a gestante leve a
gravidez até o fim e o aconselhamento sempre disponível, baseado na
fraternidade. A AME-São Paulo participou ativamente de campanha contra o
aborto, em 1994, juntamente com a União das Sociedades Espíritas e Federação
Espírita do Estado de S.Paulo, quando o Congresso Nacional se movimentava em
favor da aprovação do aborto, o que felizmente não se concretizou. Enfim, todas
as AMEs estão engajadas nessa luta, que tem características próprias em cada
Estado.
Quais
são os países que mais se preocupam com o aborto e os países onde se comete o
maior número de abortos?
Há muito poucos países no mundo onde o
aborto ainda não é legal. Estados Unidos e Rússia são os que fazem o maior
número de abortos no mundo.
Em
relação ao Brasil, há algum número estatístico sobre os abortos cometidos?
Nenhuma estatística brasileira, a esse
respeito, é confiável. O que se faz aqui no Brasil é manipular esses números
duvidosos com a finalidade de se legalizar o aborto, alegando-se que a mulher
tem o direito de fazê-lo em condições técnicas adequadas. Os que assim agem
pretendem que o Estado esteja devidamente aparelhado para institucionalizar a
pena de morte para inocentes.
Explique
em linhas gerais quais são as conseqüências do aborto?
O aborto traz conseqüências orgânicas,
psicológicas e espirituais, nesta existência e na outra, para a mulher que o
provoca, para o companheiro que não a apóia na gravidez e para a equipe de
saúde que o executa. Não há como negar, porém, que as conseqüências são mais
graves para a mulher, porque, desde tempos imemoriais, ela traz no seu
psiquismo o compromisso com os entezinhos que necessitam vir ao mundo para
progredir. Essas conseqüências tomam o nome de obsessão, depressão, disfunções
e doenças orgânicas do aparelho genital, etc.
Por
que resolveu publicar um livro sobre o aborto?
A luta contra o aborto está intimamente
ligada a minha convicção como espírito imortal e a minha tarefa como médica.
Enquanto escrevia o livro, tive
confirmação de que estava absolutamente certa, quando me deparei com a
estatística de um dos maiores geneticistas do mundo, Steve Jones, são 90
milhões de recém-nascidos, por ano, no mundo, contra 60 milhões de abortos, no
mesmo período, ou seja, em cinco anos, o número de mortos por aborto é maior do
que o morticínio ocorrido nos seis anos da Segunda Guerra Mundial.
O
que aborda o livro?
O Clamor da Vida é um livro de
conceitos. Com ele, visamos, sobretudo, discutir os fundamentos da Bioética
Espírita. Ao emitirmos, por exemplo, o conceito e o significado da própria
vida, procuramos lançar luzes acerca do que é lícito e do que não é lícito na
atitude bioética. Com isso, evidenciamos o valor da pessoa humana e a tentativa
sub-reptícia dos que desejam reduzi-la ao estado de coisa, com a conseqüente
perda de sua dignidade. Com esses conceitos, chegamos facilmente à conclusão de
que a vida é um bem outorgado e que nem a mulher, nem o homem, nem o Estado,
tem o direito de dispor dela.
Na
sua opinião o movimento espírita deveria enfatizar mais a questão do aborto, ou
seja, promover uma campanha forte e maciça?
Creio que essa campanha forte e maciça
deverá ocorrer toda vez que houver real ameaça de legalização do aborto em
nosso país. Enquanto isso não ocorre, e esperamos em Deus não venha a ocorrer,
deve-se continuar a falar contra o aborto, como temos feito em nossas
atividades normais, conforme se faça necessário, sobretudo, como ação
preventiva.
Gostaria
de deixar alguma mensagem de reflexão sobre o assunto?
Cremos, firmemente, que os seres humanos
vão eliminar, de forma definitiva, o infanticídio e o aborto da face da Terra,
porque a evolução espiritual é inapelável. Sob os ares benfazejos do progresso,
os seres humanos vão elevar o padrão do seu comportamento moral, de modo a
banir toda forma de violência, inclusive essa, que é uma das mais cruéis - a do
aborto - para viverem, em toda plenitude, o sentimento sublime do Amor, em
todas as latitudes do Planeta.
Por Érika Silveira
Extraído
da Revista Cristã de Espiritismo, nº 26, páginas 8-9.
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