O Espírito encarnado perde a lembrança
do passado, porque o homem não pode nem deve saber de tudo. Sem o véu que lhe
oculta certas coisas, ficaria ofuscado. Esquecido de seu passado, ele é mais
senhor de si.
Quando o Espírito volta à vida anterior
(à vida espiritual) então diante de seus olhos se estende toda a sua vida
pretérita. Vê as faltas que cometeu e que deram causa ao seu sofrer, assim como
de que modo as teria evitado. Busca, então, uma nova existência capaz de
reparar a que vem transcorrer. Contudo, muitos Espíritos encarnados sabem o que
foram e o que faziam em existências anteriores. Para conhecermos o que fomos em
nossas vidas anteriores, é bastante que examinemos quais são as nossas
tendências instintivas, visto que as provas por que passa o Espírito, na Terra,
tem relação íntima com o que respeita ao seu passado.
A cada nova existência o homem tem mais
inteligência e pode melhor distinguir o bem e o mal. Onde estaria o seu mérito,
se ele se recordasse de todo o passado?
Quando o Espírito entra na sua vida de
origem (a vida espírita), toda a sua vida passada se desenrola diante dele; vê
as faltas cometidas e que são causa do seu sofrimento, bem como aquilo que
poderia tê-lo impedido de cometê-las; compreende a justiça da posição que lhe é
dada e procura então a existência necessária a reparar a que acaba de
escoar-se. Procura provas semelhantes aquelas porque passou, ou as lutas que
acredita apropriadas ao seu adiantamento, e pede a Espíritos que lhes são
superiores para o ajudarem na nova tarefa a empreender porque sabe que o
Espírito que lhe será dado por guia nessa nova existência procurará fazê-lo
reparar suas faltas, dando-lhe uma espécie de intuição das que ele cometeu.
Essa mesma intuição é o pensamento, o desejo criminoso que frequentemente, vos
assalta e ao qual resistis instintivamente, atribuindo a vossa resistência, na
maioria das vezes, aos princípios que recebestes de vossos pais, enquanto é a
voz da consciência que vos fala, e essa voz é a recordação do passado, voz que
vos adverte para não cairdes nas faltas anteriormente cometidas.
Nessa nova existência, se o Espírito
sofrer as suas provas com coragem e souber resistir, eleva-se a si próprio e
ascenderá na hierarquia dos Espíritos, quando voltar para o meio deles.
Existem mundos, cujos habitantes têm uma
lembrança muito clara e muito precisa de suas existências passadas. Esses,
podem e sabem apreciar a felicidade que Deus lhes permite saborear. Mas existem
outros mundos onde os habitantes, colocados em melhores condições, não tem
menos aborrecimentos, infelicidade mesmo; esses não apreciam sua felicidade
pelo fato mesmo de que não tem lembrança de um estado ainda mais infeliz. Se
eles não a apreciam como homens, apreciam-na como Espíritos.
Nem sempre podemos ter algumas
revelações sobre as nossas existências anteriores. Muitos sabem, entretanto, o
que foram e o que fizeram; se lhes fosse permitido dizê-lo abertamente, fariam
singulares revelações sobre o passado.
Algumas pessoas creem ter a vaga
lembrança de um passado desconhecido, vislumbrando como a imagem fugitiva de um
sonho que em vão se procura deter. Essa ideia algumas vezes é real; mas quase
sempre é também uma ilusão, contra a qual se deve precaver, pois pode ser o
efeito de uma imaginação superexcitada.
Nas existências corpóreas de natureza
mais elevada que a nossa, a lembrança das existências anteriores é mais
precisa, à medida que o corpo é menos material, recorda-se melhor. A lembrança
do passado é mais clara para aqueles que habitam os mundos de uma ordem
superior.
As tendências instintivas do homem,
sendo uma reminiscência do seu passado, pelo estudo dessas tendências ele
poderá reconhecer até certo ponto, as faltas que cometeu, mas é necessário ter
em conta a melhora que se possa ter operado no Espírito e as resoluções que ele
tomou no seu estado errante. A existência atual pode ser muito melhor que a
precedente.
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