terça-feira, 20 de agosto de 2013

O Consolador Prometido

Emmanuel, na obra “Cinquenta Anos Depois” (psicografada por Chico Xavier), conta sua reencarnação como Nestório (cinquenta anos depois de desencarnar como o senador Públio Lêntulos).

Apesar de Célia ser a personagem principal, Nestório é marcante. 

Abaixo segue a palestra proferida por ele em reunião cristã nas catacumbas.

Assumindo a responsabilidade da palavra, esta noite, recordo a minha infância para vos dizer que vi João, o apóstolo do Senhor, que, por  longos anos, iluminou a igreja de Éfeso!

O grande evangelista, nos seus arroubos de fé, falava-nos do céu e de suas visões consoladoras... Seu coração estava em permanente contacto com o do Mestre, de quem recebia a inspiração divina, como derradeiro discípulo na Terra, santificando-se as suas lições e as suas palavras com o sopro sublimado das verdades celestes!. .

Invoco estas reminiscências longínquas, para recordar que o Senhor é a misericórdia infinita. Na minha pobreza material e moral, não tenho vivido senão pela sua bondade inesgotável e quero invocar a sua assistência caridosa para o meu coração, neste momento.

Desde criança, tenho os olhos voltados para os sublimes ensinamentos do seu amor e parece-me, também, havê-lo visto no seu apostolado de luz, pela nossa redenção, na face escura da Terra. As vezes, como que impulsionado por um mecanismo de emoções maravilhosas, tenho a doce impressão de ainda o estar vendo junto ao Tiberíades, a ensinar a verdade e o amor, a humildade e a salvação!. . Figura-se-me, freqüentemente, que aquelas águas claras e sagradas cantam-me no coração um hino de eterna esperança e, apesar dos véus espessos da minha cegueira, sinto que o contemplo em Nazaré ou em Cafarnaum, em
Cesareia ou em Betsaida, arrebanhando as ovelhas desgarradas do seu aprisco.

Sim, irmãos, o Mestre nunca nos abandonou, no seu apostolado divino. Seu olhar percuciente vai buscar o pecador no mais recôndito socavão da iniqüidade, e é pela sua ternura infinita que conseguimos caminhar indenes nos desfiladeiros do crime e do infortúnio ! . . .

Por muito tempo, falou Nestório das suas lembranças mais gratas ao coração.

Sua infância na Grécia, as descrições suaves de João Evangelista aos discípulos queridos; as pregações e exemplos do Senhor, suas visões nos planos celestiais, as reminiscências do Presbítero Johanes, a quem o inesquecível apóstolo havia confiado os textos manuscritos do seu evangelho, era tudo exposto à assembléia pelo liberto, com as cores mais vivas e impressionantes.

Ouvia-lhe o auditório a palavra, comovido, como se os Espíritos, transportados ao pretérito nas asas da imaginação, estivessem contemplando todos os acontecimentos relacionados com a narrativa .

A própria Túlia Cevina, que não conhecia o Cristianismo senão pela rama, mostrava-se profundamente sensibilizada. Quanto a Célia, acolhia-o alegremente, admirando-lhe a coragem e a fé, em face da sua futurosa posição material junto de seu pai, e meditando, ao mesmo tempo, na circunstância de ele nunca haver revelado suas crenças, nem mesmo nas aulas que lhe ministrara, evidenciando assim o respeito que lhe mereciam as crenças alheias.

Depois de relatadas as reminiscências de Efeso com os seus vultos mais eminentes, falou para comentar a leitura da noite:

- Para tanger o ponto evangélico desta noite, lembremos que Jesus não podia condenar os laços humanos e sacrossantos da família, mas suas palavras, proferidas para a Eternidade, abrangem e abrangerão todas as situações e todos os séculos vindouros, de modo a demonstrar que a fraternidade é o seu alvo e que todos nós, homens e grupos, coletividades e povos, somos membros de uma comunidade universal, fraternidade, essa, que um dia nos integrará a todos como irmãos bem-amados, e para sempre.

Seus ensinamentos referiam-se àqueles que, cumprindo a vontade soberana e justa do Pai que está nos céus, marcham na vanguarda dos caminhos humanos, em demanda do seu reino de amor, cheio de belezas imperecíveis!

Os que sabem acatar, neste mundo, os desígnios de Deus, com humildade e tolerância, com resignação e com amor, chegarão mais depressa junto daquele que se nos revelou há cem anos como Caminho, Verdade e Vida! Esses Espíritos amorosos e justos, que se iluminaram interiormente pela compreensão e aplicação dos ensinos em toda a vida, estarão mais perto do seu coração misericordioso, cujas pulsações sagradas repercutem em nosso próprio ser, pela magnanimidade infinita que sentimos em torno de nossa alma, em todos os passos desta vida ! . .

Tais criaturas são desde já seus irmãos mais próximos, pela iluminação evangélica no cumprimento das leis do amor e do perdão.

Dentro, pois, dessas luzes prodigiosas da Verdade, sentimo-nos compelidos a dilatar o conceito de família no plano universalista, alijando o criminoso egoísmo que, por vezes, nos toma de assalto o coração, criando os germes da discórdia e do sofrimento no próprio lar.

