O BICO DE GÁS
I
Naquela noite Vitalino
Caixeta discutira muito. Acaloradamente.
Opondo-se aos argumentos de
dois amigos, combatia a fé. Acreditava somente no que visse. Estudara
profundamente a anatomia e precisava apalpar para crer. Necessitava sentir,
ouvir, cheirar, analisar...
Por isso mesmo, estava
contrariado ao recolher-se.
A esposa demorou-se ainda um
tanto em luta pela ordem no apartamento estreito.
Acomodava os filhinhos,
atendia aos misteres da casa.
Mas, mesmo depois que Da.
Constância passou a ressonar, Vitalino prosseguia em solilóquio mental.
Não mudaria. Era homem
prático. Só renderia à evidência dos fatos. Queria fatos. Mais fatos. Mais
fatos para compreender os fatos.
Algo cansado, acabou
dormindo.
Dormiu e sonhou que se achava
diante de Rosalino, seu velho irmão desencarnado havia muitos anos...
II
Rosalino dizia convincente:
- “Meu caro, ouvimos-lhe as
considerações silenciosas.”
Realmente, as provas de
sobrevivência, muitas vezes, são difíceis. Mas, essa circunstância, só por só,
não lhe autoriza negá-la.
Veja bem.
Existe a fé automática,
inconsciente, sem comprovação. É a aceitação dos acontecimentos naturais, sem a
ajuda dos sentidos.
Em quanta coisa você confia
inteiramente sem proceder a qualquer exame!
Você não examina a
competência do motorista, mas viaja no veículo despreocupadamente...
Você não testa a resistência
do leito, cada noite, mas deita e dorme tranqüilo...
Você não vê os ingredientes
que lhe compõem a refeição, mas como sem medo...
Você não experimente a
segurança da casa bancária, mas confia-lhe os bens sem titubear...
Por outro lado, inúmeras
ocorrências perpassam-lhe na vida sem merecer-lhe estudo mais acurado.
Você não apalpa o ar, mas
respira o oxigênio sem susto...
Você não vê o vírus, mas sofre
a gripe...
Você não escuta muitas das
ondas sonoras que se entrecruzam à sua volta, mas ouve satisfeito os programas
radiofônicos...
Você não mediu o Universo,
metro a metro, mas reconhece o infinito da Criação...
Você não morreu ainda, mas
aceita a fatalidade do fenômeno da morte...
Igualmente, meu amigo, você
diz que não vê e não pega o Mundo Espiritual, mas..... ele.... existe...
Acorde para a verdade!
Acorde e viva!
Acorde e viva!
III
Como se impulsionado por
estranha força, Vitalino despertou no corpo físico.
O ambiente pesava. Fazia-se o
ar irrespirável. Algo sucedera de estranho...
Levantou-se estremunhado.
Procurou o berço das duas crianças. Ambas desacordadas.
Aflito, abre maquinalmente a
janela próxima e faz luz.
Somente aí descobre que a
esposa, distraída, deixara aberta a torneira do gás.
A família salvara-se a tempo.
E, passado o perigo, tomou
papel e lápis, escreveu todas as considerações que ouvira em sonho, e começou a
meditar...
Pelo Espírito Hilário Silva - Do livro: A Vida
Escreve,
Médiuns: Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.
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