"Para
coisas novas são necessárias palavras novas"
Allan Kardec,
LE:I
Allan Kardec no item I da
Introdução de O Livro dos Espíritos tem o cuidado de definir o que é
Espiritismo. Conforme reproduzimos na epígrafe, o Codificador afirma que para
coisas novas são necessárias palavras novas. Guiado por esse pensamento, cria a
expressão Doutrina Espírita ou Espiritismo para definir a doutrina que tem por
objeto as relações do mundo material com os Espíritos, ou seres mundo invisível,
apresentada de forma inaugural nessa obra.
Essa atitude de Kardec é,
do ponto de vista pedagógico, extremamente recomendável, pois equivale ao
estabelecimento e um marco para que novas bases sejam assentadas. Isto ocorre
sempre, nos mais diversos campos do saber. Cada vez que um novo conceito,
objeto ou instrumento é criado ou algum novo procedimento é descoberto e/ou
inventado trata-se logo de nomeá-lo a fim de distingui-lo dos congêneres e
estabelecer os seus limites. Aplicando o pensamento do Codificador à tarefa da
qual nos ocupamos, convém, antes de qualquer coisa, defini-la e conceituá-la.
Evangelização é, na
verdade, um termo genérico que indica a ação que se faz em torno da difusão do
evangelho. É, portanto, uma ação inerente a quem quer que tome os quatro
principais livros de o Novo Testamento como preceitos de orientação.
Entretanto, o que singulariza essa ação é o corpo doutrinário que a ela subjaz.
Assim, evangelizar à luz da Doutrina Espírita significa, no sentido estrito do
termo, tomar os ensinos de Jesus, apresentados nesses mesmos livros e
interpretá-los segundo a codificação espírita.
Desse modo, a expressão
"evangelização espírita" encerra a relação entre a Doutrina Espírita
e o Evangelho, já esclarecida pelo Codificador na introdução de O Evangelho
Segundo o Espiritismo, conforme se lê a seguir: "O ensino moral do Cristo
nos evangelhos é o terreno onde todos os cultos podem reunir-se... Muitos
pontos dos Evangelhos, da Bíblia e dos autores sacros em geral são
ininteligíveis, parecendo alguns até disparatados, por falta da chave que
faculte se lhes apreenda o verdadeiro sentido. Essa chave está completa no
Espiritismo, como já puderam reconhecer os que o têm estudado seriamente... O
essencial é por o evangelho ao alcance de todos, mediante a explicação das
passagens obscuras e o desdobramento de todas as conseqüências, tendo em vista
a aplicação em todas as condições de vida."
Como exemplo dessa chave
interpretativa, podemos apontar a assertiva de Jesus sobre a necessidade de
nascer de novo da água e do espírito (Jo. 3: 1 - 12), cuja coerência só é
restabelecida quando lida à luz da idéia reencarnacionista. Outro exemplo, tido
como contraditório, é o fato de, em determinada circunstância, Jesus (Mat. 12:
46 - 50) ter sido advertido de que a sua mãe e seus irmãos o aguardavam, ao que
o Mestre respondeu que a sua mãe e os seus irmãos eram aqueles que faziam a
vontade do Pai. Longe de significar uma negação aos laços de família,
constitui-se, à luz da Doutrina, uma ampliação desses laços, a adoção da
família universal como referência afetiva. Apenas para finalizar esses
exemplos, vale destacar a frase de Jesus (Jo: 10 - 30) na qual se auto define,
afirmando: "eu e o pai somos um". Lida por outras doutrinas cristãs,
essa passagem dá margem a muitas interpretações dúbias sobre a personalidade e
a origem de Jesus. A esse respeito, esclarece-nos o Espiritismo sobre a
profunda compreensão que o Mestre tem de Deus, a ponto de identificar-se
plenamente com as Suas Leis.
Postos estes exemplos, não
significa dizer que a evangelização espírita tem como objeto apenas tópicos
sobre a vida de Jesus. Esses são parte do conteúdo. A evangelização trata dos
princípios da Doutrina, da conduta espírita, do movimento espírita e também do
Cristianismo, mas à luz do paradigma Espírita.
Para que se realize com
eficácia, a evangelização se desdobra e toma as feições do grupo a que se
destina. Quando voltada para a criança e o jovem, por exemplo, há uma
necessária adequação dos meios e da linguagem. É isso o que ocorre no trabalho
que hoje se desenvolve em todo o Brasil, com o título de "evangelização
infanto-juvenil" - simplesmente conhecido como evangelização. O fio
condutor dessa tarefa é a formação do homem de bem, através do conteúdo
espírita sobre a imortalidade da alma, das suas relações com o mundo corpóreo,
da sua volta à vida na terra, das leis físicas e morais que regulam a sua
estada aqui e no mundo espiritual.
Assim, a
"evangelização na casa espírita" deve ser um trabalho organizado em
aulas sistemáticas, pedagogicamente direcionadas, para que esse público tenha
desde cedo contato com os ensinamentos doutrinários, repassados através de
recursos compatíveis com o seu desenvolvimento intelectual, estimuladores do
seu progresso espiritual e consentâneos com o seu perfil sócio-psicológico.
Como atividade
vitalizadora do processo pessoal de melhoramento progressivo, a evangelização
se apresenta como excelente recurso à disposição dos pais para lhes auxiliar na
tarefa de educar aqueles que, atualmente, estão sob a sua tutela na feição de
filhos. Por isso, não suporta a descontinuidade uma vez que passa a não
despertar na criança e principalmente no jovem o interesse pela seqüência das
aulas.
Daí advém a importância de
os pais estimularem os filhos a participarem sempre das aulas, evitando a
ausência por motivos, às vezes, absolutamente insignificantes. Nesse mesmo
sentido, há que se destacar a importância de os evangelizadores se esforçarem
para elaborar aulas cada vez mais motivadoras a fim de prender a atenção dos
evangelizandos, despertando-lhes a curiosidade pela seqüência e continuidade do
assunto. Assim sendo, o improviso é o recurso do qual não se deve lançar mão.
Quando freqüentada
assiduamente, a evangelização demonstra a pujança do ensino moral do Cristo bem
como dos ensinamentos espíritas e é, em sentido lato, um curso de Espiritismo.
Logo, requer a dedicação dos companheiros que lhe reconhecem a importância - pais
e evangelizadores -, que devem tomar para si a mesma fraternal advertência que
os Espíritos fizeram a Kardec nos prolegômenos de O Livro os Espíritos:
"Com
perseverança é que chegarás a colher os frutos de teus trabalhos.
O
prazer que experimentarás, vendo a doutrina propagar-se e
bem
compreendida, será uma recompensa, cujo valor integral
conhecerás,
talvez mais no futuro do que no presente".
Por tudo isto, a
evangelização é tarefa de longo curso que se revela de primordial importância
na educação da criança e do jovem, tanto no lar como na casa Espírita.
Denise Lino
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