O EVANGELIZADOR ANÔNIMO
O Evangelho é fonte inesgotável de
ensinos e exemplos, tendo em Jesus seu protagonista Maximo. Debruçado sobre
suas palavras, o leitor encontrará esclarecimentos e consolações, ao mesmo
tempo em que achará, nas incontáveis personagens da Boa Nova, a motivação, a
lição, o ideal concretizado pelo testemunho no Bem, ao contato com o Mestre.
Surgem também, nos textos evangélicos,
figuras anônimas como o moço rico, os amigos que auxiliaram o paralitico a
descer pelo telhado, a mulher samaritana, dentre outros.
Uma dessas anônimas personagens
encontramos na seguinte passagem:
Disse-lhe
João: Mestre, vimos um que, em teu nome, expedia
Demônios,
o qual não nos segue; e lho proibimos.
E
disse Jesus: - Não lho proibais, porque não há nenhum que faça
Milagre
em meu nome e que possa dizer mal de mim.
Porque
quem não é contra nós é por nós. (Marcos, 9:38 a 40).
Destacamos nesta passagem a ponderação
lúcida e profunda do Cristo. É a superação dos rótulos alargando os horizontes
intelectuais e culturais dos discípulos, num exercício de busca de princípios essenciais
que estão acima das particularidades, das circunstancias pontuais. Quem era
esse homem? Is evangelistas não o identificaram por nome, raça ou qualquer
outro indicativo que não a sua corajosa decisão de servir ao próximo, em nome
de Jesus.
A literatura espírita mediúnica
nos presenteia com algumas profundas e doces revelações a respeito do anônimo servido
de Jesus. A fonte dessa revelação é a mediunidade de Yvone do Amaral Pereira,
na obra Ressurreição e vida1,
publicada pela Federação Espírita
Brasileira, com autoria espiritual de Léon Tolstoi, escritor e reformador
religioso, nascido na Rússia
O autor espiritual designará o referido discípulo
anônimo tão somente como o Moço do manto marrom, apesar dos vários questionamentos
que apresenta sobre sua raça, aspecto físico etc.
Interessam-nos, especialmente, suas características
morais e atitudes, as quais o referido autor nos apresenta a fim de colhermos lições
de vida abundante.
O Moço seguia o Mestre, relata-nos
Tolstoi, por onde Ele andasse, ouvindo avidamente e registrando em papiros
ensinos e relatos que seriam exaustivamente lidos, meditados.
Certo dia, afirma, quando da cura da
filha de Jairo, o Moço, ao acompanhar os fatos em meio à multidão que se
acotovelava na propriedade, teve seu rosto tocado pelo manto de Jesus. Ele o
beija com adoração. Nesse momento, o Mestre se volta para ele e seus olhares se
cruzam enquanto o Senhor o abençoa pondo a mão sobre sua cabeça.
Acrescenta Tolstoi que, após a advertência
do Mestre, João voltava ao contato com o Moço e lhe afirmara a confiança que
Jesus depositava nele. Com seu alaúde e seu pífano, passa a cantar e contar a
historia “do Príncipe que desceu dos Céus para amar os homens sofredores...”,
atraindo crianças, jovens e adultos e prossegue curando as dores físicas e
libertando os obsidiados.
Um dia, em sonho, após as dores do
Calvário, Jesus lhe aparece dizendo da necessidade de focar suas ações mais na educação
das almas que na cura dos corpos.
Anos se passaram e o Moço do manto
marrom desenvolve, ali e acolá, sua ação evangelizadora, distribuindo até mesmo
copias de seus registros para os que considerava, de fato, convertidos ao
Evangelho.
Serviço completo!
Mais tarde, até me Roma se viu um
velhinho, o Avozinho do manto roto, tocando pífano e alaúde, divulgando os
ensinos de Jesus. Quantas lições!
A historia do Moço do manto marrom
leva-nos a estabelecer algumas analogias com a ação de centenas de
evangelizadores espalhados no Brasil inteiro e alhures, na tarefa quase sempre anônima,
sem vitrine, mas de profunda significação para hoje e para os dias futuros.
·
Ser tocado pelo Senhor – Semelhantemente ao Moço do manto
marrom, o evangelizador é alguém que precisa ser “tocado” pela mensagem do
Mestre, internalizando passo a passo os valores e os ideais do Evangelho, para
vivenciá-los.
·
Aceitação do chamado para o serviço – A assimilação do conteúdo evangélico doutrinário
não pode ser passiva. É preciso compreender a dinâmica que o Evangelho propõe a
todo aquele que lhe bebe a água viva
do esclarecimento e da consolação. Não basta saber, é preciso agir de modo
transformador.
·
Integração com as comunidades – O Moço do manto marrom buscava se
informar dos costumes, linguagens e interesses dos ouvintes, sendo bem acolhido
principalmente por crianças e jovens. Igualmente, o evangelizador é alguém que
deve conhecer o público junto ao qual desenvolve sua ação, para ter maior e
mais profunda clareza quanto à forma de atuar.
·
Uso de técnicas e recursos aliado ao
estudo e ao sentimento – O
autor espiritual destaca, na apresentação do discípulo anônimo, seu interesse em registrar os ensinos e fatos
tendo Jesus como a figura central. O estudo
e a meditação, o uso de recursos como a poesia e o canto, a musica e a
narrativa, eram regados pelo sentimento de amor dedicado a Jesus. O evangelizado
consciente sabe que deve buscar o conhecimento evangélico e doutrinário, desenvolver
habilidades comunicativas e fazer uso da arte, de recursos didáticos, da relação
afetuosa. Daí a necessidade permanente
do estudo e da pesquisa, da oração e da preparação espiritual, da organização do
processo de ensino aprendizagem, para o alcance dos elevados objetivos da evangelização.
·
O trabalho anônimo – O discípulo
anônimo do manto marrom não buscava o aplauso ou sequer exigia integrar o
grupo que de mais perto acompanhava Jesus. Bastava-lhe saber que o Mestre nele
confiava. Assim devem ser os tarefeiros da evangelização: trabalhadores anônimos
que não buscam o “destaque”, mas que realizam, silenciosamente, o serviço que o
Pastor sublime lhes confiou.
·
O compromisso com a educação moral – Em dado momento de sua narrativa, Tolstoi
informa que o Moço sonha com Jesus a lhe dizer:
[...] Será bom que te
dediques também a educar
corações
e caracteres para os meus serviços do
futuro,
que abrangerão o mundo inteiro através
Das
idades... [...]2
Consciente da condição de colaborador do
Mestre na obra de redenção da
humanidade, o Moço do manto marrom assumiu seu compromisso de divulgar a
mensagem de Jesus. Cooperadores do Senhor, somos, os evangelizadores de hoje
chamados a seguir-lhe o exemplo de compromisso com a educação moral nossa e das
novas gerações: Espíritos imortais destinados à perfectibilidade.
Notas:
1-
Pereira,
Yvone do A. Ressurreição e vida. Pelo
Espírito Leão Tolstoi, Cap. O discípulo anônimo, p. 69 a 90.
2-
Pereira,
Yvone de A. Ressurreição e vida. Pelo
Espírito Leão Tolstoi. Cap. O discípulo anônimo, p. 79.
Sandra Borba Pereira
Revista
Reformador – agosto de 2013
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