Se um homem é a partícula divina da coletividade, o lar é a célula sagrada de todo o edifício da civilização. Um homem divorciado do bem e um lar envenenado pelos desvios do sentimento, operam os desequilíbrios singulares que atormentam os povos!. .

Jesus conhecia todas as nossas necessidades e ajuizou de nossa situação, não apenas em vista da época que passa, mas de todos os séculos do futuro. Acredito que o Evangelho não poderá ser integralmente compreendido em nossos tempos amargos de devassidão e decadência; todavia, enquanto as forças mais poderosas do mundo se concentram neste Império cheio de orgulho e impiedade, outras energias profundas trabalham o seu organismo atormentado, preparando o advento das civilizações do porvir.

Até agora, as águias romanas dominam todas as regiões e todos os mares; mas dia virá em que esses símbolos de ambição e tirania hão-de rolar dos seus pedestais, numa tempestade de cinzas e de sombras!. . Outros povos serão chamados a dirigir os movimentos do mundo. 
Mas, enquanto o espírito agressivo da guerra permanecer entre os homens, qual monstro de ruína e de sangue, é sinal de que as criaturas não se realizaram interiormente para serem os irmãos do Mestre, puros e pacíficos.

A Terra viverá as suas fases evolutivas de dor e de experiências dolorosas, até que a compreensão perfeita do Messias floresça em todo o mundo, para as almas.

Até agora, o Cristianismo tem medrado com as lágrimas e o sangue de seus mártires; mas os Espíritos do Senhor, cujas vozes ouvi na mocidade nas sagradas reuniões da igreja de Efeso, asseveravam aos discípulos de João que, não levará muito tempo, o proselitismo do Cristo será chamado a colaborar nas esferas políticas do mundo, para dissipar a treva e a confusão da sua rede de enganos..

Nessa época, meus irmãos, talvez que a doutrina do Mestre venha a sofrer o insulto daqueles que navegam no vasto oceano dos poderes terrestres cheios de vaidade e despotismo. É possível que espíritos turbulentos e endurecidos tentem subverter os valores da nossa fé, desvirtuando-a com as exterioridades do politeísmo, mas, ai dos que operarem semelhante atentado, em face das verdades que nos orientam e consolam ! . .

Nos esforços da fé, jamais esqueçamos a exortação do Senhor às mulheres de Jerusalém, que pranteavam ao vê-Lo avergado sob o madeiro infamante: - "Filhas de Jerusalém, não choreis por mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos, porque dias virão em que se dirá: - Ditosas as estéreis, ditosos os ventres que nunca geraram e os seios que nunca amamentaram! Por-se-ão todos os homens a dizer aos montes: Caí sobre nós! E às colinas: Cobri-nos! Porque, se assim procedem com o lenho verde, que se fará, então, com o lenho seco?!"

Ai de quantos abusarem em nome d’Aquele que nos assiste do Céu e conhece nossos mais recônditos pensamentos, pois, mais tarde, conforme o prometeu, a luz do Alto se derramará sobre toda a carne e a voz dos céus será ouvida na Terra, através dos mais doces ensinamentos e das mais elevadas profecias! Se falharem os homens, hão-de vir até nós os exércitos de seus anjos, atestando a sua misericórdia... 

E que, meus irmãos, o reino de Jesus deve ser fundado sobre os corações, sobre as almas, e não poderá conciliar-se nunca, neste mundo, com qualquer expressão política de egoísmo humano ou de doutrinas de violência, que estruturam os Estados da Terra!

O reino do Senhor sofrerá, por muito tempo, "a abominação do lugar santo", pela falsa interpretação dos homens, mas chegará a época em que a Humanidade, hoje decadente e corrompida, se sentirá a caminho de uma Jerusalém gloriosa e libertada!...

Guardemos na mente a convicção de que o reino de Jesus não 

está nos templos ou nos manuscritos materiais que o Tempo se incumbirá de aniquilar em sua passagem incessante e, sim, que os alicerces divinos têm de ser construídos no íntimo do homem, de modo que cada alma possa edificá-lo por si mesma, à custa de esforços e lágrimas, a caminho das moradas gloriosas do Infinito, onde nos aguardarão, depois da jornada, as bênçãos do Cordeiro de Deus, que se imolou na cruz, para nos redimir do infortúnio e do pecado!...

Depois de uma prece, Nestório terminava sob o olhar carinhoso e comovido de quantos lhe acompanharam a palavra fluente, através das considerações de ordem evangélica.

Alguns assistentes choravam, sensibilizados, casando as impressões do orador com as suas próprias.

Nessas assembléias primitivas, quando o messianismo doutrinário estava saturado de ensinamentos puros e simples, o expositor da Boa Nova era obrigado a elucidar os pontos evangélicos em relação com a vida prática de alguém que estivesse em dúvida.
Assim foi que, após a elocução, numerosos confrades se acercaram do prolator, solicitando-lhe a opinião fraterna e simples.


“50 Anos Depois” – Chico Xavier / Emmanuel

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