Durante alguns dias permaneci no leito
de convalescente, combatendo, sob o carinho dos familiares, as impressões
nocivas que me dominavam o pensamento.
Antoninho, nosso primo, não se demorou
mais que um dia ao meu lado. Estava em regime de internato, no Parque dos
Meninos, e não devia adiar o regresso aos estudos. O médico, porém, visitou-me
todos os dias, no espaço de duas semanas, até que me retirei do quarto,
melhorado e bem disposto, apesar de enfraquecido.
Vovó Adélia e Tia Eunice, visivelmente
satisfeitas, acompanharam-me ao exterior, amparando-me nos primeiros passos.
Oh! Que alegria!...
Só então percebi que ambas residem numa
casa deliciosa e confortável.
Após atravessar pequeno corredor,
cheguei a espaçosa sala, bem mobiliada, parando, admirado, na porta cheia de
luz, que comunicava com o exterior.
Novo mundo descortinava-se à minha
vista.
A paisagem ambiente era bela e
prodigiosa. Bonitas casas, semelhantes de algum modo às nossas, apesar de serem
muito mais lindas, alinhavam-se, de espaço a espaço, com graça e encanto. Todas
elas cercavam-se de pequenos ou grandes jardins, ligados ao fundo por arvoredo
agradável aos olhos.
Concluí que os vegetais frutíferos
mereciam, em toda a parte, o mesmo carinho dispensado à flores.
Bandos de aves, de penugem brilhante,
vagueavam alegremente nos ares.
Na atmosfera pairava uma tranquilidade
que não tive ensejo de conhecer na Terra. Respirei, a longos sorvos, o ar puro
e leve.
A residência de vovó Adélia está rodeada
de flores diversas, predominando as de cor avermelhada, o que empresta ao
jardim um aspecto de permanente alegria. Disse vovó que tia Eunice foi
organizadora da plantação, fazendo a escolha das flores cultivadas.
Você, naturalmente, desejaria saber se
são iguais às que possuímos na Terra. Sim. Muitas parecem com as rosas, cravos
e miosótis que aí deixei, mas grande parte mostra diferenças, que não me será
possível descrever. Entre o jardim e o pomar da casa da vovó, por exemplo, há
dois caramanchões, cobertos com uma trepadeira cujas sementes eu gostaria de
enviar a mamãe.
Essa planta delicada projeta caprichos e compridos fios,
cobertos de folhas verde-escuro, entre as quais desabrocham pequeninas e
abundantes coroas de pétalas brancas, pintalgadas de rubro, as quais exalam
delicioso aroma. Aliás, os fios de folhas e as flores são tão perfumados e
belos que não encontro recursos para comparação.
Para se franco a você, nunca supus
houvesse lugar de tamanha beleza, depois da morte. Ante as minhas demonstrações
de assombro, esclareceu-me vovó que outras regiões existem, muito mais lindas
onde apenas podem penetrar as almas santificadas que utilizaram todo o tempo da
existência terrestre na prática do bem.
pelo
Espírito Neio Lúcio, Do Livro: Mensagens do Pequeno Morto, Médium: Francisco
Cândido Xavier.
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