domingo, 2 de janeiro de 2011

ESPERANÇA

ESPERANÇA

A visão da Justiça Divina, em nossa tradição cristã, é muito severa: uma falta mais grave – chamada pecado mortal – desde que não perdoada por algum ministro religioso, era suficiente para condenar seu autor a suplícios eternos após a morte, não importando o bem que ele houvesse feito, nem quando a falta fora cometida. Estranha avaliação essa em que só os erros eram considerados, tanto mais quando se conhece  a afirmativa “o amor cobre a multidão dos pecados”
(I Pedro 4:8)
Provenientes da antiguidade pagã e elaboradas na idade média cristã, tais idéias conflitavam com a mensagem do Evangelho que fala de Deus como sendo nosso Pai, justo, sábio e misericordioso, e refletiam, na verdade, a justiça humana que se caracterizava, então, por sua dureza e crueldade.
Referindo-se a essa concepção deformada e aterradora, assim se expressou um benfeitor espiritual: “Interrogai o vosso bom-senso, a vossa razão e perguntai-lhes se uma condenação da bondade de Deus.
Que é, com efeito, a duração da vida, ainda quando de cem anos, em face da eternidade? Eternidade! Compreendeis bem esta palavra? Sofrimentos, torturas sem-fim, sem esperanças, por causa de algumas faltas! O vosso juízo não repele semelhante idéia? Que os antigos tenham considerados o Senhor do Universo um Deus terrível, cioso e vingativo, concebe-se. Na ignorância em que se achavam, atribuíam à Divindade as paixões dos homens. Esse, todavia não é o Deus dos cristãos, que classifica como virtudes primordiais o amor, a caridade, a misericórdia, o perdão das ofensas”.
Com a Doutrina Espírita essa conceituação foi radicalmente modificada reconhecendo-se que a ação das Leis Divinas, mesmo a lei de causa e efeito no caso de nossos erros, é sempre benfazeja, educativa e nunca punitiva. O transgressor é o espírito ainda imaturo e ignorante, e a perversidade é vista como doença espiritual a exigir tratamento longo e difícil.
Expressões do tipo “esse não tem jeito” ou “só eliminando” não fazem sentido para o espírita, conhecedor da reencarnação e das leis de casualidade e progresso, entendendo-se também, com o Espiritismo,. Que a existência material, mesmo quando assinalada por muitas dificuldades, é sempre uma concessão da bondade divina com vistas à nossa renovação para o bem e para a felicidade verdadeira.
E foi certamente por isso que o Codificador, ao estudar, na parte final de “O Livro dos Espíritos”, a delicada questão da Justiça Divina deu-lhe o sugestivo título de “Esperanças e Consolações”.
“O Livro dos Espíritos” ( item 1009)

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