sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

As idéias inatas e a educação das crianças

Um tema que deve preocupar a educação é o das ideias inatas, pois é comum verificarmos crianças dotadas de conhecimentos e personalidade que demonstram desde o berço, sem que qualquer processo educativo tenha exercido influência. De onde tirou aquela resposta sagaz e correta? Como pode ter pendor para isso ou aquilo? E não estamos falando das chamadas crianças superdotadas, pois todos os pais têm histórias para contar quanto às vivas demonstrações precoces dos seus filhos, que, inclusive, muitas vezes contrariam totalmente o conhecimento e a personalidade dos pais.
Pré-existência
É verdade que o pensamento educacional vigente, por ser materialista, passando longe da alma, não admite a ideia inata, mas, sem fazermos aqui uma longa discussão, tomemos a ideia inata como uma probabilidade, uma possibilidade teórica. Não admitindo-se a alma como causa desse pré-conhecimento e conduta já estabelecida, temos ainda assim extraordinário fenômeno a ser estudado. Onde as estruturas neuro-cognitivas que explicam semelhante fenômeno? Como o estudo do psiquismo humano pode dar luz a um fato repetido diariamente no seio das famílias?
É sobre esse assunto que Allan Kardec dedica suas perguntas aos Espíritos Superiores nas questões 218 a 220 de O Livro dos Espíritos, já em sua época contrariando o pensamento vigente sobre o homem, e abrindo as portas, e com muito mais profundidade, sobre a psicogênese da criança. Vejamos o desdobramento do estudo a partir da questão 218:
O Espírito encarnado conserva algum traço das percepções que teve e dos conhecimentos que adquiriu nas existências anteriores?
– Resta-lhe uma vaga lembrança, que lhe dá o que chamamos ideias inatas.
A lei de evolução é um princípio básico do Espiritismo, onde o Espírito, ora na erraticidade (mundo espiritual), ora na encarnação (mundo material), vai acumulando aprendizados, experiências, saberes, desenvolvendo virtudes e senso moral, nada perdendo, apenas utilizando mais essa ou aquela área, essa ou aquela tendência nas variadas existências materiais (reencarnatórias), conforme suas necessidades e do meio social em que irá viver.
Tendências de caráter e saberes já estão com o espírito, que vai demonstrando isso na medida em que domina o corpo biológico em desenvolvimento. Mas, como alertam os benfeitores espirituais, isso se dá de forma parcial, como uma vaga lembrança que vai aflorando pouco a pouco, até um certo limite traçado pela lei divina, para que o espírito possa desenvolver sua personalidade atual e não ter essas lembranças como uma pedra de tropeço.
Uma grave questão educacional se nos depara. Sem levar em conta as ideias inatas, muitos pais tolhem os filhos em sua criatividade, em suas tendências, provocando quadros agudos de frustração, de depressão, de isolamento social. Igualmente muitos professores não se apercebem dessa realidade, e teimam em enquadrar o aluno em padrões comportamentais e de aquisição do conhecimento que não condizem com a índole e com as experiências passadas que essa alma traz consigo. Quantos entraves educacionais seriam resolvidos com o estabelecimento da verdade das ideias inatas.
Ideias Inatas
Continuando o desdobramento desse assunto, indaga Kardec na questão 208a:
A teoria das ideias inatas não é quimérica?
– Não, pois os conhecimentos adquiridos em cada existência não se perdem; o Espírito, liberto da matéria, sempre se recorda. Durante a encarnação, pode esquecê-los em parte, momentaneamente, mas a intuição que lhe fica ajuda o seu adiantamento. Sem isso, ele sempre teria de recomeçar. A cada nova existência, o Espírito toma como ponto de partida aquele em que se achava na precedente.
Aqui temos uma informação importante. Quando é dito “o Espírito, liberto da matéria”, temos a realidade transcendente da alma, que ocorre através do estado de sua emancipação através do sono, fenômeno também conhecido como desdobramento; e também ocorre durante o transe hipnótico; igualmente através da meditação, quando alcançamos o estado alterado da mente. Sempre que nos desligamos parcialmente do corpo físico abrimos as portas do subconsciente, onde está armazenada a memória espiritual, e podemos então desfrutar de lembranças, de conhecimentos que ficam adormecidos no estado de vigília, ou, se quisermos, no estado consciente normal do dia a dia.
A cada encarnação, assumindo nova personalidade em novo corpo e nova situação social, o espírito não está fazendo um novo começo, e sim dando continuidade ao seu progresso, de acordo com o que fez e aprendeu na última existência, que pode sofrer mudança durante sua estada no mundo espiritual, no estado de erraticidade, aguardando a nova encarnação.
É o que está muito claro na questão 208b:
Deve então haver uma grande conexão entre duas existências sucessivas.
– Nem sempre tão grande como podias pensar, porque as posições são quase sempre muito diferentes, e no intervalo de ambas o Espírito pôde progredir.
Temos então dois fatores:
1. A cada encarnação o espírito troca de posição social, de personalidade, de experiência vivencial.
2. Entre uma encarnação e outra o espírito também progride ao passar por aprendizados e experiências no mundo espiritual.
O progresso é incessante, e pais e professores devem utilizar a educação para permitir que filhos e alunos continuem seu progresso através dos diversos aprendizados, que devem ir além do ensino teórico, pois a melhor prática pedagógica é aquela que permite ao ser em desenvolvimento pensar e praticar, adquirindo senso crítico e tendo espaço para experimentar, para colocar sua criatividade em ação.
Marcus De Mario é Escritor, Palestrante e Consultor Educacional

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