quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Na Glória do Natal

            Senhor – rei divino projetado às sombras da manjedoura -, diante do teu berço de palha, recordo-me de todos os conquistadores que te antecederam na Terra.
            Em rápida digressão, vejo Sesóstris, em seu carro triunfal, pisando escravos e vencidos, em nome do Egito sábio, e Cambises, rei dos persas, ocupando o vale do Nilo, antes poderoso e dominador.
            Reparo as lutas sanguinolentas dos assírios, disputando a hegemonia do seu império dividido e infeliz.
            Nabopolassar e Nabucodonosor reaparecerem à minha frente, arrastando Nínive e atacando Jerusalém, cercados de súditos a se banquetearem sobre presas misérrimas para desaparecerem, depois, num sudário de cinza.
            Não observo, contudo, apenas o gentio, na pilhagem e na discórdia, expandindo a própria ambição; o povo escolhido, apesar dos desígnios celestes que lhes fulguram na lei, entrega-se, de quando em quando, à sementeira de miséria e ruína; revoluções e conflitos ceifam as doze tribos, e orgulho desvairado compele irmãos ao extermínio de irmãos.
            Revejo os medas, açoitados pelos cimérios e citas.
            Dario surge, ao meu olhar assombrado, envolvido nos esplendores de Perséfolis para mergulhar-se, em seguida, nos labirintos do túmulo.
            Esparta e Atenas, entre códigos e espadas, se estraçalham mutuamente, no impulso de predomínios; numerosos tiranos, dentro de seus muros, manobram o cetro da governança, fomentando a humilhação e o luto.
            Alexandre, à maneira de privilegiado, passa esmagando cidades e multidões, deixando um cortejo de lágrimas atrás  da fanfarra guerreira que lhe abre caminho à morte, em plena mocidade.
            E os romanos, Senhor? Desde as alucinações dos descendentes de Príamo ao ultimo dos imperadores, deposto por Odoacro, jamais esconderam a vocação do poder, arrojando povos livres ao despenhadeiro da destruição...
            Todos os  conquistadores vieram e dominaram, surgindo na condição de pirilampos barulhentos, confundidos, à pressa, num turbilhão de desencanto e poeira, mas Tu, Soberano Senhor, te contentaste com o berço da estrebaria!
            Ministros e sábios não te contemplaram, na hora primeira, mas humildes pastores ajoelharam, sorridentes, diante de Ti, buscando a luz de teus olhos angelicais...
            Hinos de guerra não se fizeram ouvir à tua chegada libertadora; todavia, em sinal de reconhecimento, cânticos abençoados de louvor subiram ao Céu, dos corações singelos que te exaltavam a estrela gloriosa, a resplandecer nos constelados caminhos.
            Os outros, Senhor, conquistaram à custa de punhal e veneno, perseguição e força, usando exércitos e prisões, assassínio e tortura, traição e vingança, aviltamento e escravidão, títulos fantasiosos e arcas de ouro...
            Tu, entretanto, perdoando e amando, levantando e curando, modificaste a obra de todos os déspotas e legisladores que procediam do Egito e da Assíria, da Judéia e da Fenícia, da Grécia e de Roma, renovando o mundo inteiro.
            Não mobilizaste soldados, mas ensinaste a um punhado de homens valorosos a luminosa ciência do sacrifício e do amor. Não argumentaste com os reis e com os filósofos; no entanto, conversaste fraternalmente com alguma s crianças e mulheres humildes, semeando a compreensão superior da vida no coração popular...
            E por fim, Mestre, longe de escolheres sum trono de púrpura a fim de administrares o Reino divino de que te fizeste embaixador e  ordenador, preferiste o sólio da cruz, de cujos braços duros e tristes ainda nos endereças compassivo olhar, convidando-nos à caridade e à harmonia, ao entendimento e ao perdão...
            Conquistador das almas e governador do mundo, agora que os teus tutelados afiam as armas para novos duelos sangrentos, neste século de esplendores e trevas, de renovação e morticínio, de esperanças e desilusões, ajuda-nos a dobrar a cerviz orgulhosa, diante do Teu berço de palha singela!...
            Mestre da Verdade e do Bem, da Humildade e do Amor, permite que o astro sublime de Teu Natal brilhe, ainda, na noite de nossas almas e estende-nos caridosas mãos para que nos livremos das velhas feridas, marchando ao Teu encontro na verdadeira senda de redenção.
Irmão X
Antologia Mediúnica do Natal – Chico Xavier / Espíritos Diversos

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