Senhor, eu gostaria tanto
de poder perdoar. Disponho-me a isso. Oro e tenho a impressão de que lavei meu
coração de toda mágoa.
Contudo, basta que eu
reveja quem me agrediu, caluniou, traiu e todo o sentimento retorna.
Isso está me fazendo
muito mal, Senhor. Sinto um peso dentro de mim, um mal-estar e tenho a
impressão de que perdi um tanto da capacidade de amar.
Em função do que padeci,
tornei-me desconfiado. Quando um amigo me abraça, não me entrego em
totalidade. Fico pensando se ele está sendo sincero.
Se não estará, como
outros, demonstrando uma afeição que não lhe habita a alma, somente por
conveniência. Pior ainda, fico cogitando quando esse amigo me oferecerá o fruto
amargo do abandono.
Isso é muito ruim,
Senhor, eu sei. Contudo, tornei-me assim, depois de tantas ingratidões
recebidas, em tantos afastamentos constatados, em tantas evasões de pessoas a
quem entreguei o meu coração.
Recorro às páginas do
Evangelho e as leio, entre a emoção e o desassossego. Pesquiso as vidas dos
grandes seguidores da Tua mensagem e me indago:
Por que eles conseguiram
perdoar? O que me falta para isso?
Na tela da memória, evoco
a imagem do primeiro mártir do Cristianismo, Estêvão, apedrejado por amor à
verdade que propagava.
Ainda agonizante, ao lado
da irmã, que descobre noiva do seu verdugo, tem palavras de perdão. Não são
palavras de quem, por estar morrendo, resolve doar o perdão.
São palavras de quem se
mostra agradecido por reencontrar a irmã querida, depois de tantos anos de
separação que lhes fora imposta.
São palavras de quem está
feliz e poderá morrer tranquilo, não somente por ter sido fiel a Jesus até o
fim, mas por saber que sua irmã estará bem amparada por aquele mesmo que a ele
tirou a vida.
Cristo os abençoe... Não
tenho no teu noivo um inimigo, tenho um irmão...
Saulo deve ser bom e
generoso. Defendeu Moisés até ao fim... Quando conhecer a Jesus, servi-lO-á com
o mesmo fervor...
Sê para ele a companheira
amorosa e fiel...
Perdão incondicional. Ele
poderia pensar em que poderia gozar da felicidade de tornar a conviver com a
irmã, depois de tantos anos.
Voltar a estarem juntos,
como dantes da tragédia que os separara. Mas, não.
Suas palavras não são de
reprovação a quem o condenara ao apedrejamento. Nele somente há perdão.
Por tudo isso, Senhor, eu
Te peço: Ajuda-me a perdoar. Ensina-me a perdoar. Promove em mim a mudança para
melhor.
Não permitas que eu me
perca pelas ruelas sombrias da mágoa, da tristeza e do desencanto.
Eu desejo voltar a
acreditar nas pessoas, a crer na amizade sincera, na doação sem jaça.
Recordando o Teu exemplo
extraordinário na cruz, preocupando-Te com aqueles que Te haviam infligido
tanto sofrimento e morte, eu Te peço: Ajuda-me.
Tenho certeza de que,
quando o perdão puder ser a tônica dos meus atos, eu voltarei a sorrir, a ter
fé, a viver intensamente.
Ajuda-me, pois, Senhor
Jesus, a perdoar. Porque, não somente desejo ser feliz, mas igualmente almejo
ser, para os que comigo convivem, motivo de contentamento e de alegria.
Redação do Momento Espírita, com frases atribuídas a Estêvão,
extraídas do cap. 8, pt . I, do livro Paulo e Estêvão, pelo Espírito Emmanuel,
psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb.
Em 21.03.2011.
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