Aqueles eram dias
tormentosos a estes semelhantes.
O monstro da guerra
devorava as nações, que se transformavam em amontoados de cadáveres e pasto de
devastação, enquanto a loucura do poder temporal escravizava as vidas nas
malhas fortes da sua dominação impiedosa.
O ser humano valia menos
do que uma animália, como ocorre hoje quando o denominam como excluído,
tombando na exaustão da miséria.
Os vencedores alucinados
exultavam nos cárceres internos que os enlouqueciam quando passeavam a sua
hediondez nos carros do triunfo aureolados de folhas de mirto ou de loureiro.
O medo aparvalhava os já
infelizes atirados ao deserto dos sentimentos indiferentes daqueles que os
devoravam como abutres. A esperança vivia asfixiada no desprezo, sem
oportunidade de expandir-se nos países submetidos.
Nada obstante, reinava um
fio de expectativa em a noite de dores inenarráveis.
As agonias extremas
abateram-se sobre Israel por longos séculos de horror e desespero.
Mas o fio de esperança
era a expectativa da chegada do Messias, vingador e poderoso, como os algozes
de então, anunciado pelos profetas antigos e descrito por Isaías, há quase
setecentos anos...
Ele seria poderoso e
arrancaria o jugo hediondo de sobre o seu povo, concedendo-lhe benesses e
glórias.
Enquanto isso,
predominava a opressão dos que tombaram sob as legiões voluptuosas do Império
Romano desde a vitória de Pompeu e todos os males que dela advieram...
Um estrangeiro execrando,
mais cruel do que o romano, dominava o país ultrajado e vergado pela vergonha
do asmoneu insano, que beijava as mãos de César, adornava-as de ouro e púrpura
arrancados do suor e do sangue do povo que submetia.
Os impostos roubavam o
alento e o parco pão dos desvalidos, enquanto o desconforto cantava em toda
parte a litania da miséria e da servidão.
Aumentava a mole dos
desventurados que abarrotavam as cidades enquanto os campos ficavam ao
abandono.
Tudo era escasso,
especialmente o amor que fugira envergonhado dos corações, enquanto a compaixão
e a misericórdia ocultaram-se dos espoliados e indigentes.
A ingênua alegria das
massas fugira dos seus corações que passaram a homiziar o ressentimento e o
crime, a degradação e as paixões vis, a serviço das intrigas intérminas e das
lutas vergonhosas.
Os potentados,
especialmente os fariseus, os saduceus e os cobradores de impostos, todos
odiados também, detestavam-se uns aos outros, enquanto eram, por sua vez,
desprezados...
A vil política de
Jerusalém estendera-se por todo o território israelense e ninguém escapava à
sua inclemente perseguição.
A própria Natureza,
naqueles dias, sofria inclemência dos dias quentes e das noites mornas, sem a
suave brisa cantante que carreava o perfume das rosas e das flores silvestres.
A fria Judeia era amada
em razão do seu fabuloso Templo, ornado de ouro e de gemas preciosas, mas
também odiada pela governança insensível que lhe aumentara o poder.
Os chacais que a
administravam espoliavam a ignorância e as superstições do povo humilhado que
ali buscava consolação.
*
Ele crescera no deserto e
robustecera o caráter na aridez e ardência da região sem vida e sem beleza.
Mergulhara o pensamento
no abismo das reflexões, por anos a fio, buscando entender o objetivo
primordial da existência, Deus e Sua justiça, diferente de tudo aquilo que
havia ouvido dos sacerdotes indignos.
As noites estreladas e
frias refrescaram-lhe a alma que ardia em febre de expectativas pela chegada do
Rei libertador de consciências e de sentimentos.
Ele sabia, sem saber
como, que fora designado, mesmo antes do berço, de anunciar o Messias
e, por essa razão, no momento próprio transferiu-se para o vau da Casa da
Passagem, no rio Jordão, a fim de anunciá-lO.
A sua era uma voz
tonitruante e o seu um aspecto chocante, mesmo para os padrões daqueles dias
especiais. Os seus olhos brilhavam como lanternas acesas quando ele falava
sobre o Ungido de Deus.
