quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Depoimento


                                  
Há oito meses, meu único filho, um rapaz de 14 anos, voltou ao lar espiritual de onde todos nós saímos um dia, para vir a este planeta com o fim de cumprir tarefas destinadas ao nosso crescimento espiritual.
São muito importantes as conseqüências de seu desencarne nas vidas de tantos quantos o conheceram e amaram. Sim, porque todo e qualquer ser humano sempre deixa laços e marcas profundas nas pessoas que conheceram na Terra, quando de sua volta ao plano espiritual. Estas marcas, no entanto, serão de amor e ternura ou revolta e desespero, dependendo da forma como se encara a morte de seres muito queridos.
Muitos parentes próximos, bem como amigos queridos, não entenderam e não aceitam o que aconteceu, achando que ele nos deixou muito cedo. O quadro que se forma é, pois, de mágoa, sofrimento, inconformismo, não-aceitação.  A depressão atinge estas pessoas em cheio, deixando-as chorosas, acabrunhadas, desiludidas, doentes. Seu espírito e seu corpo sofrem por não entenderem que, na verdade, aquela criatura de Deus voltou ao lar paterno, onde os sofrimentos terrenos não existem.
Há, por outro lado, pessoas que encaram tudo isto como um alerta: quão pequenas são nossas dores neste mundo e quão importante é estarmos unidos e trabalhando em harmonia! O trabalho conjunto alivia as dores e traz um ânimo novo aos nossos corações.
Para mim, a situação serviu como uma prova bem dura. Passado o primeiro momento de choque e, porque não dizer, de desespero, entreguei-me nas mãos de Deus. Pedi-lhe que me amparasse porque, sem Ele, seria quase impossível para mim suportar aquela dor. Ele, é claro, atendeu-me a súplica e eu passei os primeiros meses em seus braços paternos. Senti-me como no poema: ao olhar para trás, só via um par de pegadas na areia; e eu garanto que não era o meu. O nosso Pai, bom e generoso, que não entrega a nenhum de seus filhos uma cruz mais pesada do que ele possa suportar, aliviou-me a carga com tanta ternura, que foi-me relativamente fácil suportar aquele sofrimento e continuar com minhas tarefas. Agradeço a este Pai tão bondoso a dádiva destes 14 anos de convivência com este espírito ao qual dei, e continuo dedicando, meu amor e minha afeição. Tal amor, hoje, expressa-se por momentos de oração e "conversas" carinhosas de mãe saudosa...
Guardo em meu coração duas certezas: meu filho está bem, sendo acompanhado e orientado e terá, tenho fé, outra encarnação para completar os ajustes que se fizerem necessários. Afinal, como alma boa, gentil, honesta e com grande senso de justiça que era (embora teimoso, bagunceiro, avesso aos estudos) sei que terá grandes lições para extrair dos momentos que aqui viveu.
Outra certeza que trago comigo é de que a lição que todos nós recebemos vai calar fundo em nossas vidas que, definitivamente, não serão mais as mesmas depois de tudo. Fortaleceram-se laços de amizade, novas amizades se formaram, intensificaram-se os vínculos familiares.
Trago aqui este depoimento, especialmente destinado às mães que "perderam" seus filhos, pois sei o que significa a falta dos carinhos, afagos, beijos e abraços. Sei, também, que a lacuna que fica é quase impossível de ser preenchida; que tudo que sonhamos para eles de repente perdeu a razão de ser; que o dia-a-dia fica vazio e certas coisas já não fazem mais sentido; que o futuro fica incerto e traz a angústia da solidão; que às vezes temos inveja das mães que têm seus filhos junto de si. Compartilho com todas estes sentimentos, mas sei que devemos lutar contra eles, pois que eles são armadilhas das quais não sairemos se delas não nos afastarmos! Esqueçam este caminho de tristeza e dor e entreguem-se de corpo e alma ao amor de Cristo, pois Ele proverá todas as suas necessidades.
Aquele amor, dedicado a uma só pessoa, pode agora ser dividido, repartido e compartilhado com tanta gente... Tantas pessoas se beneficiarão de nosso amor! Façam de todos aqueles que lhes estão próximos e lhes são caros os depositários deste sentimento puro que brota de um coração de mãe... Em troca, vocês receberão em sua vida paz e harmonia, luz e felicidade!
Acima de tudo, lembrem-se: não estamos sós. Além das pessoas que nos cercam e nos querem bem, há inúmeros amigos espirituais prontos a nos ajudar. Não fechem seus corações a eles! Sintonizem-se com as ondas de bondade e amor, resignação e aceitação, humildade e conformação. Mas, o mais importante de tudo, não se esqueçam jamais de ter sempre FÉ!

MARIA DO CARMO JUNQUEIRA AVELAR – 01.10.2000
FONTE: O MENSAGEIRO

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