OUVIR
ESTRELAS
O poeta e
jornalista Olavo Bilac, a quem devemos os emocionantes versos do Hino à
bandeira brasileira, escreveu inspiradamente:
“Ora
(direis) ouvir estrelas! Certo perdeste o senso" e eu vos direi, no
entanto, que, para ouvi-las muita vez desperto e abro as janelas, pálido de
espanto...
E
conversamos toda noite, enquanto a Via Láctea, como um pálio aberto, cintila.
E, ao vir o sol, saudoso e em pranto, inda as procuro pelo céu deserto.
Direis
agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido tem o que
dizes, quando não estão contigo?" e eu vos direi: "Amai para
entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender
estrelas".
O amor
nos dá um sentido novo.
Não nos
referimos apenas a ter significado a vida, mas um novo sentido, uma
sensibilidade a mais para compreender o mundo e as pessoas.
É essa
tal sensibilidade que nos faz capazes de entender melhor as razões da
existência, que nos faz compreender melhor o outro e seu mundo íntimo, que nos
faz olhar mais para os lados, menos para o chão, mais para céu.
Ouvir
estrelas é receber a vida e compreender Deus de forma mais suave, menos
complicada, mais apaixonada.
Sim, pois
para se entender e aceitar a vida é preciso estar apaixonado por ela.
Para se
entender e aceitar Deus faz-se necessário estar apaixonado por Ele, em primeiro
lugar. Senti-lO, antes de questioná-lO ou entendê-lO com a razão.
Ouvir
estrelas é perceber o que ninguém percebe. Num mundo de tantas informações, de
tantas notícias, é saber escolher o que desejamos saber ou não, quando
desejamos e quando não.
Ouvir
estrelas é ter tempo para olhar quem você ama demoradamente, num ato de
contemplação simples, sem razões, sem porquês...
Ouvir
estrelas é saber aceitar e aceitar-se, guardando no coração a certeza de que
tudo existe para o nosso bem, para nosso crescimento.
Ouvir
estrelas é chorar de compaixão pela dor do outro, mas não se afogar no lago
dessas lágrimas. É sair dele antes que flutuemos na água. É sair de nosso mundo
e conhecer o do outro, fazendo parte dele ativamente, e não apenas como
espectador.
Mas antes
é preciso amar... Sem o amor permanecemos surdos, e as estrelas mudas para nós
– adereços luxuosos para homens egocêntricos e insensíveis.
Ditoso
aquele que, ultrapassando a sua humanidade, ama com amplo amor os seus irmãos
em sofrimento!
Ditoso
aquele que ama, pois não conhece nem a miséria da alma, nem a do corpo. Tem
ligeiros os pés e vive como que transportado, fora de si mesmo.
Quando
Jesus pronunciou a divina palavra, amor, os povos se sobressaltaram, e os
mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.
E eu vos
direi: "Amai para entendê-las!
Pois só
quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas."
Redação do Momento Espírita, com citação do poema Ouvir
estrelas, de Olavo Bilac e com base no item 8, do cap.11, de O evangelho
segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. Feb. Do site: http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=3824&stat=0
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