sábado, 29 de janeiro de 2011

As duas faces da nuvem


                                      
Não creias, amigo ignoto, em nuvens totalmente escuras.
Por mais sinistras que pareçam, cá de baixo, não deixam de ser luminosas, vistas lá de cima.
É questão de perspectiva...
Quando um dia subires à estratosfera, verás que até o mais espesso negro se dilui em luminosa alvura.
Não crias em vida perdida.
Não fales em derrota completa.
A vida é tão vasta, sublime e profunda, que nenhum desgraça a pode inutilizar por completo.
Se a ignorância ou a perversidade dos homens te fecharem uma porta, abre outra.
Se a perfídia dos inimigos ou a traição dos “amigos” demolirem os palácios da tua opulência, levanta modesta choupana à beira da estrada.
Ninguém te pode fazer infeliz – a não ser tu mesmo.
Tu és que tens nas mãos as chaves do céu e do inferno.
“O reino de Deus está dentro de ti”...
A felicidade não está na periferia da tua vida – está no centro do teu ser.
Não é nos nervos, na carne, no sangue, no acaso ou no destino que reside a verdadeira beatitude – mas, sim, no íntimo recesso da tua consciência.
Melhor uma choupana arraiada de sorrisos do que um palácio afogado em lágrimas...
Deus te creou para a felicidade – e quem pode frustrar os planos do Onipotente?
Se a tua vida não é um dia cheio de sol – por que não poderia ser uma noite iluminada de estrelas?
Por que não poderia  a tua felicidade ganhar em profundidade o que talvez tenha perdido em extensão?
Por que não poderia a luz suave de miríades de astros infundir-te na alma uma felicidade que nunca te deram os fulgores solares?
Se não percebes o chilrear dos passarinhos e o chiar das cigarras da zona diurna da vida – por que não te habituas a escutar as vozes discretas com que o silencio noturno enche a tua solidão?
Há tanto misticismo nas fosforescência da Via - Láctea...
Há tanta sabedoria na reticência da luz sideral...
Há tanta eloqüência no mutismo das nebulosas longínquas...
Há tantas preces no sussurro das brisas noturnas...há tanta alma na argêntea placidez do luar...
Há tanta filosofia na vastidão pressaga do cosmos...
Há tanta beatitude na acerbidade da dor, quando iluminada por um grande ideal...
Há tão profunda paz em pleno campo de batalha, quando o homem compreendeu o porquê da luta e o sentido divino do sofrimento...
Por mais negra que seja a face humana das nuvens da tua vida – crê, meu amigo, que é luminosa a face voltada para as alturas da Divindade.
Huberto Rohden
De Alma para Alma

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