domingo, 26 de novembro de 2017

Apoio Vivo



APOIO VIVO
"Tratamos aqui da coragem para o bem, porque o bem exige coragem para ser feito."
Atitude imperfeitamente conhecida, raramente praticada.
Não se constitui apenas de fé, não obstante a fé se lhe mantenha por raiz de sustentação.
Não é tão somente esperança, conquanto a esperança lhe assegure a seiva de força.
Tratamos aqui da coragem para o bem, porque o bem exige coragem para ser feito.
Enfeita-se o mal de mil modos com os adornos do bem, de tal sorte que para extirpá-lo da vida a fim de que o bem verdadeiro se levante na alma, é imprescindível, em muitas ocasiões, até mesmo a coragem de ser só, qual aconteceu com Jesus no último dia de sua luta pela verdade.
Em numerosas reencarnações, temos interpretado a coragem como sendo arremesso do espírito para a destruição.
Partilhamos guerras de extermínio, crueldades, delitos, depravações, arvorando-nos em campeões da coragem quando não passávamos de malfeitores acobertados pela falsa legalidade de estatutos forjados na base da delinqüência.
Convertíamos o clarão da crença em labaredas da violência, transfigurávamos o alimento da esperança em veneno da ambição desregrada e, no pressuposto de sermos firmes e corajosos, nada mais fazíamos que inventar a invigilância que nos impeliu à fossa das grandes culpas, em cujo lodo nos refocilamos durante séculos de sofrimento reparador.
Desse modo, aprendemos hoje com a Doutrina Espírita, a coragem que Jesus exemplificou, a expressar-se no valor moral de quem atribui a Deus todas as bênçãos da vida, para canalizar as bênçãos da própria vida a serviço da felicidade geral.
Coragem de apagar-nos e esquecer-nos, para que o ensinamento se estenda e triunfe soerguendo o nível de entendimento e elevação para todos, muito embora trabalhando e servindo constantemente sem nada pedir para nós.
Coragem de silenciar e coragem de falar no momento oportuno.
Coragem de fazer ou deixar de fazer, coerentes com o ensino do Mestre quando nos mostrou que uma só consciência tranqüila, na execução do dever ante a Providência Divina, pode mais que a multidão.
Coragem como apoio vivo capaz de viver para o bem dos outros e também de desencarnar, quando preciso, para que os outros não sejam dominados pelo mal que nos impõe a morte.
Coragem sim. Coragem de sermos bons e simples, afetuosos e leais, porque hoje entendemos, no Evangelho Restaurado, que bastam audácia e manha para dominar os outros, mas somente à custa da coragem que o Cristo nos legou é que conseguiremos a vitória em nós e sobre nós, para que nos coloquemos ao encontro da Grande Vida que estua além da vida terrestre.
pelo Espírito André Luiz - do livro Sol na Almas, médium Waldo Vieira, edição CEC

Uma certa Aracy



UMA CERTA ARACY
Eles se conheceram em Hamburgo, na Alemanha, às vésperas da Segunda Guerra Mundial.
Ele, menino pobre, viu na carreira diplomática uma maneira de conhecer o mundo.
Em 1934, prestou o concurso para o Itamaraty e foi ser cônsul adjunto na Alemanha.
Ela, paranaense, foi morar com uma tia na Alemanha, após a sua separação matrimonial.
Por dominar o idioma alemão, o inglês e o francês, fácil lhe foi conseguir uma nomeação para o consulado brasileiro em Hamburgo.
Acabou sendo encarregada da seção de vistos.
No ano de 1938, entrou em vigor, no Brasil, a célebre circular secreta 1.127, que restringia a entrada de judeus no país.
É aí que se revela o coração humanitário de Aracy.
Ela resolveu ignorar a circular que proibia a concessão de vistos a judeus.
Por sua conta e risco, à revelia das ordens do Itamaraty, continuou a preparar os processos de vistos a judeus.
Como despachava com o cônsul geral, ela colocava os vistos entre a papelada para as assinaturas.
Quantas vidas terá salvo das garras nazistas? Quantos descendentes de judeus andarão pelo nosso país, na atualidade, desconhecedores de que devem sua vida a essa extraordinária mulher?
Cônsul adjunto à época, seu futuro segundo marido, João Guimarães Rosa, não era responsável pelos vistos.
Mas sabia o que ela fazia e a apoiava.
Em Israel, no Museu do Holocausto, há uma placa em homenagem a essa excepcional brasileira.
Fica no bosque que tem o nome de Jardim dos justos entre as nações.
O nome dela consta da relação de 18 diplomatas que ajudaram a salvar judeus, durante a Segunda Guerra.
Aracy de Carvalho Guimarães Rosa é a única mulher.
Mas seu denodo, sua coragem não pararam aí.
Na vigência do infausto AI 5, já no Brasil, numa reunião de intelectuais e artistas, ela soube que um compositor era procurado pela ditadura militar.
Naquele ano de 1968, ela deu abrigo durante dois meses ao cantor e compositor que conseguiu, sem ser molestado, fugir para país vizinho.
Ela o escondeu no escritório de seu apartamento. Aquele mesmo local onde seu marido, João Guimarães Rosa, escrevera tanta história de coronel e jagunço.
Durante todos aqueles dias, o abrigado observava, da janela, a movimentação frenética do exército no quartel do Forte de Copacabana.
Reservada, Aracy enviuvou em 1967 e jamais voltou a se casar. Recusou-se a viver da glória de ter sido a mulher de um dos maiores escritores de todos os tempos.
Em verdade, ela tem suas próprias realizações para celebrar.
Hoje, aos 99 anos, pouco se recorda desse passado, cheio de coragem, aventura, determinação, romance, literatura e solidariedade.
Mas a sua história, os seus feitos merecem ser lidos por todos, ensinados nas escolas.
Nossas crianças, os cidadãos do Brasil necessitam de tais modelos para os dias que vivemos.
Seu marido a imortalizou em sua obra Grande sertão: veredas. Ao publicar a obra, não a dedicou a ela, doou a ela seu livro mais importante.
Aracy desafiou o nazismo, o estado novo de Getúlio Vargas e a ditadura militar dos anos 60.
Uma mulher que merece nossas homenagens. Uma brasileira de valor. Uma verdadeira cidadã do mundo.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Uma certa Aracy, um certo João, de René Daniel Decol, publicado
na Revista Gol(de bordo), de agosto 2007

