Um tema que deve preocupar a educação é
o das ideias inatas, pois é comum verificarmos crianças dotadas de
conhecimentos e personalidade que demonstram desde o berço, sem que qualquer
processo educativo tenha exercido influência. De onde tirou aquela resposta
sagaz e correta? Como pode ter pendor para isso ou aquilo? E não estamos
falando das chamadas crianças superdotadas, pois todos os pais têm histórias
para contar quanto às vivas demonstrações precoces dos seus filhos, que,
inclusive, muitas vezes contrariam totalmente o conhecimento e a personalidade
dos pais.
Pré-existência
É verdade que o pensamento educacional
vigente, por ser materialista, passando longe da alma, não admite a ideia
inata, mas, sem fazermos aqui uma longa discussão, tomemos a ideia inata como
uma probabilidade, uma possibilidade teórica. Não admitindo-se a alma como
causa desse pré-conhecimento e conduta já estabelecida, temos ainda assim
extraordinário fenômeno a ser estudado. Onde as estruturas neuro-cognitivas que
explicam semelhante fenômeno? Como o estudo do psiquismo humano pode dar luz a
um fato repetido diariamente no seio das famílias?
É sobre esse assunto que Allan Kardec
dedica suas perguntas aos Espíritos Superiores nas questões 218 a 220 de O
Livro dos Espíritos, já em sua época contrariando o pensamento vigente sobre o
homem, e abrindo as portas, e com muito mais profundidade, sobre a psicogênese
da criança. Vejamos o desdobramento do estudo a partir da questão 218:
O
Espírito encarnado conserva algum traço das percepções que teve e dos
conhecimentos que adquiriu nas existências anteriores?
–
Resta-lhe uma vaga lembrança, que lhe dá o que chamamos ideias inatas.
A lei de evolução é um princípio básico
do Espiritismo, onde o Espírito, ora na erraticidade (mundo espiritual), ora na
encarnação (mundo material), vai acumulando aprendizados, experiências,
saberes, desenvolvendo virtudes e senso moral, nada perdendo, apenas utilizando
mais essa ou aquela área, essa ou aquela tendência nas variadas existências
materiais (reencarnatórias), conforme suas necessidades e do meio social em que
irá viver.
Tendências de caráter e saberes já estão
com o espírito, que vai demonstrando isso na medida em que domina o corpo
biológico em desenvolvimento. Mas, como alertam os benfeitores espirituais,
isso se dá de forma parcial, como uma vaga lembrança que vai aflorando pouco a
pouco, até um certo limite traçado pela lei divina, para que o espírito possa
desenvolver sua personalidade atual e não ter essas lembranças como uma pedra
de tropeço.
Uma grave questão educacional se nos
depara. Sem levar em conta as ideias inatas, muitos pais tolhem os filhos em
sua criatividade, em suas tendências, provocando quadros agudos de frustração,
de depressão, de isolamento social. Igualmente muitos professores não se
apercebem dessa realidade, e teimam em enquadrar o aluno em padrões
comportamentais e de aquisição do conhecimento que não condizem com a índole e
com as experiências passadas que essa alma traz consigo. Quantos entraves
educacionais seriam resolvidos com o estabelecimento da verdade das ideias
inatas.
Ideias
Inatas
Continuando o desdobramento desse
assunto, indaga Kardec na questão 208a:
A
teoria das ideias inatas não é quimérica?
–
Não, pois os conhecimentos adquiridos em cada existência não se perdem; o
Espírito, liberto da matéria, sempre se recorda. Durante a encarnação, pode
esquecê-los em parte, momentaneamente, mas a intuição que lhe fica ajuda o seu
adiantamento. Sem isso, ele sempre teria de recomeçar. A cada nova existência,
o Espírito toma como ponto de partida aquele em que se achava na precedente.
Aqui temos uma informação importante.
Quando é dito “o Espírito, liberto da matéria”, temos a realidade transcendente
da alma, que ocorre através do estado de sua emancipação através do sono, fenômeno
também conhecido como desdobramento; e também ocorre durante o transe
hipnótico; igualmente através da meditação, quando alcançamos o estado alterado
da mente. Sempre que nos desligamos parcialmente do corpo físico abrimos as
portas do subconsciente, onde está armazenada a memória espiritual, e podemos
então desfrutar de lembranças, de conhecimentos que ficam adormecidos no estado
de vigília, ou, se quisermos, no estado consciente normal do dia a dia.
A cada encarnação, assumindo nova
personalidade em novo corpo e nova situação social, o espírito não está fazendo
um novo começo, e sim dando continuidade ao seu progresso, de acordo com o que
fez e aprendeu na última existência, que pode sofrer mudança durante sua estada
no mundo espiritual, no estado de erraticidade, aguardando a nova encarnação.
É o que está muito claro na questão
208b:
Deve
então haver uma grande conexão entre duas existências sucessivas.
–
Nem sempre tão grande como podias pensar, porque as posições são quase sempre
muito diferentes, e no intervalo de ambas o Espírito pôde progredir.
Temos então dois fatores:
1. A cada encarnação o espírito troca de
posição social, de personalidade, de experiência vivencial.
2. Entre uma encarnação e outra o
espírito também progride ao passar por aprendizados e experiências no mundo
espiritual.
O progresso é incessante, e pais e
professores devem utilizar a educação para permitir que filhos e alunos
continuem seu progresso através dos diversos aprendizados, que devem ir além do
ensino teórico, pois a melhor prática pedagógica é aquela que permite ao ser em
desenvolvimento pensar e praticar, adquirindo senso crítico e tendo espaço para
experimentar, para colocar sua criatividade em ação.
Marcus De
Mario é Escritor, Palestrante e Consultor Educacional
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