quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Palavras Mortas

PALAVRAS MORTAS
            A concordância da dicção haverá de ser perfeita, em conjunto com a harmonia do olhar, sob a imensa proteção divina, que lhes favorece a simplicidade no canto da conversação. Existem as palavras boas que favorecem bons frutos, as negativas, que produzem frutos deteriorados e as mortas, sem sentindo, sem vida, sem nada. Falemos destas últimas, para que possamos isolar das nossas comunicações o inútil, para que o imprestável não nos perturbe no grande labor diário. Se queres conhecer a pessoa com quem estás te comunicando, observa bem o que ela fala, analisa suas frases. Sentirás com quem andas e poderás, sem julgá-la, auxiliá-la na medida das tuas possibilidades. Vejamos o que o apóstolo Mateus nos noticia, no capitulo vinte e seis, versículo setenta e três: “Logo depois aproximando-se os que ali estavam, disseram a Pedro: - verdadeiramente és também um deles, porque o teu modo de falar o denuncia”.
            Já notaste certamente as nossas intenções em inumeráveis escritos, muitos deles publicados em forma de livros pela graça do Senhor, e a nossa alegria será que as tuas palavras, leitor amigo, denunciem o teu estado interior reformado, a fonte que existe dentro de ti como água divina que jamais estancará.
            Trabalha e esforça-te continuamente para arrancar do teu íntimo as raízes que possam gerar palavras mortas e por vezes as que ofendem e caluniam, deixando somente aquelas que multiplicam a felicidade, estabelecem a paz e avançam com o progresso. No reino da palavra de luz, não haverá infecundidade; ela nasce e renasce eternamente, explodindo vida em todas as direções, criando e sustentando amor por todos os ambientes, multiplicando e ensejando a caridade como mãos de Deus na força do verbo. A tua boca é a tua ferramenta; inicia, ao começar o dia, o teu trabalho, e que tal início seja como uma prece ao Criador, pela vida que levas. E será melhor que nada peças, mas sim, agradeças o que já recebeste das mãos dadivosas e santas de Deus.
            Vigia o teu falar, como fazes com teu filho recém-nascido; vigia a tua fala, como costumas fazer com o teu soldo de difícil aquisição; vigia a tua pronúncia, como observas o que comes todos os dias. Porque elas, as palavras, são mais que o teu filho, maiores que o teu dinheiro e bem mais valiosas que os teus alimentos. A voz pertence à dinastia dos dons de ouro – que o Evangelho denomina talentos – e o empuxo dos sons que direcionamos aos outros, como sopro de vida, é aureolado pelos nossos sentimentos: quando vibra neles a força do amor, o ambiente nos faz esquecer a Terra e respirar, mesmo nela, a fragrância dos céus.
            Para o iniciado, desaparecem as distancias; quando quer falar a outro, não precisa servir-se do ar como veículo; serve-se da energia cósmica, que desconhece as barreiras do tempo e do espaço, tomando forma quase física aos ouvidos do receptor. Essa energia cósmica obedece à vontade emissora da mensagem.
            Os recursos da palavra são imensuráveis e estão ao alcance de todos, dependendo do esforço de cada um na sua necessária educação. Quem deseja aprimorar a sua voz, não deve deixar para outra oportunidade; deve começar logo, pois ela, bem orientada, ajudará a libertá-lo da atmosfera pesada da poluição mental, formada em torno de si e em torno da Terra, como acúmulos residuais de magnetismo inferior, influenciando sempre aos que o geraram.
            Não canses os outros com o teu muito falar; procura ouvir também com interesse os problemas alheios, sem que eles possam te afetar. No modo de ouvir e responder podes ajudar, se já dominas a tua força de sentir e já entendes a magia do falar. Vamos, que Deus está contigo!
Vigia o teu falar, como fazes com teu filho recém-nascido; vigia a tua fala, como costumas fazer com o teu soldo de difícil aquisição; vigia a tua pronúncia, como observas o que comes todos os dias.

Livro – Horizontes da Fala – Miramez / João Nunes Maia

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