Detalhes da ingratidão



DETALHES DA INGRATIDÃO
Conta-se que em Londres vivia um funcionário da limpeza pública chamado Mollygruber.
Idoso, era estimado por todos pelos valores morais que cultivava.
Uma manhã, quando recolhia o lixo do parque onde trabalhava, viu que um menino se debatia desesperadamente nas águas do lago. Logo percebeu que o garoto estava se afogando.
Pessoas se aglomeravam, assistindo curiosos, barulhentos, sem nada fazer em auxílio à criança.
O velho trabalhador, embora com suas dores reumáticas, se atirou na água gelada. Com dificuldade, trouxe o menino são e salvo, de volta às margens do lago.
Dada sua saúde precária, caiu desmaiado ali mesmo. A ambulância foi chamada e ele foi levado ao hospital.
Seu feito logo ganhou as páginas dos jornais.
Enquanto isso, a mãe do menino que fora salvo, chegou ao local e começou a examinar o filho, totalmente transtornada.
Em dado momento, olhou para a cabeça do menino e notou a falta do boné que ela dera de presente a ele, naquele dia.
Começou a gritar e a reclamar, dizendo que o velho roubara o bonezinho do seu filho.
E exigia que trouxessem de volta o boné. Como ninguém lhe atendesse o desejo, por totalmente descabido, ela foi até o hospital.
Nem se dera conta de que a vida de seu filho, o bem mais precioso, fora preservada. Que, graças a Deus, ele estava bem porque fora retirado da água, antes de ficar enregelado.
Não. O que ela queria era o bonezinho do garoto.
Chegando ao hospital, exigiu ver o velho que realizara o furto. Tanto gritou e fez escândalo, que o médico de plantão, indignado, lhe disse:
Se a senhora não deixar o nosso herói descansar e se recuperar em paz, eu chamo a polícia para prendê-la.
Com o choque, a mulher se calou e foi para casa.
No dia seguinte, o idoso trabalhador morreu. Os moradores da região, onde ele vinha servindo com retidão, há anos, inundaram o parque de flores e de letreiros com mensagens de gratidão.
Era a sincera homenagem a quem doou a própria vida para salvar uma criança desconhecida.
Por vezes, esquecemos de ser gratos a dádivas que nos são ofertadas.
Em vez de lembrarmos das alegrias que nos chegam, dos amigos que nos brindam com sua presença, lembramos somente da maldade com que fomos alcançados em algum momento.
Assim, um amigo nos oferece seu carinho e atenção por anos. Certo dia, em que ele não está bem, e nos dirige uma palavra infeliz, de imediato o descartamos de nossa convivência.
E, dali por diante, a todos os que encontrarmos, diremos da nossa mágoa, da agressão que recebemos, da má educação do ex-amigo.
Contudo, nos dias de felicidade e bem querer, não ficamos alardeando tudo o que aquela pessoa nos ofereceu.
Esquecemos de que passou a noite conosco, no hospital, quando nos acidentamos e nossos familiares estavam distantes.
Olvidamos que nos estendeu a carteira farta, nos dias das nossas necessidades, nunca pedindo pagamento dos dispêndios que teve conosco.
Não recordamos dos dias de alegria das férias compartilhadas, dos passeios realizados, dos momentos em que nos alimentou a alma com a sua alegria e disposição.
Pensamos somente no ato infeliz de um dia, de um instante.
Pensemos um pouco se, ante as bênçãos que nos chegam, não estamos agindo como aquela equivocada mãe.
Pensemos...
Redação do Momento Espírita com base em antiga história de Lobsang Rampa