Afirmava que Ele já se
encontrava entre todos e seguia desconhecido. Também asseverava que Ele viria
fazer justiça, punir os réprobos morais, submeter os insubmissos, vingar-se do
abandono a que fora relegado pelos tempos longos.
As multidões que se
reuniam na praia fresca do rio fascinavam-se por temor, por necessidade de um
Salvador.
Elucidava que Ele era tão
grande, o Triunfador a quem servia, que não era digno sequer de amarrar os
cordéis das Suas sandálias.
E batizava, lavando
simbolicamente as misérias do homem comprometido, a fim de que ressurgisse o
novo ser aureolado de bênçãos.
Não conhecia ainda o
Messias, mas adivinhava-O.
Inesperadamente, em
formosa manhã, no meio da multidão Ele surgiu, aproximou-se, e os seus olhos
detiveram-se uns nos outros, então ele exclamou, tomado de lágrimas e sorriso:
- Este é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!
Como Ele era belo e
manso, suave e meigo, discreto e amoroso!
Aquele Homem-sol
curvou-se diante dele e disse-lhe: -Cumpre as profecias...
Estranho temor tomou-lhe
todo o corpo austero e pensou como seria possível ao servo permanecer ereto
enquanto o Rei se dobrava com sublime humildade.
Era seu primo e não O
conhecia, era seu mentor e ele O serviria...
A partir daquele momento
inolvidável, o seu verbo amaciou, a sua voz passou a cantar, a sua vida se
modificou.
Antes de morrer, inquieto
e expectante, enviou-Lhe dois discípulos, a fim de que tivesse a confirmação de
ser Ele o Messias.
Desejava retornar à
pátria em paz e segurança.
Na terrível noite da
fortaleza de Macaeros ou Maqueronte, na Pereia, após o longo cativeiro de
meses, a sua voz foi silenciada pela espada do sicário Herodes Antipas, por
solicitação de Salomé, filha da sua mulher ambiciosa e atormentada...
*
Na madrugada espiritual
que passou a vestir Israel de luz,o canto de amor começou a ecoar desde as
praias do mar da Galileia até a tórrida Judeia, dos contrafortes dos montes
Galaad, da cadeia de Golan até a longínqua região do Aravá, o vale que se
estende além do Mar Morto, por toda parte.
As multidões que acorriam
para vê-lO, para ouvi-lO, eram mais ou menos iguais às de hoje, ansiosas e
sofredoras, inebriando-se com a melodia rica de beleza, de suavidade, de
esperança.
As ráfagas ora
brandas da alegria penetravam os casebres e os bordéis, as sinagogas e as ruas,
diminuindo a aspereza do sofrimento.
Os corpos em decomposição
refaziam-se ao delicado toque das Suas mãos, enquanto os olhos apagados
recuperavam a clara luz da visão, os ouvidos moucos se abriam aos sons e a
Natureza explodia em festa de perfume e de estesia.
Por onde Jesus passava
nada permanecia como antes.
O Messias do amor chegara
sem exércitos, sem clarins anunciadores, sem forças de impiedade e, por isso,
não foi bem recebido pela ímpia Judeia, pelos iludidos do mentiroso poder
temporal.
Seu incomparável canto
ainda prossegue, há dois mil anos incessantes, convidando com invulgar ternura:
- Vinde a mim e eu vos consolarei...
Incompreendido ainda
hoje, submetido às nefárias paixões dos séculos, imposto a ferro e a fogo no
passado, deixado ao abandono, jamais se apagou da memória da Humanidade que
sempre O tem necessitado.
E hoje, como naqueles
dias de turbulências e de incompreensões, de poder mentiroso e arrogância
doentia, a Sua música prossegue e é ouvida somente por aqueles que silenciam o
tormento, deleitando-se com o Seu convite e declaração graves: -É leve o meu
fardo e suave o meu jugo. Vinde!
Ele veio como uma
primavera de bênçãos para sempre e aguarda!
Divaldo Pereira Franco. Pelo Espírito Amélia Rodrigues.
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na reunião mediúnica de 31 de
julho de 2013, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.
Fonte: http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=347.
* * * Estude Kardec * * *
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